Os principais destaques da reunião do Infarmed

Situação epidemiológica no país

Depois de "quatro grandes ondas, ou picos", Portugal está "claramente no fim de uma fase pandémica", declarou Pedro Pinto Leite, da Direção-Geral da Saúde.

O responsável da DGS realçou o decréscimo de vários indicadores epidemiológicos, como a incidência de contágios, a positividade (testes positivos ao novo coronavírus), internamentos hospitalares e mortalidade, que, neste último caso, está "abaixo do limiar" definido pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças.

"A incidência tem uma tendência decrescente e já estamos abaixo dos 240 casos por 100 mil habitantes", acrescentou o perito. Essa tendência é observada em todas as regiões, porém é no Alentejo que este indicador está mais elevado.

"Não há nenhum concelho acima dos 960 casos por 100 mil habitantes", sublinhou.

A diminuição da incidência é acompanhada da diminuição da positividade. "Globalmente, a positividade é inferior a 4% em todas as regiões", destacou Pedro Pinto Leite.

Por cada cinco casos de covid-19 em enfermaria, quatro não tinham o esquema vacinal completo. No caso dos doentes em Unidades de Cuidados Incentivos, em cada 15 casos, 14 não tinham o esquema vacinal completo.

Para o futuro, Pedro Pinto Leite projetou três cenários, sendo que o menos grave pressupõe uma imunidade média de três anos e sem variante do coronavírus SARS-CoV-2 de preocupação e o mais grave que implica a circulação de uma estirpe de preocupação, uma imunidade média inferior e um "nível de resposta de mitigação".

O médico especialista em saúde pública alertou ainda para a necessidade de se manter a monitorização e vigilância epidemiológicas, apontando que os próximos outono e inverno trazem novos desafios, atendendo à baixa de temperaturas e a circulação de outros vírus respiratórios.

Transmissibilidade, efetividade da vacina contra a Covid-19 e cenários para o outono-inverno

Verifica-se uma "redução do número de R(t) muito acentuada". "Nunca tivemos com valores tão baixos de R(t) sem medidas de restrição muito acentuadas", salientou Baltazar Nunes, epidemiologista do Instituto Nacional Doutor Ricardo Jorge.

Este valor varia entre 0,80 e 0,84 em todas as regiões do continente.

Segundo o epidemiologista, dentro de duas semanas a um mês, Portugal deverá ver a taxa de incidência baixar para 60 casos por 100 mil habitantes, numa média a 14 dias, em todas as regiões do país, exceto o Algarve.

“As festividades podem coincidir com um período de menor efetividade da vacina”, realçou, ao lembrar que grupos prioritários já “foram vacinados no início do ano” 2021.

Nesse sentido, Baltazar Nunes explanou três cenários. Num cenário sem redução da efetividade vacinal, Portugal vai manter-se abaixo das linhas vermelhas — sem grande perturbação dos serviços de saúde.

Nos cenários 2 e 3, contemplando redução da efetividade vacinal a um ou três anos (respetivamente), o eventual aumento de transmissibilidade provocado pelo regresso às escolas e ao trabalho e época do Natal pode fazer o país ultrapassar as linhas vermelhas em dezembro (2021) e janeiro (2022).

Fatores a considerar nos cenários para o outono-inverno:

  • Manutenção e aumento da mobilidade (nº de contactos) devido à abertura das escolas, retorno ao trabalho presencial e festividades (Natal e Ano Novo) - cenários 1, 2 e 3
  • Seroprevalência por infeção até 17% - cenários 1, 2 e 3
  • Potencial redução da efetividade da vacina com o tempo - cenários 1 (3 anos), 2 e 3 (1 ano)
  • Surgimento de novas variantes do vírus com maior escape ao sistema imunitário - cenário 3
  • Outros fatores do outono-inverno - temperaturas baixas, gripe e outros vírus respiratórios

Vacinas e vacinação contra a Covid-19

Fátima Ventura, do Infarmed, revelou que está a ser avaliada pela EMA, a Agência Europeia do Medicamento, uma dose de reforço da Pfizer para pessoas acima dos 12 anos.

O reforço, nos maiores de 12 anos, deverá ser feito seis meses após a segunda dose

A especialista explicou que também que "ainda não foi submetida uma extensão da vacinação para menores de 12 anos, mas prevê-se que até ao final do ano seja submetida uma extensão para maiores de cinco anos".

Já Gouveia e Melo, coordenador da task force de vacinação, disse que Portugal já tem 86% da população com a primeira dose da vacina e 81,5% com vacinação completa.

"Pensamos atingir os 85% de vacinação completa no fim de setembro, quanto muito na primeira semana de outubro", garantiu o vice-almirante.

No entanto, no processo de vacinação estão ligeiramente atrasadas as regiões do Algarve, da Madeira e dos Açores.

Por vacinar estão "cerca de 400 mil pessoas". "Destas, 150 mil são recuperadas ainda não elegíveis para a vacinação", indicou Gouveia e Melo.

Ao todo, já foram administradas cerca de 15 milhões de vacinas e Portugal tem  1,1 milhão de vacinas de reserva — para uma terceira dose acima dos 65 anos, por exemplo.

Variantes

A variante Delta, que "domina desde maio", tem uma prevalência entre 98% e 100% há oito semanas consecutivas.

Não foi detetado em Portugal qualquer caso da variante Beta, associada à África do Sul.

Relativamente à variante Gama, esclarece João Paulo Gomes, investigador do Instituto Ricardo Jorge, após três semanas sem deteção, foi detetado um caso na região de Lisboa e Vale do Tejo na semana de 30 de agosto e 5 de setembro.

Não foram detetados casos das variantes  Lambda e Mu nas últimas quatro semanas. Relativamente a estas variantes, foram detetados dois casos da variante Lambda, um em abril e outro em junho, e 24 da variante Mu, entre 31 de maio e 31 de julho (em 17 distritos e 16 concelhos).

Proposta de medidas setembro 2021

Raquel Duarte, médica pneumologista da ARS Norte, Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto e Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, apresentou uma proposta de medidas.

A proposta de plano dos especialistas centra-se numa "transição entre o regime de obrigatoriedade das medidas para a responsabilidade civilizacional".

  • Antecipar a eventual necessidade de reforço massivo da vacinação;
  • Promover a testagem voluntária e gratuita — incluindo a população vacinada;
  • Manter o dever de apresentação do certificado digital em circunstâncias de maior risco — como unidades residenciais para idosos ou no controlo de fronteiras;
  • Monotorizar as variantes em circulação e da ventilação dos espaços fechados;
  • Os idosos devem ser um grupo prioritário para a terceira dose da vacina;
  • Nos transportes públicos, os especialistas recomendam que o uso de máscara deve ser obrigatório, deve ser promovido o distanciamento físico e as janelas devem estar sempre abertas para permitir a circulação do ar.

A terminar, Raquel Duarte fez questão de sublinhar que o país não deve entrar "numa fase de cancelamento das medidas, de todo".

"É fundamental que todos nós mantenhamos a vigilância e adotemos as medidas protetoras em função do risco”, enfatizou, sem deixar de apontar o caso especial dos transportes públicos, em que os peritos recomendam “a utilização obrigatória de máscara de forma transitória” devido “à impossibilidade de controlo de exposição ao risco”.

Perceção dos portugueses do risco da pandemia

A perceção dos portugueses do risco da pandemia baixou dos 66,6% em setembro de 2020 para os atuais 48,7%, apesar de atualmente se verificar uma maior incidência de infeções, afirmou a diretora da Escola Nacional de Saúde Pública.

“Apesar de termos incidências mais altas agora do que tínhamos em setembro de 2020, temos uma perceção de risco mais baixa”, adiantou Carla Nunes.

Segundo disse, o barómetro social da pandemia aponta, assim, para uma perceção de risco “que vai mudando ao longo do tempo”, devido à “habituação das pessoas” à pandemia de covid-19.

A especialista salientou ainda que se verifica uma clara distinção entre a utilização da máscara em espaços exteriores e interiores.

De acordo com o barómetro, a utilização da máscara em espaços fechados mantém-se elevada, com 70% dos participantes a referir que utiliza “sempre”, enquanto, nos espaços exteriores, tem-se verificado uma tendência de descida na utilização, com 39% dos participantes a utilizar “sempre”.

Verifica-se também uma redução da utilização de máscara quando os participantes estão com grupos de dez ou mais pessoas.

Relativamente às medidas implementadas pelo Governo no combate à covid-19, cerca de 74% dos participantes considera “adequadas” ou “muito adequadas”, uma tendência inversa à verificada em igual período do ano passado.

Quanto às expectativas em relação ao futuro, 86,7% dos participantes admitem que as restrições impostas pela pandemia se mantenham até ao próximo ano ou mesmo para sempre e mais de 75% tencionam manter a utilização de máscara enquanto medida de proteção, refere ainda o barómetro.