Os manifestantes partiram do topo do Parque Eduardo VII perto das 13:00, em direção ao Ministério do Ambiente, enquanto cantavam a música “Ó rama, ó que linda rama”, do cancioneiro popular português, mas com uma letra adaptada para incluir os versos “vamos salvar os sobreiros, aqui e na terra inteira”.
Em causa está a declaração do Ministério do Ambiente da “imprescindível utilidade pública” do parque eólico de Morgavel, na zona de um bosque de montado de sobreiros, às portas do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, autorizando o abate de 1.821 exemplares daquela espécie de árvore, segundo um despacho publicado em Diário da República.
“Os sobreiros que vão ser abatidos já estavam cá antes sequer de o ministro [do Ambiente, Duarte Cordeiro] nascer e têm que continuar durante 100, 200 anos, que é o ciclo de vida do sobreiro. O Homem, seja ministro, seja EDP, seja quem for, não tem o direito de abater árvores, muito menos sobreiros, que estão protegidos por lei, são árvore nacional e considerados um dos símbolos da nossa ancestralidade”, disse aos jornalistas João Beles, do grupo de cidadãos “Vamos salvar os sobreiros”.
O promotor do protesto considerou que as medidas compensatórias propostas pela EDP – e aceites pelo Governo — que incluem a plantação de cerca de 40.000 sobreiros, são “uma falácia”, porque a capacidade de captação de dióxido de carbono (CO2) de um sobreiro bebé não se compara à de um adulto.
Adicionalmente, João Beles apontou que as árvores em causa estão saudáveis e que há pessoas que vivem da cortiça que elas produzem.
“As raízes da nossa história vão com as raízes daqueles sobreiros, portanto é muito mais do que um abate de sobreiros”, acrescentou.
Do mesmo movimento independente de cidadãos, Avani Ancok lembrou que o país está desertificado, tem os solos desnutridos e atravessa uma “seca terrível”, pelo que a preocupação devia ser plantar “milhares” de árvores, e não abatê-las.
Avani Ancok disse acreditar ser possível chegar ao diálogo com o Governo e a empresa promotora do projeto, para que seja revertido o despacho que autoriza o abate daquelas árvores.
Porém, se tal não acontecer, o grupo está já a aconselhar-se junto de advogados para avançar com o caso para tribunal e admite adotar ações de desobediência civil pacífica, para impedir o abate das árvores.
Em declarações à agência Lusa, Paulo Santos, da Quercus, um dos vários grupos ambientalistas que apoiam o grupo de cidadãos, considerou que “uma transição energética feita destruindo a natureza é uma incoerência e puro ‘greenwashing’ da parte do Governo e da parte da EDP”.
O anglicismo ‘greenwashing’ é usado para se referir à apropriação injustificada de preocupações ambientalistas por parte de organizações, para fins de ‘marketing’ e publicidade.
“O que está a acontecer eu acho que é lamentável, é um crime ambiental, não só por causa da questão dos sobreiros mas também por causa da águia pesqueira, por exemplo. Só há dois ninhos, um deles está nesta zona”, apontou Paulo Santos, reiterando que “tentar proteger a natureza, destruindo a natureza é uma hipocrisia e é ‘greenwashing'”.
No percurso entre o Parque Eduardo VII e o Ministério do Ambiente, na zona do Bairro Alto, onde entregaram um sobreiro bebé e uma carta a pedir a revogação da decisão, os manifestantes fizeram uma paragem na Avenida da Liberdade, onde plantaram um pequeno sobreiro em frente ao Cinema São Jorge.
Esta foi a segunda manifestação organizada pelo grupo de cidadãos “Vamos salvar os sobreiros”, depois de uma primeira concentração realizada em 15 de agosto na praia de Morgavel, em Sines, distrito de Setúbal, que, segundo os promotores, também juntou cerca de 200 pessoas.
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