À saída de uma reunião com o presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, Costa apontou que a série de encontros mantidos entre segunda-feira e hoje em Estrasburgo teve como objetivo abordar desde já os preparativos da presidência portuguesa da UE, no primeiro semestre de 2021 – “parecendo que não, falta só um ano”, observou -, mas também “algumas questões mais urgentes e prementes, como a necessidade de aprovação do novo quadro financeiro plurianual”, que constitua um bom acordo para a Europa e para Portugal.

“Este é um debate que vai prosseguir. Receio que não cheguemos a acordo no próximo Conselho [Europeu] de dezembro, mas seria muito mau para a Europa se deixássemos passar a presidência croata [no primeiro semestre de 2021] sem que houvesse um acordo final que nos permitisse desde já começar a trabalhar nos regulamentos e aquilo que permite assegurar uma transição entre os dois quadros”, declarou.

O chefe de Governo reforçou que, “para a economia europeia, seria péssimo que houvesse uma descontinuidade entre os dois quadros” - o orçamento plurianual ainda em vigor (2014-2020) e o de 2021-2027 -, tal como sucedeu nas negociações do anterior quadro financeiro.

“Nós tivemos essa experiencia há sete anos atrás, sabemos bem o quanto isso comprometeu a recuperação económica portuguesa e, num momento em que a Europa se confronta com vários sinais que não são propriamente animadores, seria absolutamente incompreensível que por nossa própria incapacidade coletiva acrescentássemos mais um problema àqueles que já temo de enfrentar e que não dependem de nós”, afirmou, fazendo então votos para “que no máximo na presidência croata se conclua esta primeira fase de pôr em marcha o novo quadro financeiro plurianual”.

Reiterando que o próximo orçamento plurianual não pode “sacrificar políticas identitárias como são a política de coesão e a política agrícola”, António Costa admitiu que também é preciso atender às preocupações dos Estados-membros que se opõem a um aumento das contribuições nacionais, como defende o Governo português e também o Parlamento Europeu.

Questionado sobre se se sentiu em Estrasburgo um “general a arregimentar tropas para o combate” negocial, Costa afirmou ter-se sentido mais “um parceiro que procura construir parcerias”, “encontrar aliados e também identificar nos adversários quais são os seus pontos fortes, aos quais também é necessário responder e ter em consideração”.

“Nós não podemos só tentar convencer os outros da nossa razão, às vezes temos também de ter em conta a razão dos outros, para perceber como é que a conseguimos conjugar bem sem prejudicar os nossos interesses”, disse, apontando a título de exemplo o caso da Suécia, que corre o risco de ver a sua comparticipação aumentar 40%, um esforço que admitiu não ser “fácil de aceitar”.

Além dos encontros com o presidente da assembleia europeia e com os líderes parlamentares das quatro maiores bancadas (Partido Popular Europeu, Socialistas e Democratas, Renovar a Europa e Verdes), o primeiro-ministro teve também um jantar privado, na segunda-feira à noite, com a presidente eleita da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, cujo colégio deverá ser aprovado na quarta-feira pelo Parlamento Europeu, podendo finalmente entrar em funções em 01 de dezembro.

“Já tinha tido a oportunidade de a conhecer, mas encontrei uma presidente muito determinada em começar a trabalhar em pleno já a partir de amanhã [quarta-feira], e com prioridades muito claras que constam da agenda estratégica que foi aprovada, e que dará uma grande prioridade a tudo o que tem a ver com as alterações climáticas, a transição digital, o combate às desigualdades, e por outro lado também ao desenvolvimento e ao crescimento económico da UE”, comentou.

(Notícia atualizada às 12h45)