Na capital chilena, em Santiago, as ruas acordaram cercadas por uma quantidade de polícias maior do que o habitual para assegurar a ordem durante a manifestação que se estendia por toda a cidade. As homenagens, no entanto, foram manifestadas igualmente em outros pontos do país.
O Palácio La Moneda, sede do governo e alvo de bombardeamentos a 11 de setembro de 1973, foi o centro do primeiro ato oficial do dia com uma homenagem a Allende - liderado pela presidente socialista, Michelle Bachelet.
Na sede do governo ainda se podem ouvir ”os ecos do mais doloroso marco da nossa História recente", que “culminou com o retorno à democracia em 1990”, disse Bachelet num breve e emocionado discurso.
"Hoje, o Chile recorda o que ocorreu há 43 anos, aquilo que nunca mais voltará a acontecer, porque temos uma certeza irrenunciável (de que) enquanto a luz da memória continuar viva, ninguém será vencido, e ninguém será esquecido", afirmou a presidente.
Bachelet destacou os avanços em políticas de direitos humanos e assegurou que serão ampliados os espaços destinados a manter a memória do que sucedeu durante a vigência do regime. A presidente também anunciou que a Subsecretaria de Direitos Humanos, criada em dezembro passado, será instalada no final de 2016. A expectativa é que esteja funcionar em 2017.
#Chile: Milhares de pessoas marcham em #Santiago para homenagear as vítimas da ditadura militar. #43anosdelgolpe pic.twitter.com/IG2tnCtcxA
— #ForaCunha (@PersonalEscrito) 11 de setembro de 2016
Longo caminho a percorrer
Findo o discurso de Bachelet, teve início a marcha. Volvidos vários quilómetros, na chegada ao Cemitério Geral de Santiago, os familiares de desaparecidos, acompanhados de milhares de chilenos, puderam prestar homenagem aos mais de 3.200 mortos deixados pelo regime.
"Tenho 64 anos e todos os anos venho aqui lembrar os que morreram para que isso nunca mais volte a acontecer no Chile", declarou Sonia Zurita, à AFP. “Continuo à espera que, um dia, se faça justiça, e que tudo saia à luz e se condene os culpados", completou.
Um pedido de justiça que se concentrou, desta vez, em pedir o encerramento da Prisão de Punta Peuco, onde estão cerca de 100 ex-membros das Forças Armadas condenados por sequestro, tortura e assassinatos durante a ditadura.
Organizações de direitos humanos e familiares das vítimas denunciam que, nessa instituição, os antigos repressores têm grandes privilégios e vivem de forma luxuosa comparativamente com os presos comuns. Punta Peuco tornou-se um símbolo dos privilégios que os militares ainda mantêm.
Na marcha, fotos de centenas de desaparecidos, milhares de bandeiras com a imagem de Allende e enormes cartazes a pedir o encerramento de Punta Peuco eram embrenhados ao ritmo de tambores.
Quando apareceram alguns distúrbios provocados por alguns manifestantes, a Polícia reagiu com gás lacrimogéneo, atingindo também pessoas que tentavam, de forma pacífica, entrar no cemitério para depositar flores aos entes queridos. Entre elas, muitas famílias com crianças.
Como costuma acontecer nesta data, em Santiago e noutras regiões, é possível ver barricadas e confusões de pouca dimensão entre a meia-noite e as primeiras horas do dia, segundo informou a Polícia local.
Comentários