"Por razões bem conhecidas, esse impacto tem-se feito sentir", afirmou o presidente da Associação Empresarial de Felgueiras (AEF), Emídio Monteiro, em declarações à agência Lusa.

O dirigente disse serem visíveis no concelho, que é líder na produção de calçado em Portugal, casos de unidades industriais que têm perdido encomendas, com a diminuição da procura internacional, mas também porque não conseguem cumprir prazos de entrega.

A falta de mão-de-obra, com muitas pessoas em casa no contexto atual da pandemia do novo coronavírus, é "uma situação que as empresas têm particular dificuldade em acomodar”, porque, em muitos casos, "perturba o funcionamento em linha do processo industrial", adiantou Emídio Monteiro.

Felgueiras, no distrito do Porto, é o maior produtor e exportador nacional de calçado (800 milhões de euros por ano), laborando no concelho 700 empresas do setor, que emprega 25 mil pessoas. Cerca de 95% da produção no concelho destina-se à exportação.

Na indústria, também já são notórias "dificuldades no recebimento do valor das encomendas, em função da queda da procura no retalho internacional", prosseguiu o presidente da AEF.

"Os impactos são manifestos na operação corrente das empresas. Os danos económicos ainda são de difícil quantificação", declarou, reafirmando a inevitável quebra nas encomendas "em função da contração da procura no retalho".

Emídio Monteiro, referiu, por outro lado, a existência de pequenas empresas de Felgueiras, de comércio e serviços, que já sofrem "os impactos gerados pela situação de alerta e isolamento social causado pela pandemia".

"É conhecida a dificuldade dos negócios ligados à restauração e comércio de proximidade”, acentuou.

Para tentar minimizar os impactos da situação, a AEF criou um serviço de apoio, que já foi contactado por cerca de 75% dos seus associados. Estão inscritos cerca de 600 associados na associação.

Segundo o presidente da associação, os empresários fazem perguntas sobre a aplicação do ‘lay-off' (suspensão temporária dos contratos de trabalho) já em março e nos meses seguintes, além dos apoios de tesouraria disponíveis, entre outras preocupações.

"Acreditamos e aguardamos que o processamento dos apoios [do Governo] seja ágil e rápido para evitar, tanto quanto possível, os danos no emprego da região", referiu.

Emídio Monteiro apontou ainda a preocupação das empresas face ao receio de propagação da Covid-19, "questão transversal" a todos os setores de atividade", considerando, contudo, que "Felgueiras tem sido um bom exemplo" nas ações preventivas.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19, infetou mais de 220 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 8.900 morreram.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se já por 176 países e territórios, o que levou a Organização Mundial da Saúde a declarar uma situação de pandemia.

Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) elevou hoje o número de casos confirmados de infeção para 785, mais 143 do que na quarta-feira. O número de mortos no país subiu para três.