Segundo Carla Nunes, investigadora da ENSP, tem-se assistido a uma redução do aumento percentual diário de novos casos entre 7% a 20% (média de 15,7%), bem diferente dos valores das semanas anteriores, cujas percentagens tinham médias de 24,8% e 407%”.

Os investigadores do projeto do Barómetro Covid-19, um projeto de investigação que acompanha “passo a passo” a evolução da pandemia em Portugal, apelam, em comunicado, para que haja “cautela na interpretação destes dados”, uma vez que “a análise da evolução das curvas espanhola e italiana também tem tido um abrandamento no aumento relativo de casos diários”.

Comparativamente à semana anterior, os gráficos do modelo matemático da Escola Nacional de Saúde Pública desta semana do barómetro mostram “uma aproximação a Itália e, em vez de 11, por cada 100 novos casos italianos, Portugal espera agora 14”.

“Em relação a Espanha, a curva portuguesa apresenta um ligeiro afastamento: 20 casos novos por cada 100 casos espanhóis, quando na semana anterior eram 22”, refere a ENSP.

Além da comparação com países culturalmente e “matematicamente” parecidos com Portugal – Itália, Espanha e Reino Unido -, a equipa do Barómetro Covid-19 alargou a análise à Coreia do Sul, Singapura e Japão, “países que têm sido identificados como eficazes no controlo da pandemia”.

“Esta análise comparativa permite-nos perceber claramente as diferenças entre a evolução das curvas latinas, que são exponenciais, e as curvas orientais, que têm um formato achatado”, referem os investigadores.

Em comparação, por cada 100 novos casos no Japão são esperados 4.681 novos casos em Portugal, por cada 100 novos casos na Coreia do Sul, são esperados 467 novos casos e por cada 100 novos casos em Singapura são esperados 5.639 novos casos em Portugal.

O Barómetro Covid-19 está interessado em investigar de que forma é que os comportamentos das curvas são resultado do impacto das medidas tomadas nos diferentes países.

“Nos países orientais analisados, os testes em massa, as ações de isolamento, a quarentena com ‘pulso de ferro’ e a forte adesão da população a estas medidas parecem ter tido um papel fundamental no achatamento da curva”, explica Carla Nunes.

Apesar da semelhança da curva portuguesa com a espanhola e a italiana, os investigadores ressalvam que Portugal tomou várias medidas para o controlo da epidemia mais cedo do que estes países.

“Já não falta muito para percebermos se foi suficientemente cedo para aplanar o pico da nossa curva e mudar a sua forma”, refere a investigadora, adiantando que o Barómetro Covid-19 espera poder realizar essa análise no decorrer da próxima semana.

O Barómetro Covid-19 é um projeto de investigação da ENSP da Universidade NOVA de Lisboa que acompanha passo-a-passo a evolução da pandemia da Covid-19 em Portugal.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 940 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 47 mil.

Dos casos de infeção, cerca de 180.000 são considerados curados.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 209 mortes, mais 22 do que na quarta-feira (+11,8%), e 9.034 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 783 em relação a terça-feira (+9,5%).

Dos infetados, 1.042 estão internados, 240 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 68 doentes que já recuperaram.

Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março, tendo a Assembleia da República aprovado hoje o seu prolongamento até ao final do dia 17 de abril.

Além disso, o Governo declarou no dia 17 de março o estado de calamidade pública para o concelho de Ovar.