Num evento organizado virtualmente pelo ‘think tank’ (grupo de reflexão) European Policy Centre, de balanço da presidência alemã no segundo semestre deste ano e perspetivando os grandes desafios para 2021, o representante permanente da Alemanha junto da UE, Michael Clauss, abordou as dificuldades acrescidas que representa trabalhar no atual contexto da pandemia e disse acreditar que Portugal enfrentará “os mesmos constrangimentos e desafios” que Berlim.
Fazendo um balanço ainda assim positivo do semestre, sobretudo face ao sucesso das negociações em torno do pacote de recuperação da UE para superar a crise da covid-19, o embaixador da Alemanha junto da UE admitiu, no entanto, que esta foi “uma presidência corona”, que forçou a traçar novas prioridades no programa de trabalhos inicialmente pensado e dificultou entendimentos, tendo mesmo levando a atrasos em vários dossiês, que a presidência portuguesa herdará.
“Foi em grande medida uma «presidência corona", dado o impacto [da pandemia] no trabalho diário”, disse, apontando que a presidência alemã não só teve de “estabelecer novas prioridades”, centradas na resposta coordenada à covid-19, como se viu forçada a reduzir substancialmente as reuniões presenciais, o que, admitiu, “tem um impacto no processo de tomada de decisão e atrasou compromissos em várias áreas, sem dúvida”, já que através de videoconferências é muito mais difícil forjar consensos.
Segundo Michael Clauss, este semestre “foi uma constante gestão de crise”, o que não quer dizer que não tenham sido alcançados progressos noutras áreas, como nas novas metas climáticas e no combate ao terrorismo, matérias em torno das quais houve acordo a 27 já na ‘reta final’ do semestre.
Contudo, lembrou que a pandemia levou, por exemplo, ao cancelamento de cimeiras de alto nível – com China, mas também com África -, atrasou bastante a discussão sobre o novo Pacto para as Migrações, que a Comissão acabou por apresentar apenas no final de setembro, e impediu o lançamento este ano, tal com previsto, da Conferência sobre o Futuro da Europa, matérias que transitarão então para o próximo semestre..
Questionado pela Lusa sobre as suas expectativas para a presidência portuguesa, que terá início em 01 de janeiro próximo, o embaixador deixou então o aviso sobre as difíceis condições de trabalho que Portugal deverá encontrar.
“Penso que irão enfrentar os mesmos constrangimentos e desafios que nós. Será também uma ‘presidência corona’, porque a situação não deverá mudar nos próximos meses. Terão de esperar muita improvisação”, disse.
Recentemente, a secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Ana Paula Zacarias, comentou que, no contexto da pandemia, a presidência portuguesa será necessariamente resiliente, mas também digital.
A necessidade de adaptação às restrições inerentes à crise pandémica obrigará Portugal a “um enorme trabalho” para responder aos desafios organizativos e para ter “uma presidência digital à séria”, com epicentro no Centro Cultural de Belém, mas sem excluir “reuniões presenciais de forma descentralizada” por todo o país, inclusive nas regiões autónomas.
A presidência portuguesa da UE tem como prioridades a Europa Resiliente, capaz de resistir a crises não apenas economicamente como ao nível dos valores europeus, a Europa Social, com o modelo social como fator de crescimento económico, a Europa Verde, líder mundial no combate às alterações climáticas, a Europa Digital, pronta para enfrentar a transição tecnológica a nível económico e de proteção dos direitos dos cidadãos, e a Europa Global, assente na aposta no multilateralismo.
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