“Essa ideia está ultrapassada porque as vacinas não são 100% eficazes, por um lado, mas sobretudo porque as vacinas não protegem contra a infeção e contra a capacidade de transmissão e, portanto, qualquer pessoa mesmo vacinada em algum grau contribui para a transmissão do vírus”, adiantou o investigador do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

O professor catedrático de bioquímica explicou que o conceito de imunidade de grupo, neste momento, nem se aplica muito, porque isso acontece quando uma série de pessoas não pode ser infetada e não transmite o vírus a outras pessoas.

Portanto, defendeu, “é melhor pensarmos melhor que temos de completar o plano de vacinação e deixarmos de fazer contas parciais”, disse Miguel Castanho, que falava à agência Lusa a propósito da prevalência da variante Delta, associada à Índia, já ser superior a 60% na região de Lisboa e Vale do Tejo.

Para o investigador, também se deve evitar “grandes dicotomias entre mais novos e mais velhos”, porque, vincou, “qualquer um pode adoecer, pode transmitir o vírus” e contribuir para “um agravar da situação”.

De qualquer forma, frisou, “é sempre melhor estar vacinado com qualquer uma das vacinas do que não estar vacinado”.

Questionado sobre se as medidas tomadas para controlar a disseminação do vírus, nomeadamente a proibição de circulação de e para a Área Metropolitana de Lisboa aos fins de semana, Miguel Castanho disse serem necessárias “medidas mais assertivas”, sobretudo, para as áreas metropolitanas.

“Eu compreendo que estas medidas foram tomadas para ganhar tempo e poder eventualmente construir uma resposta para o resto do país. De qualquer maneira na Área Metropolitana de Lisboa a situação já está um pouco crítica”, declarou.

Segundo o investigador, já existem “todos os elementos” que permitem prever que a situação em Lisboa tem uma tendência a agravar-se nos próximos dias, porque já sabe o que a variante Delta está a causar no Reino Unido e o que se passou no verão passado em Lisboa, “esteve sempre numa situação mais ou menos crítica”, adiantou.

“O que distingue a variante Delta não é nada que esteja relacionado com o contexto, é uma alteração do vírus em si e, portanto, aquilo que se está a passar no Reino Unido provavelmente vai-se passar aqui também”, explicou.

Para evitar esta situação, Miguel Castanho defendeu que é preciso “olhar com mais cuidado” e ter “um plano específico” para os transportes públicos, que são “um meio confinado” onde as pessoas permanecem durante um tempo considerável em contacto umas com as outras.

Defendeu também o teletrabalho para evitar deslocações e o desfasamento de horários, para “não ser tão grave o problema das horas de ponta”.

“As nossas áreas metropolitanas estão muito mal planeadas, muito mal estruturadas, toda a gente vive aglomerada na periferia, o centro das cidades está completamente vazio, e as pessoas são obrigadas a um trânsito compacto e diária e fazem-no através dos transportes públicos”, adiantou.

Por outro lado, apontou Miguel Castanho, é preciso “tomar mais atenção” à distribuição das pessoas nos espaços: “o que conta é a distância entre as pessoas e não tanto o número de pessoas que está dentro de um espaço” como recintos desportivos, eventos familiares ou na restauração, onde mais do que “os horários muito restritivos”.

“Se vamos deixar entrar público nos estádios e respeitar uma determinada lotação, mas depois os adeptos se juntarem todos na mesma bancada a torcer pela sua equipa, aí temos proximidade entre pessoas outra vez e pode haver transmissão”, elucidou.

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