A Rússia, que reivindica o papel de árbitro no Cáucaso e que mantém tropas de manutenção da paz mobilizadas na região, afirmou que negociou um cessar-fogo entre os dois países, que entrou em vigor às 06:00 GMT (07:00 em Lisboa), mas a informação não foi confirmada até o momento por Baku ou Yerevan.

O ministério arménio da Defesa informou ao meio-dia (hora local) que a intensidade dos confrontos "diminuiu consideravelmente", mas que a situação é "muito tensa" em alguns pontos. "O inimigo continua a tentar avançar", afirmou o ministério.

Mais cedo, o primeiro-ministro arménio Nikol Pashinyan declarou no Parlamento que, "de momento, temos 49 mortos e, lamentavelmente, não é o número definitivo". Já o Azerbaijão reconheceu "baixas" nos confrontos, mas não divulgou um balanço.

Arménia e Azerbaijão, duas ex-repúblicas soviéticas rivais do Cáucaso, travaram duas guerras nas últimas três décadas pelo controlo da região de Nagorno-Karabakh, a última delas em 2020.

Os novos combates, que explodiram na segunda-feira à noite, demonstram como a situação é volátil e ameaçam acabar com o frágil processo de paz mediado pela União Europeia.

Pashinian denunciou uma "agressão" do Azerbaijão e, em conversas telefónicas durante a noite, pediu uma reação do presidente russo Vladimir Putin, do presidente francês Emmanuel Macron e do chefe da diplomacia americana Antony Blinken.

Nas ligações, Pashinian disse que espera "uma resposta apropriada da comunidade internacional", afirmou um comunicado do governo arménio. "Com esta escalada, o Azerbaijão está a minar o processo de paz" em curso entre Yerevan com a mediação da União Europeia, disse o primeiro-ministro arménio.

O Azerbaijão afirmou também nesta terça-feira que cumpriu os seus objetivos militares. "As provocações cometidas pelas forças arménias na fronteira foram evitadas e todos os objetivos necessários foram alcançados", disse o gabinete do presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, em comunicado divulgado após a reunião do presidente com chefes do Exército.

Na declaração, as autoridades de Baku colocam também "total responsabilidade" pelas "tensões" sobre os líderes políticos da Arménia.

O Kremlin afirmou que Putin está "pessoalmente envolvido e a fazer todos os esforços possíveis para ajudar a reduzir a tensão".

Já o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, ligou para os líderes do Azerbaijão e da Arménia para instá-los a chegar a um acordo de paz. Blinken disse a ambos que os Estados Unidos "pressionarão por uma cessação imediata dos combates e um acordo de paz entre a Arménia e o Azerbaijão", segundo o seu porta-voz, Ned Price.

O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, considerou "imperativo" o fim das hostilidades e o "retorno à mesa de negociações". "Todas as forças devem retornar às posições que ocupavam antes da escalada e o cessar-fogo deve ser plenamente respeitado", destacou em comunicado.

Borrell anunciou que o representante especial da UE, Toivo Klaar, viajará aos dois países para "apoiar a desescalada necessária e falar sobre os próximos passos no processo de diálogo de Bruxelas entre os líderes arménios e azeris".

Pouco antes do anúncio da morte dos soldados, o ministério arménio da Defesa afirmou que o exército do Azerbaijão, apoiado por artilharia e drones, estava a tentar entrar no seu território. "As forças do Azerbaijão continuam a usar artilharia, morteiros, drones e metralhadoras de grande calibre", indicou o ministério, que acusou o Azerbaijão de atacar "infraestruturas militares e civis".

O Azerbaijão acusou a Arménia de "atos subversivos em larga escala" e afirmou que os ataques das tropas de Yerevan provocaram "baixas" nas suas fileiras.

A Arménia denunciou um "bombardeamento intensivo" das suas posições pouco depois da meia-noite em várias localidades, incluindo Goris e Sotk.

O governo dos Estados Unidos expressou grande preocupação com a situação e pediu o fim imediato dos confrontos, ao passo que a França disse que levará o tema do conflito entre Arménia e Azerbaijão ao Conselho de Segurança da ONU.

Os países vizinhos travaram duas guerras, uma na década de 1990 e outra em 2020, em redor de Nagorno-Karabakh, enclave azeri com população arménia.

As seis semanas de combates em 2020 deixaram mais de 6.500 mortos e terminaram com um cessar-fogo mediado pela Rússia. Com o acordo, a Arménia cedeu partes do território que controlou durante décadas e Moscovo enviou quase 2.000 soldados para supervisionar a frágil trégua.