Segundo o boletim publicado hoje pela Direção-Geral da Saúde (DGS), há agora 1.600 pessoas infetadas pela Covid-19 em Portugal. Do total de pessoas infetadas, mantém-se 169 internadas em unidades e 41 das quais em cuidados intensivos.

Lendo estes números, Marta Temido, ministra da Saúde, indicou em conferência de imprensa que estes demonstram como “80% dos casos confirmados são casos ligeiros e estão em tratamento domiciliário", significando isto também que "temos cerca de 10% dos nossos casos confirmados em internamento e 2% em unidades de cuidados intensivos”.

Já quanto ao caso do utentes do lar de Famalicão sem funcionários devido à covid-19 , estes estão a ser submetidos ao teste do novo vírus, disse a ministra da Saúde, que lembrou que as instituições devem ter planos de contingência para responder à pandemia.

"Preocupa-nos a circunstância que está a ocorrer concretamente em Famalicão, na medida em que estas instituições, que são instituições privadas ou IPSS, têm de ter um plano contingencia", que "tinham de ter pensado", seguindo informações divulgadas "há bastantes dias, para não dizer semanas", disse Marta Temido, dando como exemplo a necessidade de haver equipas a trabalhar em turnos ou de haver recursos humanos "de segunda linha" preparados para a possibilidade de serem acionados.

Reveja aqui a conferência de imprensa da diretora-geral de Saúde, Graça Freitas, e da ministra da Saúde, Marta Temido:

Principais pontos destacados pela ministra da Saúde:

- Recordou que desde ontem se tem continuado um " trabalho de preparação relativamente ao circuito de ambulatório" nos hospitais e "e relativamente ao aperfeiçoamento a um conjunto de normas”.

- A ministra agradeceu a quem fez contactos para efeitos de doações, sendo que os interessados “podem efetivar essa sua intenção na plataforma disponível no website da DGS ou mesmo utilizando o endereço geral do Ministério da Saúde.

- Deixou ainda uma palavra de apreço não só aos profissionais de saúde a tratar doentes e aos profissionais das linhas de apoio, como também "aos médicos que fazem registos na plataforma do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica", pois este trabalho permite ter "cada vez mais dados epidemiológicos fiáveis para prever aquilo que é a evolução das curvas deste surto em Portugal”.

Mencionou também "as portuguesas e os portugueses que estão em isolamento profilático ou que estão doentes nas suas casas, no sentido de recordar a enorme importância do vosso comportamento, do vossa decisão individual para aquilo que é o bem estar de todos nós. Todos juntos vamos conseguir vencer o vírus.”

- A ministra voltou a pedir aos portugueses para que sigam as medidas de segurança, frisando especificamente o arejamento das habitações.

Principais pontos destacados pela diretora-geral da Saúde:

- Graça Freitas mencionou também os “médicos da linha de atendimento ao médico, que durante todo este período asseguraram que as pessoas chegassem aos hospitais já referenciadas e impediram que estas fossem diretamente a uma urgência”.

- Quanto a este trabalho de triagem estabelecido no ambulatório, a diretora-geral da Saúde disse que este " circuito foi muito importante até à data para a resposta dada.

- Graça Freitas recordou também a importância de seguir os contactos das pessoas infetadas, falando numa "atuação em várias frentes": “Estamos a detetar os doentes, a isolar e a tratar, mas também estamos a detetar os seus contactos”.

Respostas aos jornalistas:

O Governo pondera estipular preços, tanto para as máscaras como para o álcool? A pergunta é feita tendo em conta que o Governo decretou uma requisição civil para que o álcool seja levado para as unidades hospitalares, que as farmácias têm estado a vender o álcool e as máscaras a um preço bastante mais caro e que estão a ser feitas máscaras com tecidos normais e estão a ser vendidas nas redes sociais.

Marta Temido: Em termos de fixação de preços, estamos sobretudo a tentar atuar ao nível da fiscalização, através das autoridades competentes. Essa possibilidade poderá equacionar-se, mas não está, para já, em cima da mesa.

Graça Freitas: Temos estado a dizer que não vale a pena a utilização de máscaras, sobretudo se nem forem máscaras. O que temos de garantir no dia-a-dia é, sobretudo, o distanciamento social. Eu dou sempre esse exemplo e tenho pena que não vos veja também a vocês. Estamos aqui a trabalhar sem máscaras todos os dias e vocês também. Estamos distantes uns dos outros, não estamos a respirar, tossir ou espirrar para cima de outras pessoas, e isso é de facto fundamental. A falsa sensação de segurança que uma máscara — que nem é uma verdadeira máscara, é um bocadinho de tecido à frente do nariz — nos pode dar é muito importante. É preciso reduzir ao mínimo levarmos as nossas mãos à cara, porque é o contacto das mãos contaminadas com nariz e a boca que nos infetam. Não se fiem na falsa sensação da máscara, não é a panaceia para tudo, portanto não vale a pena usar máscaras se não forem impermeáveis.

Chegam nos relatos dramáticos e preocupantes de vários pontos do país que concernem cuidadores e idosos. São relatos como o de Vila Nova de Famalicão, de uma senhora que é diretora técnica, está grávida e somente com mais uma enfermeira está com 33 idosos ao seu cuidado. Por causa da coabitação, os 18 funcionários estão fora do estabelecimento. Que retrato se faz neste momento do país no que concerne esta questão?

Marta Temido: A situação genérica relativamente a pessoas que acolhem pessoas vulneráveis é que, tanto quanto é conhecimento do ministério da Saúde, há neste momento quatro instituições onde há doentes com Covid-19, duas na zona de Lisboa e Vale do Tejo e duas na região do Norte. Concretamente, a situação de Famalicão é que trata-se de um lar privado onde foram identificados alguns doentes com Covid-19 e que estavam a ser testados esta manhã. Antes desta conferência, tínhamos já informação do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) que se encontrava no local a realizar a colheita de material biológico. Quero esclarecer que aquilo que vai ser o procedimento de realização de testes nestes casos vai depender daquilo que seja a melhor solução local. Nalguns casos vai ser o INEM a fazer as colheitas, como no caso de Famalicão, noutros casos poderá ser um operador privado local com quem se articule e que seja capaz de dar resposta. (...) Noutra nota, estas instituições que são privadas ou IPSS têm de ter um plano de contingência, e este implica designadamente que tinham de ter pensado — porque essa informação foi disseminada há vários dias, para não dizer semanas — sobre como é que deviam preparar-se para responder a uma situação deste tipo, como ter profissionais de segunda-linha que estivessem prevenidos que poderiam ser acionados, ter as equipas a funcionar em espelho e trabalhar em turnos rotativos semanais (...) Sei que isso é muito difícil e que as entidades muitas vezes não têm meios para isso acontecer. O que é importante é que as cadeias de responsabilidade das instituições possam encontrar soluções, porque não podemos deixar 33 pessoas numa entidade só com base em dois colaboradores.

Graça Freitas: Nós temos conhecimento de situações como as relatadas. Há um elo de comunidade muito importante que se chama delegado de saúde, e quando surge um destes problemas, ele tem obviamente de ser chamado para ajudar a gerir aquela situação (...) O que acontece é que esse delegado de saúde vai avaliar o risco da exposição, quer dos utentes que estiverem nas instituição, quer dos profissionais que os cuidaram, (...) e vai decidir o que é a solução científica, de proteção da saúde. Depois há solução de logística, se de facto todos os profissionais que davam apoio a uma unidade estão potencialmente infetados, não podem continuar a cuidar daquelas pessoas. Localmente, todas as forças vivas daquela comunidade, e aqui estou a falar das autarquias, dos mecanismos de proteção civil, das paróquias, têm de encontrar uma solução para que os outros utentes continuem a ser tratados. Há respostas a nível nacional (...) e soluções que têm de ser encontradas no seio da comunidade.

Tivemos conhecimento de autarquias que existem autarquias que têm centros de rastreio disponíveis mas que estariam à espera de autorizações por parte das autoridades de saúde. Como está a decorrer este processo?

Graça Freitas: Estamos muito abertos a todas as circunstâncias que nos ajudem a testar, mas a testar bem e com qualidade. Quem quer que nos ofereça testes, o Instituto Ricardo Jorge tem de certificar a metodologia, a forma como aqueles testes são feitos. Depois, se de facto forem testes de qualidade, então, com a organização local, poderão ser integrados e com muito gosto no sistema de saúde.

Quanto às mortes que ocorrem em casa, independentemente dos sintomas, é obrigatória a realização de um teste de despiste?

Graça Freitas: Depende da causa de morte. Se é uma pessoa que está em casa há muito tempo, com uma doença terminal e não teve nenhuma intercorrência com nenhum dos sintomas, não será. Se morreu com sintomatologia compatível ou se teve contacto, depende do médico que for certificar o óbito, se considerar que é necessário ou não.

O que se sabe sobre a possibilidade da reinfeção dos doentes? Vamos usar componentes de sangue de doentes recuperados como terapia?

Graça Freitas: Relativamente à imunidade, têm saído alguns artigos e tudo indica que há imunidade na maior parte dos casos, mas nos ainda não sabemos a duração dessa imunidade. Nos futuros meses e anos, vamos ter de testar muitas pessoas para ver o seu nível de anticorpos e para saber se essa imunidade é persistente ou não. É prematuro dizermos qual é a duração dessa imunidade. Relativamente às terapias, há várias a ser testadas e o que estamos a fazer é observar os resultados que se obtém nos diferentes países com diferentes grupos de doentes.

O boletim diário da DGS demonstra novamente uma subida de 25%. Isto é a curva a achatar ou ainda é cedo para perceber o mecanismo?

Graça Freitas: Até à data, a curva tem tido um comportamento não explosivo. É uma curva ascendente, há cada vez mais casos, mas não é explosivo. Dizê-lo é precoce. Eu não me atreveria com base em três ou quatro dias a prever como é que vai ser a curva daqui para a frente.

*com Lusa