“A atual matriz de risco está completamente obsoleta e é completamente inútil e enganadora nesta fase, porque os indicadores que utiliza são muito lentos, têm até 14 dias de atraso”, afirmou o matemático Jorge Buescu na Comissão Eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à covid-19, onde foi ouvido com outros especialistas sobre a evolução da pandemia, a pedido do PSD.
Para o professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e vice-presidente da European Mathematical Society, a utilização da incidência cumulativa a 14 dias por cada 100.000 habitante nesta fase em que há um “crescimento exponencial” da epidemia “é perigoso”, defendendo que, “no mínimo”, os indicadores deviam ser “completamente reformulados”.
“Neste momento que temos um crescimento exponencial não nos interessa saber o que se passou há 14 dias, interessa o que se está a passar agora”, defendeu.
Esta posição é partilhada por Henrique Silveira, professor e membro do grupo de trabalho oficial do Instituto Superior Técnico para análise da pandemia, que defende que não se pode continuar a insistir numa matriz de risco “cuja fiabilidade nesta conjuntura é praticamente nula devido aos atrasos que têm”.
“Temos que rapidamente mudar a matriz de risco porque na realidade ela é que vai dizer quais são as decisões a tomar”, que têm de ser “mais rápida” disse Henrique Silveira, frisando que não se podem esperar semanas para tomar decisões como já aconteceu.
O investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa Carlos Antunes tem uma opinião contrária, considerando que a matriz de risco deve ser utilizada conforme está, mas defende que deve ser utilizada de “uma forma muito rápida e de uma forma proativa”.
Para Carlos Antunes, o problema não é propriamente a matriz de risco como um instrumento de apoio à decisão, mas tempo que se leva a tomar decisões, nomeadamente em termos concelhios”, salientou Carlos Antunes.
“Temos que agir de forma antecipada e não podem ser medidas gradualistas, temos de atuar com medidas disruptivas por forma a interrompemos de forma rápida o aumento da incidência, porque mesmo que a letalidade seja baixa o impacto da incidência de 3.000, 4.000 mil casos tem repercussões no curto, no médio e no longo prazo que nós não sabemos como vai impactar em termos económicos e sociais”, salientou.
Defendeu ainda que os indicadores da matriz - o índice de transmissibilidade (Rt) e a incidência - deviam ser publicados diariamente e não semanalmente e a decisão ser tomada em função da transição imediata dos indicadores.
Na audição, e em reposta a questões levantadas pelos deputados, Carlos Antunes alertou também para a questão dos recursos de rastreio e do reforço do Serviço Nacional de Saúde.
“Muito pessoal de saúde está distribuído por rastreadores, por vacinação e por testagem e, portanto, eu não sei se o país tem capacidade de recursos numa situação de uma incidência extremamente elevada”, advertiu.
Nesse sentido, disse, tem de se tentar evitar que a incidência se eleve a patamares para os quais não há recursos nem no SNS nem nos sistemas hospitalares.
“A letalidade é mais baixa, os internamentos em enfermarias essencialmente também já são mais baixos, mas nos cuidados intensivos ainda não”, vincou.
Henrique Silveira observou, por seu turno, que os cuidados intensivos têm “um número desproporcionado” de pessoas face ao número de mortes que acontecem atualmente.
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