No centro da capital, onde previsivelmente se faria o maior protesto (“Vamos fazer história”, dizia um cartaz) durante a tarde o número de manifestantes pouco ultrapassou a centena, número que foi diminuindo até à noite. A promessa era que dali os manifestantes iriam para a Assembleia da República, mas tal não aconteceu, sem que alguém soubesse explicar porquê.
Desorganizados no protesto e nas palavras de ordem, uma tentativa de cantar “Grândola Vila Morena” fez exaltar os ânimos no grupo, porque a música não era para ali, dizia um num discurso em megafone, com muito vernáculo pelo meio, largamente criticado por outros elementos.
Ainda assim ensaiaram-se com alguma adesão frases como “Tô farto de ser roubado” ou “Político é ladrão”, especialmente quando as televisões estavam em direto. Nada que parasse a saída lenta de manifestantes, subindo devagar a rua Braamcamp, junto da rotunda do Marquês de Pombal.
Cerca das 17:00 um dos manifestantes, por megafone, disse que lhe parecia que a polícia se prepara para avançar e que os iria obrigar a sair da rua.
“Não é bem assim”, respondeu uma voz. “Deixem-no falar”, disse outra. “Temos o direito de nos manifestar, não temos o direito de provocar desordem”, respondeu o homem do megafone. “Daqui não saio”, gritou alguém.
A essa hora instalara-se a confusão no Marquês de Pombal e o Corpo de Intervenção demorou só meia hora para começar a fazer o que um dos manifestantes tinha avisado: empurrar os manifestantes para o passeio exterior da rotunda, arrastar os que se tinham deitado na rua, cercá-los no passeio.
Pelo caminho caiu um idoso, que aparentemente só estava no lugar errado à hora errada, e foi levado de ambulância, com dores numa perna.
A “operação”, com os manifestantes sempre a cantar o Hino Nacional e a gritar “Portugal”, durou 15 minutos, todos filmados por dezenas de telemóveis, incluindo os que estavam deitados no chão, alguns provavelmente em direto nas redes sociais, outros fazendo comentários ou relatando o que se estava a passar. A palavra “vergonha” foi a mais transmitida.
Cerca das 18:00, ânimos mais serenos, começou lentamente a esvaziar-se mais a iniciativa, com a polícia a permitir a saída dos “coletes amarelos”, mas a impedir a entrada de outros.
Uma mulher acabada de chegar ao local exigiu várias vezes juntar-se ao grupo e perante a resistência da polícia avisou: “Se não posso passar posso pôr no Facebook”.
A estratégia de isolar os manifestantes resultou, e provavelmente o frio e o nevoeiro também ajudaram, estando no local menos de duas dezenas de pessoas com coletes amarelos, rodeadas por muitas mais dezenas de polícias, cerca das 19:00.
E, meia hora depois, a própria polícia começou a desmobilizar, primeiro o Corpo de Intervenção e depois a PSP, abrindo o círculo e deixando que se juntassem os “coletes amarelos” que ali passaram o dia e os que chegaram à noite.
Pelas 20:00 pouco ultrapassariam as duas dezenas ainda assim. A conversar no passeio. Na rua, com o trânsito a fluir normalmente, já sem polícias sequer, da confusão da tarde tinha ficado uma faixa dos manifestantes e um cachecol preto.
Os protestos dos "coletes amarelos" em Portugal foram convocados por vários grupos através das redes sociais, com inspiração nos movimentos contestatários em França, mas tiverem pouca adesão em todo o país.
Um dos grupos, Movimento Coletes Amarelos Portugal, num manifesto divulgado na quarta-feira, propõe uma redução de impostos na eletricidade, com incidência nas taxas de audiovisual e emissão de dióxido de carbono, uma diminuição do IVA e do IRC para as micro e pequenas empresas, bem como o fim do imposto sobre produtos petrolíferos e redução para metade do IVA sobre combustíveis.
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