Em declarações à agência Lusa, a propósito da denúncia feita pelo Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura e das Indústrias de Alimentação, Bebidas e Tabacos de Portugal (SINTAB), Manuel Ramirez afirmou que o surto de covid-19 teve origem num jantar entre alguns funcionários da fábrica, do qual a administração "desconhecia".

“Terá havido um jantar entre colegas e externos da empresa de uma determinada área que a administração desconhecia”, disse.

Segundo o administrador, o surto foi detetado depois de um funcionário da conserveira ter apresentado sintomas, “situação que foi logo comunicada ao delegado de saúde” e que resultou na testagem dos 220 funcionários no dia 7 de dezembro.

“Foram detetados 11 casos de covid-19 e todas as pessoas estavam vacinadas”, afirmou, acrescentando que os funcionários se “encontram bem”.

Manuel Ramirez disse ainda que a 9 de dezembro, os funcionários voltaram a realizar testes antigénio, não tendo sido detetado “nenhum caso”.

“Amanhã [terça-feira] vamos fazer novamente testes PCR por uma questão de precaução”, disse, acrescentado que a fábrica tem cumprido e implementado todas as normas de segurança e higiene.

“Nunca baixámos a guarda”, observou, desmentindo a denúncia feita hoje pelo sindicato.

Numa nota enviada hoje, o SINTAB refere, tendo por base uma denúncia feita por trabalhadores da conserveira, que “o número de casos confirmados é já superior a 30”.

Segundo o sindicato, os funcionários garantem que “o início deste surto se verificou há cerca de duas semanas e que, ao invés de terem sido promovidas medidas de contenção, alguns quadros dirigentes optaram ainda por participar nos habituais jantares de confraternização da quadra natalícia, de onde se desconfia ter resultado uma ainda maior potenciação do contágio generalizado”.

“Se, na passada terça-feira, estavam identificados 12 casos positivos de contágio, a falta de medidas extraordinárias, e um novo jantar de Natal (já depois de se ter sinalizado o da semana anterior) rapidamente elevaram os números para mais de 30, ao dia de hoje”, detalha o comunicado do SINTAB.

A estrutura regional deste sindicato refere ainda que “só hoje, com a anulação dos testes rápidos que a empresa ia fazer, e com o agendamento para amanhã de uma iniciativa de testagem universal com testes PCR, é que se identifica uma intervenção coordenada das autoridades de saúde”.

“Esta é a evidência da gestão economicista que o SINTAB tem vindo a denunciar desde o início da crise pandémica, em que a segurança e a saúde dos trabalhadores tem sido sempre colocada em segundo plano, em todo o setor da alimentação que, fruto dos confinamentos, tem assistido a um aumento considerável das encomendas, maioritariamente nas massas alimentícias e conservas, inerente ao grande crescimento do consumo doméstico”, remata o sindicato.

A covid-19 provocou pelo menos 5.304.397 mortes em todo o mundo, entre mais de 269 milhões de infeções pelo novo coronavírus registadas desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.

Em Portugal, desde março de 2020, morreram 18.673 pessoas e foram contabilizados 1.196.602 casos de infeção, segundo dados da Direção-Geral da Saúde.

A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em vários países.

Uma nova variante, a Ómicron, classificada como “preocupante” pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foi detetada na África Austral, mas desde que as autoridades sanitárias sul-africanas deram o alerta, a 24 de novembro, foram notificadas infeções em pelo menos 57 países de todos os continentes, incluindo Portugal.