Hoje ganhou o “sim” no referendo à inclusão da adesão à União Europeia (UE) como um objetivo nacional na Constituição da Moldova. Com uma percentagem pouco convincente de 50,39%, talvez seja desta que a Moldova volta a tentar a integração europeia.
A Moldova candidatou-se à adesão à UE em março de 2022, tendo-lhe sido concedido o estatuto de país candidato em junho do mesmo ano. Em dezembro de 2023, os dirigentes da UE decidiram iniciar as negociações de adesão.
Nas eleições presidenciais de domingo, que ocorreram em simultâneo com o referendo, a atual Presidente moldova, Maia Sandu, ficou em primeiro lugar (cerca de 42% dos votos) na primeira volta das eleições presidenciais, mas prepara-se para uma segunda volta difícil, a 3 de novembro, contra o candidato pró-russo Alexander Stoianoglo (26% dos votos).
O que pensa a Rússia de tudo isto?
A Rússia declarou hoje que os resultados das eleições presidenciais e do referendo sobre a adesão à União Europeia (UE) apresentam “anomalias” e levantam muitas questões.
"Foram observadas anomalias nos resultados da votação na Moldova devido ao aumento de votos a favor da [Presidente moldava Maia] Sandu e da integração europeia", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, na sua conferência telefónica diária.
Peskov referiu-se à mudança nos resultados da votação à medida que a contagem estava a avançar, o que ampliou a vantagem de Sandu sobre o seu adversário mais próximo, o pró-russo Alexander Stoianoglo, e com uma viragem a favor do “sim” no referendo sobre a entrada da Moldova na UE.
“Os indicadores que vemos hoje, que estamos a acompanhar, e a dinâmica das suas mudanças, com certeza, levantam muitas questões”, sublinhou.
O porta-voz do Kremlin acrescentou que é “difícil explicar o ritmo do aumento mecânico dos votos a favor de Sandu e a favor dos participantes no referendo que defendem a orientação pró União Europeia”.
“Qualquer observador que tenha a mínima compreensão da essência dos processos políticos pode detetar estas anomalias com o aumento destes votos”, insistiu.
Peskov pediu também a Maia Sandu que apresentasse provas de interferência estrangeira nos processos eleitorais, que denunciou na noite de domingo.
Após o início do escrutínio, que dava inicialmente uma clara vitória aos adversários da entrada da Moldova na União Europeia, Sandu denunciou a fraude.
"Temos provas e informações de que um grupo criminoso pretendia comprar 300 mil votos. Esta é uma fraude sem precedentes cujo objetivo é comprometer a democracia. O seu objetivo é semear o medo e o pânico na sociedade", afirmou a Presidente numa brevíssima aparição perante os meios de comunicação social.
Sandu sublinhou que “hoje, tal como nos últimos meses, a liberdade e a democracia na Moldova estão sob ataques sem precedentes”.
“Grupos criminosos, associados a forças estrangeiras, atacaram o nosso país com mentiras e propaganda (…). Não deixaremos de defender a liberdade e a democracia. Aguardaremos os resultados definitivos e voltaremos com soluções”, acrescentou.
O porta-voz do Kremlin indicou que se trata de uma “acusação bastante grave”, pelo que “deveriam ser apresentadas algumas provas ao público”.
O que diz a UE?
Também a Comissão Europeia denunciou hoje uma “interferência e intimidação sem precedentes”, por parte da Rússia, no referendo.
“Estivemos a acompanhar de muito perto as votações [de domingo], o referendo e as eleições presidenciais na Moldova. A Moldova é um parceiro muito importante da UE e é de assinalar que esta votação teve lugar sob uma interferência e intimidação sem precedentes por parte da Rússia e dos seus representantes, com o objetivo de desestabilizar os processos democráticos na República da Moldova”, reagiu o porta-voz do executivo comunitário para os Negócios Estrangeiros, Peter Stano.
“Estamos agora a aguardar o anúncio final dos resultados oficiais de ambas as votações e o anúncio dos observadores eleitorais da Comissão Central de Eleições, o que deverá acontecer esta tarde, e, depois disso, apresentaremos a nossa reação oficial”, acrescentou, falando na conferência de imprensa da Comissão Europeia, em Bruxelas.
“Obviamente que, no que toca à adesão da Moldova [à UE], continuamos a apoiar plenamente as suas ambições, as suas aspirações e os seus esforços”, garantiu Peter Stano.
Na abertura da sessão plenária desta segunda-feira no Parlamento Europeu, a presidente Roberta Metsola fez questão de salientar que era evidente que a Moldova tinha escolhido a Europa. "Eles escolheram a Europa", declarou.
Garantiu ainda que o Parlamento Europeu "condena a interferência nas eleições da Moldova e no referendo à entrada na União Europeia" garantido que a escolha dos cidadãos foi "o seu futuro, a esperança, a estabilidade e oportunidade" que a União lhes pode oferecer.
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