“Ainda bem que assim é. Nós preparamo-nos para o pior, mas esperamos o melhor”, afirma à agência Lusa Margarida Carvalho, médica interna de gastroenterologia, que está agora na “enfermaria Covid-19″.

O Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE) tem 24 camas para o internamento de doentes com Covid-19 e oito nos cuidados intensivos, mas, em caso de necessidade, é possível aumentar o número de lugares.

No dia em que a Lusa visitou a unidade hospitalar, estavam internados três doentes, todos homens e com insuficiência renal, um deles na unidade de cuidados intensivos (UCI).

A meio da manhã, o posto de triagem primário, o ponto de partida para qualquer utente que chegue ao hospital, tem pouco movimento, mas a “urgência Covid-19″ tinha cinco doentes, homens e mulheres, todos com mais de 70 anos e em situação estável, a aguardar os resultados dos testes.

“Vêm muitos doentes com sintomatologia respiratória ao serviço de urgência e, agora, por terem essa sintomatologia, vêm para esta área e, portanto, a carga é alguma”, comenta Maria Piteira.

Interna de medicina interna, a jovem médica diz que os doentes apresentam “outras patologias descompensadas”, que “nada têm a ver com a Covid”, notando que parecem sempre estar “com algum medo e ficam um bocadinho ansiosos”.

A enfermeira Rute Carrageta está desde o início na “urgência Covid-19″ e recorda que este período foi de “constantes mudanças”, considerando que agora “a situação está controlada”.

Reconhecendo que existe medo, Rute lembra, contudo, que os profissionais foram “treinados para lidar com a doença e com o sofrimento humano” e esquecem esses sentimentos quando estão a trabalhar.

Tal como Maria e Rute, também a enfermeira Beatriz Brás enverga óculos, máscara, bata de cirurgião e outros equipamentos de proteção e diz que os profissionais desejam que a atual situação “passe o mais rápido possível”.

Nos corredores do hospital, circulam poucas pessoas e as que se veem são profissionais, todos com máscara, e em alguns locais observam-se camas e colchões “amontoados”, devido às alterações feitas nas enfermarias.

A “enfermaria Covid” que tem doentes internados está no quarto piso e à entrada percebe-se que a segurança é mais apertada, uma vez que possui uma campainha e tem de ser alguém no seu interior a abrir a porta.

No início do corredor, na zona considerada “limpa”, estão duas salas onde se encontra uma dezena de profissionais, entre assistentes operacionais, enfermeiros e médicos.

Uma das salas tem computadores e uma mesa de reunião e a outra é usada como espaço de refeições e descanso dos profissionais, mas aqui também se encontram, num canto, vários monitores.

Os equipamentos, explica à Lusa a enfermeira Isabel Coelho, integram um sistema de telemetria e de videovigilância, que permite observar à distância os sinais vitais dos doentes internados e os seus movimentos.

O sistema permite também que seja o menor possível o número de profissionais nas zonas de maior risco, nos quartos dos doentes e no corredor que lhes dá acesso, para diminuir a possibilidade de contágio.

A porta que dá acesso ao corredor onde se situam os quartos raramente se abre e o acesso dos profissionais é feito pelo balneário, que foi construído onde existiam duas salas e que funciona como antecâmara.

Durante a visita da Lusa, os dois doentes internados na enfermaria, que têm cada um o seu quarto, encontravam-se, excecionalmente, juntos, num quarto, por estarem a fazer diálise. Ambos estavam deitados, com máscaras cirúrgicas, a ver televisão.

Os profissionais que estão junto aos doentes comunicam via rádio com os outros que se encontram na “zona limpa” para transmitir dados dos pacientes que normalmente são apontados em papel.

A pneumologista Teresa Cardoso adianta à Lusa que, até agora, os doentes neste serviço têm “predominantemente” mais de 70 anos e que a maior parte “teve alta”, tendo “apenas dois” sido enviados para os cuidados intensivos.

Quem teve de alterar a rotina como “do dia para a noite” foi Margarida Carvalho, a interna de gastroenterologia, que deixou de fazer diariamente exames endoscópicos e consultas para estar nas enfermarias, tanto de “gastro” como de Covid-19.

“Apesar de sermos de diferentes especialidades, temos apoio da equipa sénior, constituída por pneumologistas e especialistas em medicina interna. Portanto, estamos apoiados”, frisa.

O HESE presta também apoio psicológico a doentes e profissionais, mas os pacientes, que chegaram a ser, no máximo, seis em simultâneo, também contam com o “ombro amigo” das assistentes operacionais.

“Não podem ter visitas e o que vem para eles é o mínimo, são coisas que à partida ficam logo infetadas, e sentem falta das suas coisas e principalmente da família”, relata a assistente operacional Sandra Ramalho.

Os cuidados intensivos tinham um doente com Covid-19 quando a Lusa visitou o hospital e, nesse dia, o homem tinha apresentado melhorias e até lhe tinham retirado o ventilador.

O número de doentes críticos nos cuidados intensivos do HESE reflete “um pouco aquilo que tem sido a realidade do Alentejo”, realça à Lusa Maria Manuel Varela, enfermeira-chefe da “UCI Covid”.

“Não temos em grande número” doentes críticos com Covid-19, refere, indicando que, até agora, “foram só dois doentes” a passarem pela UCI, os quais tiveram “uma evolução muito favorável”.

“Temos uma equipa muito serena a trabalhar na ‘UCI Covid’, com consciência dos riscos que se correm, mas estamos muito bem equipados com os equipamentos de proteção individual, que nos têm dado segurança e calma”, acrescenta.

Por sua vez, o diretor da “UCI Covid”, Chantre Lima, considera que a “maior dificuldade são recursos humanos”, porque houve necessidade de separar as equipas e, por isso, há mais carga de trabalho.