Numa carta dirigida ao embaixador de Portugal em Washington, Francisco Duarte Lopes, o conselheiro das Comunidades, também conhecido como Frank Ferreira, pede “uma reunião de emergência do Conselho Consultivo, na próxima semana, para obter informações sobre os chamados ‘planos de contingência’” do executivo português face a eventuais deportações dos seus cidadãos.
Na carta, a que a Lusa teve acesso, o representante no Conselho das Comunidades, órgão consultivo do Governo para a emigração, alude ao “medo real que reina em muitas partes” e à “falta de informação exata e oficial sobre os direitos individuais”, bem como a “números contraditórios de potenciais deportados”, indicando dados de fontes credíveis que variam entre 900 e 3.600.
Apontando “falta de informação sobre os pormenores do ‘plano de contingência’” do Governo português, Mário Francisco Ferreira pede a presença na reunião do ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, e do secretário de Estados das Comunidades, José Cesário.
Do mesmo modo, sugere que sejam convidados os deputados eleitos pelo círculo Fora da Europa, Manuel Magno Alves e Flávio Martins, além de cônsules e cônsules honorários nos Estados Unidos, os membros do Conselho das Comunidades e outros líderes comunitários neste país e a imprensa.
O representante em Washington solicita ainda que seja “afixada e exibida de forma proeminente na página inicial da Embaixada uma mensagem relacionada com este assunto”, que deverá prestar informações oficiais sobre os direitos individuais e os recursos disponíveis, bem como uma “linha direta de emergência” por telefone e correio eletrónico.
Em 25 de janeiro, Mário Francisco Ferreira já tinha acusado o Governo português de falta de respostas e orientações, face aos planos do Presidente norte-americano para deportações em massa de imigrantes ilegais.
"É inaceitável que o Governo português não esteja a encarar esta questão com a seriedade que ela merece. Mais lamentável ainda é o facto de ter pedido orientação ao chefe de gabinete do primeiro-ministro, embaixador de Portugal e ao secretário das Comunidades Portuguesas e não ter recebido nenhuma", afirmou à Lusa.
Apesar das várias questões sobre o assunto, o conselheiro criticava na altura a falta de respostas: "Tudo o que sei é graças à imprensa portuguesa", lamentou.
No seu discurso de tomada de posse, em 20 de janeiro, Donald Trump afirmou que iria expulsar "milhões e milhões" de imigrantes ilegais, uma das principais promessas da sua campanha eleitoral, durante a qual prometeu levar a cabo a "maior deportação em massa da história" do país.
Há cerca de 11 milhões de imigrantes indocumentados nos Estados Unidos, segundo estimativas do Departamento de Segurança Interna de 2022, o ano mais recente com dados disponíveis — embora Trump tenha afirmado, sem demonstração, que o número real é cerca do dobro.
Na semana passada, o ministro dos Negócios Estrangeiros afirmou que ainda não foram deportados portugueses ou lusovenezuelanos dos Estados Unidos, desde que Donald Trump anunciou a sua campanha de deportações, e disse que, se regressarem, terão “um acompanhamento próprio”.
Paulo Rangel falava na Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas, em resposta ao deputado socialista Paulo Pisco, que acusou o Governo de “desvalorização da situação”.
“Há uma situação de verdadeiro terror, de medo por parte da comunidade portuguesa que está nos vários estados dos Estados Unidos e que têm medo de sair à rua”, descreveu Pisco.
Rangel recusou visões “catastróficas” e referiu que o Governo português está a acompanhar, "ao milímetro, através dos postos consulares, das embaixadas e do Ministério dos Negócios Estrangeiros, a situação dos portugueses indocumentados e ilegais”.
O ministro indicou que o executivo já tem uma ideia de quantos portugueses se encontram nesta situação, escusando-se a revelar um número.
Rangel subscreveu as preocupações de Paulo Pisco em relação ao impacto que a “incerteza” tem nestes portugueses, afirmando que a mesma “é perturbadora e exige ação da parte do apoio português”.
“Estamos a preparar e a acompanhar dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, a situação”, afirmou o governante, acrescentando: “Não passa pela cabeça de ninguém que o Governo português e os serviços periféricos do Governo português tenham abandonado esses portugueses”.
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