No debate quinzenal, no parlamento, Assunção Cristas insistiu com António Costa para saber se condenava ou não “os atos de vandalismo” que aconteceram nos distritos de Lisboa e de Setúbal durante a semana e se “defende a autoridade da polícia”.

O chefe do Governo, que confessou que “a paciência tem limites” por causa das perguntas de Cristas sobre a Caixa Geral de Depósitos, deu a resposta numa frase.

“Está a olhar para mim… Deve ser pela cor da minha pele que me pergunta se condeno ou não condeno”, disse António Costa, o que deu origem a uma "pateada” na bancada do CDS e do PSD e aplausos na do PS.

O presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, fez então uma advertência aos deputados, mas também a António Costa.

“Temos todos que ter calma e moderação, deputados e o senhor primeiro-ministro. Peço que este tipo de conclusões não sejam usadas neste debate”, afirmou.

Quando voltou a tomar a palavra, Assunção Cristas respondeu apenas: “Não respondo ao seu comentário. Fiquei com vergonha alheia.”

Antes, a deputada centrista mostrou, uma a uma, várias cópias de notícias sobre os disturbios e actos de violência em Lisboa e Setúbal, na última semana, dias depois da ação policial no Bairro Jamaica, no Seixal, em que os moradoras se queixaram de excessos por parte dos agentes da PSP.

E disse que se orgulha, "como todos os portugueses", de Portugal ser um dos países mais seguros do mundo.

Costa acusa Cristas de "esgotar a paciência a um santo" sobre CGD

“Eu indigno-me. A paciência tem limites”, afirmou António Costa, depois de ouvir Assunção Cristas no debate quinzenal no parlamento dizer “ser estranho” que o Governo “não queira saber” as conclusões da versão preliminar do relatório sobre a CGD, em que se analisam alegadas perdas de mais de mil milhões de euros em empréstimos de risco.

O parlamento “tem todo o dever de escrutinar tudo o que levou a Caixa a situações difíceis” e contribuiu para levar “o país à bancarrota” em 2011, na expressão de Cristas, recordando que o atual primeiro-ministro pertenceu ao Governo de José Sócrates.

Na primeira resposta, Costa referiu-se “ao mistério” de saber por que motivo Assunção Cristas, que foi ministra no anterior executivo PSD/CDS, “não pediu” uma auditoria, e “teve que ser este Governo” a fazê-lo.

“A senhora deputada era ministra de um Governo que, em 2012, injetou mais de 1.500 milhões de euros na CGD, sem fazer qualquer auditoria. Deu uma entrevista ao jornal Público onde, com o maior desplante e à vontade e total inconsciência, disse que o BES, o Banif e a CGD nunca foram discutidos num conselho de ministros”, disse António Costa.

“Devia aplaudir e não criticar”, afirmou, aconselhando Cristas a apontar “à sua ex-colega” Maria Luís Albuquerque, ex-ministra das Finanças, "que nada fez e não pediu a auditoria".

E criticou ainda a “irresponsabilidade, impreparação e inconsciência” de Cristas por ter dito que tinha aprovado “o projeto da resolução do BES, sem o ler, à saída da praia”.

“Esgota a paciência de um santo, ainda vir falar da banca”, atirou.

A vozearia nas bancadas era já grande e a líder dos centristas anotou que o “tom exaltado” de Costa “só mostra que o tema é incómodo para o PS” e é um problema com os “colegas de Governo” que “levaram o país à bancarrota”.

Assunção Cristas disse ainda que se orgulha de ter pertencido ao Governo que “tirou o país da bancarrota socialista em que o senhor ajudou a meter” o país.

"Qual é o seu problema? Ter feito parte do governo de José Sócrates que levou o país à bancarrota?", questionou Cristas.

Outro tema do debate entre os dois voltou a ser a saúde com a líder dos centristas a repetir a pergunta ao primeiro-ministro se vai acabar com a gestão privada de quatro hospitais, com bom desempenho, apenas por uma questão ideológica.

O chefe do Governo respondeu com a ideologia, ao dizer: "Foi graças à ideologia que temos um Serviço Nacional de Saúde público e tendencialmente gratuito. Foi pela ideologia que o seu partido votou contra".

Perante a insistência de Cristas, Costa clarificou que será feita "uma avaliação" e que "o que for bom" continuará, "o que for mau não" continuará.