O tumulto teve início por volta de 12:20 (hora local, 15:20 em Lisboa) e a Polícia Militar recorreu ao uso de bombas de gás, gás pimenta e cassetetes para dispersar o público.

Os agentes da polícia fizeram ainda um cordão humano à volta do carro alegórico onde se encontravam a cantora e os seus convidados, que acabaram por dar por encerrado o concerto.

De acordo com a organização do evento, citada pelo jornal Globo, estariam a participar no bloco cerca de um milhão de pessoas.

O desfile aconteceu na Avenida Primeiro de Março, uma das principais avenidas do centro da cidade brasileira Rio de Janeiro.

O Carnaval carioca, que é considerado a maior festa a céu aberto do mundo, começou oficialmente na sexta-feira.

A segurança foi reforçada através de câmaras de segurança com reconhecimento facial e do controlo policial, sendo mobilizados diariamente 3.480 guardas para o sambódromo e 5.493 para as ruas, sendo que 430 veículos são utilizados exclusivamente para operações na via pública.

Carnaval do Rio busca nas raízes uma nova identidade para o Brasil

Memória da escravidão, críticas à intolerância religiosa e recuperação de expressões da cultura popular foram as respostas dos enredos à onda neoconservadora que há três anos pôs o ex-bispo Marcelo Crivella no comando da prefeitura do Rio e este ano Jair Bolsonaro na presidência do país.

A sucessão de carros alegóricos, as fantasias sofisticadas e a abundância de purpurina foram, como sempre, as armas com as que as escolas de samba despertaram o entusiasmo dos 72.000 espectadores reunidos no Sambódromo, na Avenida Marquês de Sapucaí.

A Mangueira propôs nos seus carros alegóricos uma revisão das lições da história escolar, desde a colonização europeia, apresentada como um cemitério de povos indígenas, até um grafite em frente a uma biblioteca que diz: "Ditadura assassina", um ataque frontal ao regime militar (1964-85).

Esta "história que a história não conta" prestou homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada há um ano. A sua viúva, Monica Benício, desfilou na última ala da Mangueira.

"A única vereadora negra que carregava no corpo todas as pautas que defendia, sendo mulher, negra, favelada, lésbica, foi executada. [Estar aqui] é uma forma de resistência, de cobrar justiça", disse Benício à AFP pouco antes do desfile.

A Vila Isabel também recordou Marielle ao celebrar o fim da escravidão num dos seus carros, no qual desfilaram familiares da vereadora que exibiram uma bandeira com a inscrição "Marielle presente".

Carnaval do Rio de Janeiro
créditos: CARL DE SOUZA / AFP

Regresso às raízes

Os desfiles da segunda noite foram abertos pela São Clemente, com um enredo que lamenta a mercantilização do carnaval, em detrimento das suas origens populares. No desfile, as mulheres da ala das baianas levavam nas suas saias rodadas um anúncio de aluguer.

O último carro alegórico da São Clemente criticou a prefeitura, que nos últimos três lhes cortou até 50% os recursos públicos destinados ao carnaval. "Alô prefeitura, o carnaval é nossa cultura", dizia um dos cartazes pendurados no carro.

A Portela, que este ano completa 96 anos, saiu em busca do seu 23º troféu com um desfile majestoso dedicado à cantora Clara Nunes, ícone musical dos anos 70 e primeira artista a defender publicamente as religiões afro-brasileiras.

Na noite anterior, o Salgueiro dedicou o seu enredo a Xangô, orixá da justiça, e fechou o desfile balançando bandeiras com mensagens contra a corrupção, a favor do feminismo, da igualdade, da liberdade e da diversidade sexual.

A Vila Isabel recordou o esplendor do Brasil imperial, ambientado em Petrópolis, na região serrana do Rio.

Paraíso do Tuiutí, vice-campeã em 2018, apresentou um irónico enredo intitulado "O salvador da pátria", encarnado em um bode Ioiô, "nordestino, barbudo, baixinho, de origem pobre, amado pelos humildes e por intelectuais, incomodou a elite e foi condenado a virar símbolo da identidade de um povo". Uma descrição que para muitos remete ao ex-presidente preso Luiz Inácio Lula da Silva.

*Com agências