“Numa pandemia, todos os cidadãos são precisos para resolver o problema. Não deve ser só o SNS a responder. Deve ser o sistema nacional de saúde. A colaboração com os privados tem de ser feita crescentemente agora”, disse José Artur Paiva, numa entrevista à agência Lusa no dia em que Portugal regista novos máximos diários de mortalidade, com 156 óbitos nas últimas 24 horas, e 10.556 novos casos de infeção pelo novo coronavírus.

Dizendo-se “absolutamente defensor de uma maior interação do SNS com os privados”, José Artur Paiva apontou que existem dois polos de ação para ir ao encontro dessa política: um reservado aos conselhos de administração e o segundo de responsabilidade da tutela.

“A iniciativa dos conselhos de administração dos grupos privados e dos públicos já acontece e tem de ser fomentada. E o Ministério da Saúde pode promover, incentivar e catalisar essa política, dando-lhe até quadros regulatórios facilitadores, nomeadamente que haja alguma doutrina retributiva”, referiu.

Para o diretor de serviço de medicina intensiva do Centro Hospitalar e Universitário de São João (CHUSJ), “não faz sentido avançar para a requisição sem ter esgotado esta estratégia colaborativa”.

José Artur Paiva acredita que “vários grupos privados estão abertos a esta colaboração”.

O médico especialista, que é também presidente do Colégio de Medicina Intensiva da Ordem dos Médicos, abordou este tema quando falava à Lusa da necessidade de “alargar” a priorização de doentes no que diz respeito à atividade cirúrgica, de forma a conseguir margem geográfica e de recursos humanos na resposta à pandemia, mas avisou: “Nenhuma resposta é infinita e nenhuma resposta pode tender para o infinito”.

“Ninguém retira [meios] ao não covid por querer. Não queremos ter de priorizar entre dois doentes críticos. Não queremos um cenário de catástrofe. Isso não está a acontecer e temos de evitar que aconteça. É um compromisso do SNS. A priorização ética é priorizar o doente que é critico agora e precisa de cuidados urgentes agora ‘versus’ aquele cujo resultado clínico não se alterará significativamente se for adiado uma semana ou um mês. Essa priorização já está a ser feita e defendo que nesta altura é o momento de alargar”, disse.

Médico no CHUSJ desde 1984, onde também já foi diretor clínico de 2016 a 2019, José Artur Paiva sustenta que a atividade cirúrgica deve ser reduzida à urgente, diferida (cirurgias que não precisam acontecer no próprio dia, mas devem acontecer nas primeiras 72 horas) e muito prioritárias (por exemplo a coronária e as vasculares).

Atualmente o Hospital de São João acolhe 120 doentes covid-19, dos quais 42 estão em cuidados intensivos.

Com uma taxa de ocupação a rondar os 90%, o serviço de medicina intensiva tem 94 camas abertas, estando mais de metade dedicadas a não covid-19, mas esta realidade já foi diferente no passado.

“Temos praticado uma adaptabilidade muito grande conforme a pressão da procura. Conforme a evolução epidemiológica da patologia covid e não covid. No final de novembro, tínhamos mais camas covid do que não covid. Sabemos que, nas próximas três semanas, vamos ter aumento dos dois lados – covid-19 e não covid –, mas a resposta não vai ser apenas à custa da adaptabilidade”, observou.

“Vai ser necessário expandir”, frisou.

Num serviço que, desde o início da pandemia, aumentou a capacidade em cerca de 35%, o diretor diz ser “concebível conseguir mais cerca de nove camas nesta batalha”.

O responsável aponta já para a possibilidade de ter de ocupar unidades pós-anestésicas e dá pistas sobre o esforço global que considera ter de ser “transversal” no país.

“O Norte [comparando com janeiro de 2020, pré-pandemia] mais do que duplicou o número de camas críticas. A taxa de esforço foi menor na ARSLVT [Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo] do que foi no Norte e no Centro. Tem a ver com a falta de necessidade, mas é muito preciso que agora o façam. A resposta não é individual, é em rede, tem de ser solidária”, descreveu.

José Artur Paiva recordou que, “no final de novembro foram transferidos doentes do Norte para o Sul”, quando agora se verifica o contrário.

“Não está errado, é bom, é sinal que a rede funciona, mas também é sinal de saturação”, disse.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.963.557 mortos resultantes de mais de 91,5 milhões de casos de infeção em todo o mundo, enquanto em Portugal, morreram 8.236 pessoas dos 507.108 casos de infeção confirmados.

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