Na sua intervenção na conferência "71 minutos pela Saúde", organizada pela Convenção Nacional da Saúde, António Ferreira começou por afirmar que não é negacionista.

“Sei que a pandemia de covid-19 é um problema muito grave de saúde pública e também social. Defendo convictamente as medidas de prevenção não farmacológica, consubstanciada no distanciamento social, na higiene das mãos e no uso de máscara e não subscrevo as posições de alguns países e de alguns investigadores e epidemiologistas que defendem que se deixa o vírus circular para criar imunidade de grupo”, afirmou o especialista.

Disse ainda discordar “radicalmente das atitudes e da estratégia que está a ser seguida para o combate à pandemia na maior parte dos países industrializados e em Portugal também”, mas que as cumpre estritamente.

Para António Ferreira, da Faculdade de Medicina do Porto, “confinar mais, confinar menos, não confinar, não tem efeito naquilo que interessa que é a mortalidade”.

“As medidas extremistas, sanitaristas, não as outras medidas de prevenção, são prejudiciais tem um impacto social e económico gravoso, conduzem à miséria social, induzem ao aumento da conflitualidade social”, disse.

No seu entender, estas medidas e “a centralização obsessiva na resposta desorganizada e inútil” que está a ser implementada à covid, tem também “consequências gravosas” na prestação de cuidados de saúde aos doentes não covid-19 e isto traduz-se no excesso de mortalidade.

Os dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística publicados recentemente mostram um aumento de mortalidade de cerca de 8%, mais oito mil óbitos do que a média dos anos anteriores. A mortalidade atribuída à covid explica 27% dessas mortes, ou seja, quase 5.740 óbitos não têm explicação.

Em Portugal, o INE demonstra que a mortalidade hospitalar aumentou 6% este ano comparativamente com os últimos cinco anos a quase toda esta mortalidade é explicada pelos óbitos covid, mas a mortalidade fora do hospital, no domicílio, aumentou 23%.

“É fácil perceber que os doentes crónicos com situações que agudizam, que doentes que têm doenças agudas não estão a ser tratados e morrem em casa”, alertou o intensivista.

No seu entender, “o fechamento” dos cuidados primários que são a porta de entrada no SNS fará com que os novos casos diabetes, de doenças cardiovasculares, de neoplasias não sejam diagnosticados, tratados a tempo e irão condicionar o aumento da mortalidade em 2021, 2022.

“Este encerramento dos cuidados de saúde não faz sentido, particularmente agora que o número de casos já tinha ultrapassado há muito a capacidade de resposta dos nossos colegas da Medicina Geral e Familiar centrados apenas no registo e na monitorização dos casos de covid que não têm tempo para atender outros doentes”, sublinhou.

Segundo o médico, há ‘clusters’ de doentes positivos que ao fim de uma semana ainda não foram contactados pelas autoridades de saúde, o que não permite nenhuma intervenção preventiva.

Acrescentou ainda que não se preparou a resposta das instituições hospitalares e disse não compreender porque é que não se usa generalizadamente os testes rápidos para “diagnosticar e rastrear todos os que têm infeção pelo vírus sintomáticos e assintomáticos para que se possa intervir junto desses e deixar a esmagadora maioria da população trabalhar produzir e a sociedade funcionar.

“Se conseguirmos isto é muito mais eficaz que qualquer recolher obrigatório seletivo em determinadas horas de fim de semana, após a noite”, defendeu.

Perante esta situação, António Ferreira considerou que “a cura é pior que a maleita, está a fazer mais mal”.

“Felizmente em Portugal, ao contrário de outros países cuja cultura é o receio dos processos judiciais e os leva a cumprir rigorosamente as recomendações das organizações de saúde, em Portugal os médicos marimbam-se nisto, como se maribam nas da Direção-Geral da Saúde no ue diz respeito à terapêutica (…)e fazem a medicina como deve ser feita e talvez este seja um dos fatores do nosso sucesso”.