Os hospitais portugueses ainda não atingiram o limite. A garantia foi dada hoje pela diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, na habitual conferência de imprensa da Direção-Geral da Saúde (DGS) e do ministério da Saúde.
“Os dados que temos e recolhemos diariamente indicam que ainda não foi atingido o máximo do nosso potencial, o que também reflete a evolução da epidemia”, explica a diretora-geral da Saúde. “Temos tido crescimento diário do número de casos confirmados que não é muito acentuado”, diz Graça Freitas, alertando, contudo que “nunca podemos ficar descansados com estes números”.
Ainda assim, reconhece “um planalto”, onde “não houve ainda necessidade de expandir a capacidade instalada, que tem sido, até à data, suficiente para dar resposta”. Graça Freitas responde assim ao SAPO24, na conferência de imprensa, em Lisboa, onde foram atualizados os números da covid-19 em Portugal.
Esta semana arranca com um decréscimo no número de internados em cuidados intensivos. Segundo o boletim da DGS, dos internados, apenas 188 (menos 40, -17,5%, que ontem) estão em Unidades de Cuidados Intensivos. No total, das 16.934 pessoas infetadas pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), a grande maioria, 16.747 (mais 1.339 do que no domingo), estão a recuperar em casa. Estão internadas 1.187 pessoas — mais uma dezena que neste domingo (+0,8%).
"O ministério da Saúde mantém-se muito atento a estes números", diz Graça Freitas, adiantando que se procura "voltar à normalidade, mas sempre monitorizando o que é voltar à normalidade, com a evolução da epidemia". É um balanço que terá de ser encontrado, explica.
Ventiladores também têm chegado para as necessidades
Presente na conferência, a ministra da Saúde falou sobre a questão dos ventiladores, afirmando que, “neste momento, ainda não houve nenhuma situação que não tenha sido possível ser resolvida por articulação” entre os hospitais do Serviço Nacional de Saúde e pela Comissão de Resposta em Medicina Intensiva à covid-19.
“Houve situações de maior constrangimento no Hospital de Aveiro”, mas “a situação na altura ficou ultrapassada com outros hospitais da rede SNS”, sublinhou.
Marta Temido salientou que de “uma forma geral o número de doentes em cuidados intensivos está a decrescer”.
“Registámos nas últimas 24 horas 40 saídas de cuidados intensivos maioritariamente para unidades de internamento geral”, adiantou.
Há mais 10 pessoas internadas em unidade de internamento geral, sendo que a diferença se justifica sobretudo por altas para domicílio”, explicou Marta Temido.
Para a ministra, estes números são “um sinal encorajador”, mas disse que não podem “ficar completamente tranquilos” e que por isso o Estado continua a apostar na receção da encomenda de ventiladores já feita.
“Sabemos que esta doença vai permanecer connosco até um novo tratamento ou uma vacina e, portanto, a capacidade de reforço das nossas unidades cuidados intensivos é muito importante. E é tão mais importante quanto nós sabemos que precisamos de retomar a atividade programada de resposta a outras patologias”, sublinhou.
Salientou ainda a importância de se conseguir estabilizar os equipamentos que são dedicados a uma e outra área de atividade e retomar a resposta à normalidade das doenças não covid, garantindo que “se alguma coisa se complicar há um ventilador disponível para todos”.
“Isso será um passo no sentido que queremos realizar e vamos continuar esse esforço”, frisou Marta Temido.
Ainda não há um retrato socioeconómico
Em Portugal, segundo os números hoje divulgados pela Direção-Geral da Saúde, registam-se 535 mortos, mais 31 do que no domingo (+6,2%), e 16.934 casos de infeção confirmados, o que representa um aumento de 349 (+2,1%). Todavia, pouco se sabe destas pessoas para além dos sexos, idades e local de residência.
Graça Freitas explica que apesar de essas variáveis não serem habitualmente colhidas pelas autoridades de saúde, não significa que não sejam informações importantes.
Neste momento, estão apenas a ser recolhidas as profissões dos infetados — e "nem era sequer obrigatório" que viesse no boletim. "A maior parte destas pessoas, de qualquer maneira, são reformadas e, portanto, já não virá a sua situação profissional", explica a diretora-geral da Saúde.
Ainda assim, Graça Freitas reconhece que para além das tendências (idades, regiões, sexos) são necessários "estudos mais aprofundados". Essas avaliações mais detalhadas são importantes "sobretudo nas fases inter-ondas e nas fases pós-epidémicas".
"Neste momento, grande parte dos profissionais de saúde está vocacionada para tratar o melhor possível os utentes e os doentes que aparecem, mas isto não nos deve fazer desvalorizar a qualidade e a importância da informação", diz em resposta ao SAPO24. Graça Freitas explica que alguma da informação é recolhida online todos dias — "para nos dar instrumentos de navegação, para perceber onde estamos" — e a caracterização social dos doentes — "muito importante" — que poderá ser feita noutra altura, esclarece.
"Há vários tipos de informação: a que é colhida no âmbito da vigilância epidemiológica, para gestão da situação no dia-a-dia; outro tipo de informação que deve ser colhida durante a epidemia, mas que exige métodos próprios; e outra que será colhida em fases posteriores, para melhor percebermos o que se está a passar", diz Graça Freitas.
"Também estamos muito interessados em fazer estudos sobre como é a evolução de um doente, desde que entra como suspeito, até ter alta", diz a diretora-geral da Saúde. Estes dados podem, depois, contribuir para a ciência internacional.
Os dados da DGS precisam que o concelho do Porto é o que regista o maior número de casos de infeção pelo coronavírus (921), seguido de Lisboa (905 casos), Vila Nova de Gaia (842), Matosinhos (715), Gondomar (701), Braga (647), Maia (600), Valongo (491), Ovar (416) e Sintra com 397 casos.
Estes valores fazem da região Norte aquela que continua a registar o maior número de infeções, totalizando 9.984, seguida pela região de Lisboa e Vale do Tejo, com 3.896 casos, da região Centro (2.477), do Algarve (284) e do Alentejo com 140 casos. Há ainda 94 pessoas infetadas com o vírus da covid-19 nos Açores e 59 na Madeira.
O relatório da situação epidemiológica, com dados atualizados até às 24:00 de domingo, indica que a região Norte é a que regista o maior número de mortos (303), seguida pelo Centro (123), pela região de Lisboa e Vale Tejo (96) e do Algarve, com nove mortos.
Das mortes registadas, 348 tinham mais de 80 anos, 111 tinham idades entre os 70 e os 79 anos, 53 entre os 60 e os 69 anos, 17 entre os 50 e os 59 anos e seis óbitos na faixa entre os 40 e os 49 anos.
Quando às infeções, a faixa etária mais afetada pela doença passou a ser a dos 50 aos 59 anos (2.942), logo seguida da faixa dos 40 aos 49 anos (2.932), dos 30 aos 39 anos (2.372) e dos 60 aos 69 anos de idade (2.106). Nos mais velhos, há 2.535 doentes com idades acima dos 80 anos e 1.565 entre os 70 e os 79 anos.
Há ainda a registar 284 casos de crianças até aos nove anos, 435 de jovens com idades entre os 10 e os 19 anos e entre os 20 e os 29 anos há 1.763 casos.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou mais de 114 mil mortos e infetou mais de 1,8 milhões de pessoas em 193 países e territórios. Dos casos de infeção, quase 400 mil são considerados curados.
Para Graça Freitas, a conclusão é simples: "a informação é crucial durante uma epidemia, e é crucial para contribuir também para o conhecimento científico".
*Com Lusa
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