“Entendo que não posso exercer cargos públicos até que esta situação não seja devidamente resolvida. Se assim não fosse, não estaria a ser fiel aos princípios em que acredito e que sempre defendi. Contudo, estou de consciência tranquila, porque sei que a seu tempo toda a verdade será reposta”, lê-se numa carta enviada ao vice-presidente do Governo Regional, Artur Lima.

O governante já fez saber, numa nota de imprensa, que “o pedido de demissão foi aceite”, tendo o vice-presidente agradecido “todo o trabalho e dedicação” de Lucília Fagundes “em prol do serviço público”.

“Trata-se de uma pessoa com elevada retidão de princípios, zelosa na defesa das causas sociais e detentora de um currículo profissional e cívico irrepreensível. O caráter íntegro da dra. Lucília Fagundes é demonstrado pela forma abnegada como esteve ao serviço da região”, frisou Artur Lima.

Lucília Fagundes foi nomeada diretora regional para a Promoção da Igualdade e Inclusão Social no dia 01 de fevereiro.

Cerca de um mês antes, no dia 31 de dezembro de 2020, foi vacinada contra a covid-19 na Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo (SCMAH), onde desempenhava funções como vice-provedora.

Depois de a TVI ter divulgado a declaração de consentimento informado assinada pela vice-provedora, Lucília Fagundes decidiu suspender funções “até à conclusão da investigação dos factos” e anunciou uma ação judicial.

“Tendo em conta a gravidade das acusações que se são imputadas, vou entregar o caso ao meu advogado para apuramento das responsabilidades em sede judicial”, apontou, este sábado, numa conferência de imprensa.

A agora ex-diretora regional disse que foi informada no dia 31 de dezembro de que tinham sobrado “duas doses da vacina”, porque "dois dos colaboradores desistiram de ser vacinados”, e que essas doses “se inutilizariam caso não fossem administradas no espaço de 15 minutos”.

“Como responsável pelos recursos humanos da instituição, cargo que desempenho em regime de voluntariado, e, consequentemente, sendo a mesária que mantém contactos diretos regulares com os funcionários, utentes e as suas famílias, e porque também os trabalhadores administrativos da instituição, que têm exatamente o mesmo contacto que mantenho com os utentes e colaboradores, foram vacinados na sequência das orientações emanadas da Unidade de Saúde da Ilha Terceira, concordei, tendo em conta o contexto especial da instituição, em ser vacinada”, revelou, na mesma conferência de imprensa.

Na carta endereçada ao vice-presidente do Governo Regional, Lucília Fagundes frisou que, ao longo de 30 anos de serviço na administração pública regional, sempre pautou a sua conduta “pelo rigor e pela transparência”.

“Foi sempre com sentido de responsabilidade e de espírito cívico que estive ao serviço da minha comunidade. Quer na minha vida privada, quer no exercício de cargos públicos, nunca deixei de agir em conformidade com os meus princípios, que são pautados pela retidão e pela integridade”, salientou.

A ex-diretora regional agradeceu ainda “todo o apoio manifestado ao nível institucional e pessoal” pelo vice-presidente do Governo Regional.

“Agradeço-lhe por ter acreditado sempre na minha honra e integridade, defendendo-me publicamente, com todos os prejuízos que possam advir dessa defesa pública”, afirmou.

O secretário regional da Saúde dos Açores anunciou esta segunda-feira que determinou “uma ação inspetiva a cargo da Inspeção Regional da Saúde, no sentido de apurar os factos relativos a vacinas e de eventuais responsabilidades, por alegadas administrações indevidas”.