“O espetro de José Sócrates atinge o PS desde o momento em que Sócrates foi preso preventivamente e vai continuar a atingir”, afirmou António Costa Pinto à agência Lusa quando questionado sobre se o antigo primeiro-ministro vai ser uma sombra no congresso, a realizar entre sexta-feira e domingo na Batalha, distrito de Leiria, e no período até às próximas eleições legislativas, em 2019.

Para o politólogo, esta situação “vai depender muito de fatores conjunturais”, como a eventualidade de o ex-governante fazer declarações ou se as sessões de um possível julgamento coincidirem com a proximidade do ato eleitoral.

“José Sócrates é sempre espetro e vai continuar a ser para o PS. Já foi em 2015 e vai continuar a ser em 2019, até porque é muito provável que o julgamento finalmente se inicie, provavelmente antes ou eventualmente durante a proximidade do processo eleitoral”, disse.

Já o politólogo Carlos Jalali, professor de Ciência Política na Universidade de Aveiro, observou que, embora o caso Sócrates esteja na vida política “desde há algum tempo”, é uma questão que “não vai ter necessariamente uma grande saliência e visibilidade” nas “posições e intervenções oficiais” no congresso.

A este propósito, lembra “a linha que foi demarcada muito claramente” pelo secretário-geral socialista, António Costa, num outro congresso – o caso de José Sócrates “eclodiu pouco antes de um congresso do PS” - com o “célebre ‘sms’ enviado aos militantes que dizia para separar-se a questão política da questão judicial”.

“Eu creio que essa lógica continuará a ser a lógica dominante dentro do PS”, declarou Carlos Jalali, destacando que, “obviamente, a desvinculação de Sócrates do partido retira um pouco a pressão sobre o PS”.

Ainda assim, o politólogo nota que “este será sempre um caso que estará também em pano de fundo” nos diálogos extra congresso.

Sobre se o caso judicial envolvendo Sócrates pode ser um travão a uma hipotética maioria absoluta do PS no próximo ano, António Costa Pinto sustentou que “não é de crer que José Sócrates por si seja um problema”, notando que “a maioria absoluta do PS é uma exceção”.

“Muito embora o ambiente económico seja favorável a um bom resultado do PS, convém não esquecer que a base de partida são 32%”, declarou, para acrescentar que “não será um fator exclusivamente José Sócrates” a influenciar as eleições.

Contudo, o politólogo do Instituto Ciências Sociais da Universidade de Lisboa faz uma ressalva: “Se, por exemplo, a José Sócrates se acrescentasse numa conjuntura eleitoral um novo caso Pinho [Manuel Pinho, ex-ministro da Economia no Governo de Sócrates] ou outros que envolvam figuras cimeiras de governos socialistas, evidentemente, que isso tem um impacto e esse impacto será sempre negativo para o PS”.

Ainda assim, salienta que o caso José Sócrates é “já antigo” e “quase tudo foi dito” sobre o ex-governante, havendo ainda que “descontar o facto” de aquele ter a sua vida política associada ao PS desde 2014, ano em que em novembro foi detido.

Por seu turno, Carlos Jalali apontou a dificuldade em “antecipar o efeito deste caso” nas eleições, porque “vai depender dos ‘timings’” do processo judicial.

“Se há uma decisão antes das eleições, se essa decisão é uma condenação ou não, há aqui uma série de variáveis que não dependem do contexto político”, referiu, realçando que “a estratégia do PS foi claramente demarcar-se deste caso desde o início, não ter uma posição de interferência” e “tentar blindar este Governo desse caso”.

“Aquilo que as sondagens que temos apontam é que, em geral, o PS surge à frente. Agora até às eleições legislativas muito tempo ainda irá decorrer, muitas questões poderão ainda surgir que podem alterar esse padrão”, adiantou.

José Sócrates, único líder do PS a conseguir uma maioria absoluta, foi primeiro-ministro entre 2005 e 2011. Foi acusado pelo Ministério Público, no âmbito da Operação Marquês – investigação devido à qual esteve em prisão preventiva e, depois, domiciliária -, de 31 crimes, incluindo corrupção passiva e branqueamento de capitais.

No início deste mês, num texto publicado no Jornal de Notícias, anunciou a sua desvinculação do PS, de que chegou a ser secretário-geral.