A Associação de Apoio ao Doente com Cancro Digestivo estima que 50 mil diagnósticos anuais de doenças oncológicas não estão a realizar-se devido à pandemia de covid-19 e alerta para a possibilidade haver doentes em casa que não estão a ser devidamente diagnosticados e tratados.
“O cancro do intestino é uma doença gravíssima, um problema de saúde pública há muitos anos em Portugal e todos os anos continua a crescer”, disse à agência Lusa o presidente da Europacolon, Vítor Neves.
Na Europa há cerca de 400.000 casos novos todos os anos e em Portugal, segundo dados de 2018 da Organização Mundial de Saúde, foram registados 10.092 novos casos, com 4.214 mortes.
“É natural” que o número de novos casos tenha aumentado em 2019 e este ano, “infelizmente por outras razões, tenha aumentado muito”, disse Vitor Neves, aludindo à pandemia de covid-19 e adiantando que “é urgente” que o Serviço Nacional de Saúde retome o rastreio do cancro colorretal, que está provado que é o que tem o melhor custo-benefício”.
“Se houver uma política nacional que implemente um rastreio de base populacional ao cancro do intestino, os 10 mil casos por ano vão diminuir” e vão, sobretudo, serem detetados atempadamente, referiu o presidente da Europacolon.
Face ao “atraso sistemático” dos vários governos em lançar um rastreio de base populacional, a Europacolon foi “acolhendo algumas iniciativas”, entre elas a pesquisa de sangue oculto nas fezes, “uma forma de dizer às pessoas que é possível fazer o rastreio de uma forma fácil e até muito barata”.
Este rastreio faz-se na maioria dos países europeus e tem dado resultado, porque se o resultado for positivo as pessoas têm que obrigatoriamente fazer uma colonoscopia nas três semanas seguintes.
“O grande inconveniente técnico deste rastreio é que 50% dos testes negativos são falsos e, portanto, não é tão eficaz como a colonoscopia e daí dever ser repetido todos os anos”, defendeu.
O rastreio que a Europacolon está a promover “não tem custos” para a associação nem para os utentes, salientou Vítor Neves.
O rastreio é destinado a pessoas a partir dos 50 anos que apresentem sintomas como diarreias ou obstipação constantes, dor abdominal sem explicação, ou tenham identificado sangue nas fezes, emagrecimento e/ou cansaço sem motivo aparente.
Anualmente são realizados quase 2.000 testes no âmbito desta iniciativa e são encontrados “muitos casos positivos e infelizmente alguns confirmam-se que são tumores de cancro colorretal”, lamentou.
Esta iniciativa “é uma forma de tentar justificar, motivar, sensibilizar os decisores em saúde que é fácil fazer rastreios e pouparmos milhares de vidas por ano aos portugueses, milhares de horas de sofrimento e milhões de custos” ao Estado e aos doentes.
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