Os dados recolhidos permitirão compreender como os indivíduos lidam com este tipo de adversidade, contribuindo para o desenvolvimento de estratégias de apoio psicológico em contextos de crise.

O estudo é realizado no âmbito de um projeto de investigação, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia – FCT, em parceria com o Centro de Psicologia da Universidade do Porto (CPUP) e a Universidade da Maia (ISMAI).

Este trabalho está enquadrado no projeto de doutoramento da investigadora Maria Inês Moutinho, sob a orientação científica dos investigadores Carla Cunha (psicóloga, especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e professora na Universidade da Maia - ISMAI) e Tiago Ferreira (psicólogo, especialista em Psicologia do Desenvolvimento e Educação e Investigador no Centro de Psicologia da Universidade do Porto – CPUP).

Em declarações à Lusa, a orientadora Carla Cunha explicou que, no âmbito da saúde pública, o trabalho visa perceber como é que as pessoas têm reagido em termos das suas respostas emocionais e comportamentais a situações de emergência.

“Quando se gerou o apagão de 28 de abril, começámos a perceber que houve um conjunto de respostas emocionais e comportamentais que considerámos muito intensas por parte de algumas pessoas. A ideia da doutoranda Maria Inês foi investigar, enquanto ainda existe memória recente desse dia, para avaliar respostas em termos da ansiedade, respostas em termos da sintomatologia depressiva e do tipo de reações comportamentais que as pessoas tiveram”, sustentou.

A participação neste estudo é voluntária e implica o preenchimento on-line de um conjunto de questionários, sendo solicitadas também algumas informações pessoais globais e anónimas, com vista a efetuar uma caracterização sociodemográfica e da sua saúde.

“Neste momento temos já 800 resposta ao questionário”, disse.

Podem participar nesta investigação pessoas com 18 anos ou mais, facultando de forma anónima, as informações que lhe serão pedidas.

Segundo os responsáveis pelo estudo, toda a informação será tratada de forma confidencial, apenas os investigadores envolvidos terão acesso aos dados, que serão “usados exclusivamente” para fins de investigação científica.

No essencial, “o que queremos perceber é como é que as pessoas se foram organizando mentalmente, que perceções tiveram, que reações emocionais tiveram face ao apagão, às informações que foram chegando, como é que foram evoluindo ao longo do tempo as suas perceções e reações mediante as informações que iam recebendo”.

Os investigadores constataram que algumas pessoas ficaram imediatamente sem comunicações, sem acesso à internet, mas “houve outras pessoas que ainda mantiveram isso e, portanto, isto pode ter criado algum diferencial nestas respostas que as pessoas evidenciaram, quer emocionais, quer comportamentais”.

“Queremos também perceber do que é que as pessoas sentem necessidade, em termos de se prepararem melhor para reagir perante situações de emergência. Até porque, neste momento, fruto de tudo o que está a acontecer, se calhar as pessoas tendem a encarar estas situações de uma forma negativa”, acrescentou Carla Cunha.