A proposta saiu da reunião da Mesa Nacional do BE, reunida hoje, por videoconferência, para fazer uma análise dos resultados das eleições presidenciais de 24 de janeiro, em que Marisa Matias, a candidata apoiada pelos bloquistas, "ficou aquém" dos resultados que esperava.

Na conferência de imprensa, a coordenadora do BE, Catarina Martins, anunciou que o partido vai propor a apreciação parlamentar do último decreto com medidas para conter a crise social e económica causada pela pandemia de modo, mudar a lei no parlamento, e reforçar o apoio às populações.

E num momento em que se admite o regresso ao ensino à distância, e com o encerramento das escolas, "não é possível pedir às famílias que fiquem em casa quando isso sujeita um adulto ao corte de um terço do seu salário", disse Catarina Martins.

"É urgente reforçar o apoio aos pais e às mães de crianças até aos 12 anos, que tem que ser a 100%", insistiu a líder bloquista, ao dizer que, sem isso, "é impossível manter esse esforço" das famílias.

"Esse passo já foi dado no 'lay-off’", mas, "numa crise prolongada" como a que se prevê, é preciso que "os pais que ficam em casa com os seus filhos tenham o apoio a 100%".

A coordenadora do BE disse ainda estar “muito preocupada com execução orçamental de 2020”, dado que não foram gastos 3.500 milhões de euros, “uma opção errada”

O que “significou menos condições no SNS, menos apoio social e à economia” e menos “garantias às populações”, disse Catarina Martins, que insistiu na necessidade de se continuar a investir no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Devido à crise epidémica de covid-19 e para proteger a saúde pública, o Bloco vai fazer as próximas reuniões “à distância”.

Uma delas será uma conferência autárquica, em fevereiro, para o BE debater a estratégia e prioridades para as eleições locais que se realizam no final do ano.

Voto da esquerda ajuda a explicar vitória de Marcelo

A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE) admitiu hoje que a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa nas presidenciais de domingo pode ser explicada com a transferência de votos do eleitorado da esquerda para o atual Presidente.

Os eleitores socialistas e dos "partidos à esquerda do PS" foram "a força que quis esta estabilidade de uma vitória folgada à primeira volta de Marcelo Rebelo de Sousa", disse Catarina Martins no final de uma reunião da Mesa Nacional, o principal órgão do BE entre convenções, para analisar os resultados das presidenciais.

Para a líder bloquista, as explicações não são simplistas, mas sim "o que dizem os números", ou seja, que Marcelo Rebelo de Sousa teve mais 100 mil votos do quem em 2016.

Numas eleições, sintetizou, em que votaram menos 500 mil eleitores e em que os candidatos do campo da esquerda "somaram menos 700 mil votos do que há cinco anos" e os de direita viram aumentar o número de votos.

É uma mudança que, admitiu Catarina Martins, deve levar a "uma reflexão" sobre o que significa a vitória de Marcelo que não é só o "garante de estabilidade no meio de uma pandemia", mas também a garantia, por exemplo, que "não tirar a troica da legislação laboral" e de que continuará o "regime de Bruxelas" de que "os portugueses continuam a pagar todos os desmandos da banca".

Catarina Martins e a Mesa Nacional reconheceram que a candidatura a Belém de Marisa Matias "não alcançou os resultados que o BE desejava e esperava" e saudaram a campanha que fez em "condições políticas muito complicadas", centradas no tema da pandemia e num "cenário de reconfiguração da direita" com a subida da "ultra direita", de André Ventura, do Chega.

Marcelo Rebelo de Sousa, com o apoio do PSD e CDS, foi reeleito Presidente da República nas eleições de domingo, com 60,70% dos votos, segundo os resultados provisórios apurados em todas as 3.092 freguesias e quando faltava apurar dois consulados.

A socialista Ana Gomes foi a segunda candidata mais votada, com 12,97%, seguindo-se André Ventura, do Chega, com 11,90%, João Ferreira (PCP e Verdes) com 4,32%, Marisa Matias (Bloco de Esquerda) com 3,95%, Tiago Mayan Gonçalves (Iniciativa Liberal) com 3,22% e Vitorino Silva (Reagir, Incluir e Reciclar - RIR) com 2,94%.

A abstenção foi de 60,5%, a percentagem mais elevada de sempre em eleições para o Presidente da República.

(Artigo atualizado às 19:21)