“Essa é uma mensagem absolutamente extraordinária, de como no espaço tão curto de uma vida, no espaço tão curto de duas gerações, é possível passar daquela realidade da Azinhaga ao triunfo do Nobel, através de uma coisa simples, que é aprender a ler e aprender a escrever”, afirmou António Costa.
Para o chefe de Governo, essa é “uma mensagem hoje ainda muito atual”, até ainda “mais atual” quando já não basta saber ler e escrever, a ideia de que “o conhecimento transforma a vida e, ao transformar a vida, transforma o mundo”.
António Costa falava na Fundação José Saramago, terminando um périplo pelos lugares marcantes da vida do escritor, que o levaram à ilha espanhola de Lanzarote, no sábado, e hoje a Azinhaga do Ribatejo, no distrito de Setúbal.
Foi no polo da fundação na terra natal de Saramago, onde o autor aprendeu “o que era o mundo, a exploração, a diferença”, que o primeiro-ministro encontrou o “contraste fantástico” entre “a fotografia do seu avô Jerónimo e da sua avó Josefa, com os traços vincados, marcados na pele, da dureza do trabalho rural” e, ao lado, a “solenidade e o fausto de Estocolmo, recebendo das mãos do rei da Suécia o prémio Nobel”.
“Entre aquelas duas fotografias, há toda uma história da importância do que é o conhecimento, do que é o aprender, do que é o saber ler, do que é o poder escrever, do que é o poder conhecer aquilo que é o mundo”, apontou.
Costa assinalou que Saramago quando recebeu o Nobel sentiu a “necessidade de explicar que tudo tinha começado ali, que o homem mais sábio que ele tinha conhecido era precisamente aquele avô, que não sabia ler, não sabia escrever, mas que sabia que era fantástico dormir no verão por debaixo de uma figueira, e contar-lhe debaixo da figueira histórias fantásticas”.
O primeiro-ministro apelou à continuação do trabalho da Fundação José Saramago para que mantenha “viva a obra” do único autor de língua portuguesa a receber o Nobel da Literatura.
Falando perante o ministro da Cultura e a presidente da Fundação e viúva de Saramago, Pilar del Rio, António Costa tinha primeiro visitado a exposição patente na Casa do Bicos, sede da Fundação Saramago, cuja instalação em Lisboa naquele edifício foi uma decisão em que participou enquanto presidente da Câmara da capital.
À chegada, o primeiro-ministro depôs um ramo de cravos vermelhos junto da oliveira onde foram enterradas as cinzas do escritor, à sombra da qual ouviu depois uma leitura de excertos do romance “História do Cerco de Lisboa”.
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