Num requerimento a que a agência Lusa teve acesso, os bloquistas referem que nas reuniões no Infarmed, que tinham uma “base sensivelmente quinzenal”, especialistas em saúde, autoridades de saúde e diferentes instituições “prestam informações sobre os dados da epidemia, a sua caracterização, evolução, comparação com outros países, para além de inquéritos e estudos sobre o impacto da epidemia na população ou sobre o impacto de determinantes socioeconómicos na evolução da epidemia”.

“Sem essa informação qualquer medida política é um tiro no escuro. É por isso que o Bloco de Esquerda pretende que os dados disponibilizados nas ‘reuniões do Infarmed’ continuem a ser transmitidos, agora à Assembleia da República, em periodicidade quinzenal, independentemente da continuação ou não dessas reuniões, nesse ou noutro formato”, justifica o partido.

Assim, segundo o requerimento assinado pelo deputado Moisés Ferreira, é pedido à Comissão de Saúde que “solicite aos peritos e entidades que compunham o painel de apresentações das ‘reuniões do Infarmed’ de entrega, com base quinzenal, de dados sobre a epidemia de Covid-19 em Portugal, sua evolução e caracterização, assim como estudos sobre determinantes socioeconómicos”.

O BE pretende ainda que seja publicado na página de internet do parlamento “as apresentações divulgadas em todas as ‘reuniões do Infarmed’, assim como os documentos que vierem a ser entregues à comissão pelos peritos e instituições”.

“Estas informações são importantes para que se possam tomar medidas políticas eficazes que efetivamente mitiguem a situação epidémica em Portugal e previnam o aparecimento de novos surtos”, afirma.

Na perspetiva do BE, “sem se conhecer a evolução e dinâmica da epidemia, os fatores por trás dos surtos e as condições de vida que estão a levar a novas infeções não é possível adotar medidas políticas eficazes”.

Em declarações à agência Lusa, Moisés Ferreira explicou que para haver “medidas eficazes e efetivas”, ou seja, “medidas políticas que sejam coerentes e consistentes para mitigar a pandemia de covid-19”, é preciso haver informação.

“Temos que saber não só quantos novos casos por dia e em que regiões, mas para além disso temos que ter informação por trás desses casos porque é preciso saber que tipo de surtos, onde é que eles estão, quem são as pessoas envolvidas, qual é a caracterização socioeconómica dessas pessoas, quais os principais fatores de transmissão do vírus porque senão não é possível ter medidas políticas que efetivamente sejam dirigidas às causas”, elencou.

Assim, segundo o deputado do BE, “independentemente de as reuniões no Infarmed acontecerem ou não acontecerem”, o partido quer garantir que “há sempre informação a ser disponibilizada na Assembleia da República”, não pondo de parte “a qualquer momento que seja necessário chamar à Assembleia da República as pessoas presencialmente, se e quanto for necessário”.

“As reuniões têm sido úteis e às vezes até havia mais informação que poderia ser explorada e ser dada, como o BE foi dizendo. O que é preciso é mais informação e não menos informação, é preciso mais dados e não menos dados”, respondeu.

O primeiro-ministro afirmou na quarta-feira que as reuniões com epidemiologistas no Infarmed, em Lisboa, vão continuar, mas não foi marcada a seguinte porque a situação pandémica no país está estabilizada e não há informação relevante nova para partilhar.

Esta explicação foi transmitida por António Costa no final de uma reunião com a presidente da Câmara da Amadora, Carla Tavares, depois de, horas antes, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ter anunciado que as sessões com especialistas e políticos no Infarmed terminaram, pelo menos para já, e defendeu que este foi um exercício de transparência sem paralelo que valeu a pena.

Questionado pelos jornalistas se vão acabar as reuniões no Infarmed, onde participam o Presidente da República e representantes de partidos, entre outras entidades, para partilha de informação sobre a evolução da covid-19 em Portugal, o primeiro-ministro negou o fim dessas reuniões e admitiu que uma nova possa ter lugar até ao final deste mês.