"A violência (…) vai empurrar Hong Kong para um abismo e mergulhar a sociedade de Hong Kong numa situação preocupante e perigosa", afirmou Carrie Lam, em conferência de imprensa.
A líder do Governo acrescentou que o território está “seriamente ferido” e que vai levar “muito tempo a recuperar”, pedindo que “todos coloquem as diferenças de lado e se acalmem".
“Pensem por cinco minutos, pensem na nossa cidade, querem realmente que seja empurrada para o abismo?”, questionou Lam, com lágrimas nos olhos.
Os protestos, sem precedentes desde a transferência de soberania do Reino Unido para a China em 1997, levaram na segunda-feira ao cancelamento de todos os voos no aeroporto do território, depois de milhares de manifestantes pró-democracia terem invadido aquele que é um dos aeroportos mais movimentadas do mundo.
Cerca de cinco mil manifestantes, de acordo com a polícia, realizaram na segunda-feira o quarto dia de concentrações pacíficas na zona para chamar a atenção dos viajantes para o que consideram ser a violência desproporcionada da polícia na repressão dos protestos.
Ao longo da noite, os manifestantes saíram do aeroporto, sem intervenção da polícia. Um pequeno grupo continuava esta manhã nas instalações, já limpas de quaisquer bandeiras e cartazes, mas ainda com inscrições desenhadas nas paredes.
O tráfego aéreo foi já retomado no aeroporto de Hong Kong, apesar de os manifestantes terem anunciado que vão regressar ao local e retomar os protestos.
O encerramento do oitavo aeroporto internacional mais frequentado do mundo (74 milhões de passageiros em 2018), numa medida raramente aplicada, foi decidido na segunda-feira e no momento em que o Governo central chinês afirmava ver "sinais de terrorismo" na contestação que agita a região administrativa especial chinesa, desde o início de junho.
As declarações de Pequim representaram um nova escalada na crise política mais grave em Hong Kong desde a transferência de soberania do Reino Unido para a China, em 1997.
Num comentário publicado esta madrugada, a agência de notícias oficial chinesa Xinhua considerou que o futuro de Hong Kong atravessava "um momento crítico", enquanto dois meios de comunicação do Partido Comunista Chinês, Diário do Povo e Global Times, difundiram dois vídeos que mostravam veículos de transporte de tropas a dirigirem-se, alegadamente, para a zona económica especial chinesa de Shenzhen, adjacente a Hong Kong.
A contestação social foi desencadeada pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.
A proposta foi, entretanto, suspensa, mas as manifestações generalizaram-se e reivindicam agora medidas para a implementação do sufrágio universal no território, a demissão da atual chefe do Governo, uma investigação independente à violência policial e a libertação dos detidos ao longo dos protestos.
A transferência de Hong Kong e Macau para a República Popular da China, em 1997 e 1999, respetivamente, decorreu sob o princípio de "um país, dois sistemas", precisamente o que os opositores às alterações da lei garantem estar agora em causa.
Para as duas regiões administrativas especiais da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, sendo o Governo central chinês responsável pelas relações externas e defesa.
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