"Há casos de trabalhadores independentes ou por conta de outrem que há mais de dois meses e meio estão em casa para não terem de percorrer cerca de 400 quilómetros diários, em ambos sentidos, já que a fronteira mais próxima está em Quintanilha, no concelho de Bragança", contou à Lusa Eva Sales, uma advogada portuguesa a residir em Fermoselle (Espanha) com escritório em Mogadouro (Bragança).

O Planalto Mirandês tem três fronteiras com Espanha que ligam os territórios raianos de Mogadouro/Fermoselle, Miranda do Douro/Torregamones e Vimioso (Três Marras)/Alcanices que se encontram encerradas desde março, devido pandemia provocada pela covid-19, sendo que a única aberta à circulação para estes trabalhadores é a de Quintanilha, que dista cerca de 200 quilómetros destas localidades.

"Há pessoas de Bemposta e de outras aldeias vizinhas que trabalham em Espanha, em várias ramos de atividade, e que neste momento estão em casa sem rendimentos, devido às distâncias que têm de percorrer para irem trabalhar", vincou.

Eva Sales fez as contas e garante que de Fermoselle à fronteira de Quintanilha a distância é de cerca de 106 quilómetros. Depois de Quintanilha a Mogadouro são mais de 80 quilómetros.

"Temos de fazer cerca de 200 quilómetros para cada lado para podermos trabalhar. Isto não compensa e há pessoas que optaram por meter licença sem vencimento. Mais vale a pena ficar em casa porque só temos despesas ", concretizou.

Estes trabalhadores elaboraram um abaixo-assinado que conta com três dezenas de assinaturas reconhecidas, em que solicitam às autoridades a aberturas de um corredor duas vezes por dia para a passagem de trabalhadores fronteiriços.

"Não pretendemos a abertura total das fronteiras, antes um corredor destinado aos trabalhadores, com o devido controlo de pessoas e viaturas pelas autoridades dos dois países nestes territórios do interior", frisou Eva Sales.

Carlos Gomes, um português a trabalhar em Espanha e residente no Cardal do Douro, no concelho de Mogadouro, disse que antes fazia uma viagem de cerca de 12 quilómetros para se deslocar para o seu posto de trabalho e que agora tem de percorrer 400 quilómetros, uma situação que o levou a optar por ficar em casa.

"Tenho a minha vida toda parada. Os meus colegas estão trabalhar e eu não posso. Tenho de ir ao banco ou médico e não posso percorrer uma distância tão grande. É insuportável", lamentou o trabalhador da construção civil.

O presidente da Câmara de Mogadouro, Francisco Guimarães, disse que não vê inconveniente na abertura da fronteira de Bemposta, desde que seja para a circulação de trabalhares, quer do lado espanhol quer do lado português.

"Terá de haver uma fiscalização articulada por parte das autoridades policiais e sanitárias", sustentou.

O autarca de Mogadouro deixou a garantia que já fez chegar esta pretensão ao Governo.

Já o alcaide de Fermoselle, José Pilo Vicente, disse à Lusa que enviou uma missiva ao subdelegado do Governo de Espanha, em Zamora, a solicitar a abertura da fronteira de Bemposta, duas vezes por dia, para a passagem dos trabalhares fronteiriços.

"Não estamos a pedir a abertura total das fronteiras. Estamos a pedir que facilitem a passagem dos trabalhadores, numa altura em que no território de Castela e Leão (Espanha) as coisas estão a melhorar", vincou o alcaide de Fermoselle.

Segundo o responsável, há enfermeiras portuguesas que trabalham nos lares de Formoselhe que têm de fazer esta viagem para estar com as suas famílias.

O ministro da Administração Interna admitiu na sexta-feira que as fronteiras de Montalegre (Vila Real) e de Barrancos (Beja) possam reabrir, antes de 15 de junho, durante "algumas horas", para passagem de trabalhadores entre Portugal e Espanha.

Portugal contabiliza 1.330 mortos associados à covid-19 em 30.788 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia divulgado hoje.

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