No briefing diário que sucede à divulgação do boletim epidemiológico, a ministra da Saúde, Marta Temido, começou por assinalar o número de recuperados das últimas 24 horas (91) e que a maioria dos casos confirmados está em domicílio (87%).
Uma das notas a retirar da conferência de hoje chegaria pouco depois, quando a ministra afirmou que, de acordo com os dados até agora recolhidos, é permitido "estimar que o máximo da incidência [da pandemia em Portugal] tenha ficado no passado, entre os dias 23 e 25 de março". Isto é, o pico.
Marta Temido esclareceu posteriormente que, "entre 21 de fevereiro e 16 de março [dia em que as escolas já estiveram encerradas e muitas empresas começaram a funcionar em teletrabalho], o número médio de casos secundários resultantes de um caso de infeção por covid foi de 2,08", ou seja um caso infetado tinha o risco de gerar 2,08 outros casos. "São números que nos encorajam, mas também nos responsabilizam".
Um dos temas também abordados foram as consultas, cirurgias e demais atividade assistencial não urgente, suspensas em março devido à pandemia vão ser retomadas progressivamente no "final da próxima semana". "Esperamos que no final da próxima semana possamos retomar progressivamente a atividade normal", acrescentaria.
A governante acrescentou que este reagendamento pressupõe "um conjunto de aspetos logísticos fundamentais" e que vai começar pelos casos prioritários.
Para a reabertura da atividade normal nas unidades de saúde será adotado um conjunto de medidas como "reforço de equipamento de proteção" de profissionais, higienização e reorganização de locais como as salas de espera.
"O que vamos fazer, nos próximos dias, é o reagendamento da atividade assistencial não realizada [desde que foram suspensas atividades não urgentes para dar resposta aos casos de covid-19]. Daremos prioridade aos casos com indicação clínica para tal, numa avaliação que vai ter se ser feita em articulação com prestadores de serviços de saúde. É mais um desafio para o Serviço Nacional de Saúde [SNS]", explicou.
A ministra disse ainda que o despacho de março que determinou o cancelamento de consultas e cirurgias programadas não urgentes "vai ser suspenso na próxima semana", em articulação com as Administrações Regionais de Saúde, os agrupamentos de Centros de Saúde e os hospitais.
"Utentes não necessitam de ter qualquer receio de utilizar o SNS"
Marta Temido enfatizou posteriormente que estão a ser tomados "todos os cuidados e a implementar todas as medidas para que não haja qualquer risco para que os doentes não Covid-19 que precisam de utilizar o Serviço Nacional de Saúde", reiterou.
"Não há necessidade, mesmo, hoje, de os utentes terem qualquer receio de utilizar o Serviço Nacional de Saúde. O que vamos continuar a fazer é privilegiar o atendimento telefónico, privilegiar que a duração de permanência dos utentes no Serviço de Nacional de Saúde se reduz ao mínimo estritamente necessário para a prestações de cuidados e garantir que a atividade assistencial que foi adiada é realizada no mais curto prazo possível", explicou.
A ministra indicou posteriormente que "erradicar a covid-19 não parece possível curto e médio prazo" pelo que o país deve preparar-se para a possibilidade de "alternar períodos de maior contenção com fases de maior alívio".
"Com o esforço de todos está a ser possível trazer o número de novos casos para níveis aos quais o SNS tem conseguido responder, mas que os recrudescimentos da doença se mantém e temos de estar preparados para eles. Temos de estar preparados para períodos de retenção de movimentos com períodos de maior alívio. Não porque nos enganamos na estratégia, não porque os portugueses estejam a fazer algo de errado mas porque à luz do conhecimento disponível, essa alternância, essa adaptação de comportamentos, poderá ser mesmo o melhor caminho possível para todos", disse.
No entanto, sublinhou que "os desafios que se colocam ao Serviço Nacional de Saúde estão longe de estar ultrapassados".
"Não é uma fatalidade ser idoso"
Já a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, também presente na conferência de imprensa, quis esclarecer a situação da mortalidade no país e aproveitou para esclarecer alguns questões que, diz, têm surgido.
"Nós em Portugal não estamos a contar com a causa básica da morte, mas o evento terminal. Portanto, o número de óbitos corresponde ao número de infetados conhecidos à data da morte", disse.
"Em alguém que esteja muito mal, com uma doença neoplásica [uma forma de cancro], mesmo que venha a falecer por causa dessa doença, se estiver infetada por covid contabilizamos como morte por covid. Não estamos a considerar a causa básica da morte", explicou Graça Freitas.
Porém, apesar do aumento do números de óbitos diário, desde abril, é um "crescimento estável e não se verifica uma tendência para uma maior mortalidade".
Posteriormente, informou que a média de idade das vítimas mortais da doença (683) é de 81,4 e que a pessoa mais nova a falecer tinha 40 anos e a mais velha 102. Contudo, salientou que esta média é superior na região centro, cuja média é de 83,5.
Todavia, salientou que "não é uma fatalidade ser idoso, ser doente e morrer de covid-19. Mesmo entre os idosos, a taxa de mortalidade é relativamente baixa".
Graça Freitas referiu ainda que "a maior parte dos óbitos ocorre em hospitais" e que "não se verifica diferença" de mortalidade entre sexos. Para mais, disse, muitos dos mortos, além da idade avançada, tinham "várias patologias" associadas, "nomeadamente três, quatro ou até mais".
"Nada vai ser como dantes"
Questionada sobre o uso generalizado das máscaras, a ministra da Saúde afirmou que "ainda enfrentamos alguma escassez". Porém, deixou a nota: "até descobrirmos uma vacina ou uma cura, nada vai ser como dantes".
Questionada sobre a sessão solene de comemoração do 25 de Abril na Assembleia da República e a manifestação do 1º de Maio, a ministra referiu que "não será uma celebração como a dos outros anos".
"Não podemos também deixar de entender que só poderemos sobreviver enquanto grupo se conseguirmos ter o nosso grupo unido em torno daquilo que são os aspetos que são referências sociais e também a capacidade de nos readaptarmos às novas exigências", disse.
"Qualquer comemoração e celebração terá de ter isso presente e será acompanhada dessas cautelas adicionais. É tudo igual, mas diferente".
Onde posso consultar informação oficial?
A DGS criou para o efeito vários sites onde concentra toda a informação atualizada e onde pode acompanhar a evolução da infeção em Portugal e no mundo. Pode ainda consultar as medidas de segurança recomendadas e esclarecer dúvidas sobre a doença.
- https://covid19.min-saude.pt
- https://covid19.min-saude.pt/ponto-de-situacao-atual-em-portugal
- https://www.dgs.pt/em-destaque.aspx
Quem suspeitar estar infetado ou tiver sintomas em Portugal - que incluem febre, dores no corpo e cansaço - deve contactar a linha SNS24 através do número 808 24 24 24 para ser direcionado pelos profissionais de saúde. Não se dirija aos serviços de urgência, pede a Direção-Geral da Saúde.
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