“Sabemos (…) que os media estão em crise, que sofrem a ameaça das redes sociais, a competição por audiências, as redações desfalcadas, os ritmos de trabalho acelerados impostos aos que nelas restam, a precariedade laboral de muitos jornalistas”, mas “assinalamos a excessiva duração dos telejornais, contraproducente em termos informativos”, referem os autores da carta, hoje publicada no jornal Público.

Assinada por personalidades como a escritora Alice Vieira, a professora universitária Ana Benavente, que foi secretária de Estado da Educação, o encenador Tiago Rodrigues, a diretora do Museu do Aljube, Rita Rato (ex-deputada do PCP), a jornalista Diana Andringa, e a médica Isabel do Carmo, entre outros, a carta aberta pede “uma informação que respeite princípios éticos, sobriedade e contenção”.

“E, sobretudo, que respeite a democracia”, escrevem os subscritores, que dizem saber que há uma pandemia com “pesadas baixas em países menos habituados a crises sanitárias”, que não se trata com “poções mágicas” e que o facto de, mesmo cumprindo as regras, qualquer um poder ser contaminado “causa medo a todos”.

Na carta, dizem não aceitar o que apelidam de “tom agressivo, quase inquisitorial, usado em algumas entrevistas, condicionando o pensamento e a respostas dos entrevistados”, nem o que classificam como “obsessão opinativa”, que consideram ter o resultado oposto de uma “saudável preocupação pedagógica de informar”.

“E não podemos admitir o estilo acusatório com que vários jornalistas se insurgem contra governantes, cientistas e até o infatigável pessoal de saúde por, alegadamente, não terem sabido prever o imprevisível”, escrevem.

Os signatários sublinham que, mesmo sabendo a importância da informação sobre a pandemia, não aceitam “o apontar incessante de culpados, os libelos acusatórios contra responsáveis do Governo e da DGS, as pseudonotícias (que só contribuem para lançar o pânico) sobre o ‘caos’ nos hospitais, a catástrofe, a rutura sempre anunciada, com a hipotética ‘escolha entre quem vive e quem morre’”.

Apontam também a “sistemática invasão dos espaços hospitalares, incluindo enfermarias”, a “falta de respeito pela privacidade dos doentes”, “o tempo de antena dado a falsos especialistas e as entrevistas feitas a pessoas que nada sabem do assunto”, as imagens “repetidas até à náusea” e a “ladainha dos números de infetados e mortos”, que – dizem – “acaba por os banalizar”.

“Para não falar das mesmas imagens repetidas constantemente ao longo dos telejornais do mesmo dia ou até de vários dias, ou da omnipresença de representantes das mesmas corporações profissionais, mais interessados em promoção pessoal do que em pedagogia da pandemia”, consideram.

O excesso informativo quanto à pandemia já tinha sido por diversas vezes criticado por vários especialistas e, numa entrevista à agência Lusa em novembro, a diretora-geral da Saúde reconheceu que o facto de haver muitos emissores de informação sobre a covid-19, desde os media, aos peritos, passando pelas redes sociais, pode confundir as mensagens e baralhar o público, ajudando à chamada "fadiga pandémica".

"Nenhuma de nós aqui fala de como é que se pilota um avião, mas toda a gente sabe como é que se trata a pandemia”, afirmou na altura Graça Freitas,

Os signatários da carta aberta hoje divulgada sublinham que “há uma diferença entre informação, especulação e espetáculo”, “entre bom e mau jornalismo” e criticam “a manifesta agenda política, legítima — mas nunca assumida — nos canais privados, mas, em absoluto, inaceitável na televisão pública”.

“Como cidadãos, exigimos uma informação que respeite princípios éticos, sobriedade e contenção. E, sobretudo, que respeite a democracia”, escrevem.

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