“Aquilo que posso garantir é que naquilo que depender de mim e de todas as autoridades com as quais estou em contacto permanente [primeiro-ministro, ministra da Saúde e diretora-geral da Saúde], tudo certamente será feito para que aquilo que é transmitido aos portugueses seja verdadeiro”, disse aos jornalistas Marcelo Rebelo de Sousa.
O Presidente Republica realizou hoje à tarde reuniões presenciais e por videoconferência com representantes do setor social, Manuel Lemos da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), e o padre Lino Maia, presidente da Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade Social (CNIS), e o presidente da Câmara Municipal de Ovar, Salvador Malheiro.
Referindo-se ao lapso de terça-feira, que originou a contabilização de um óbito por covid-19 que não se confirmou, Marcelo Rebelo de Sousa alertou para o trabalho envolvido na recolha e transmissão desta informação em todo o país.
“As pessoas não imaginam o que é recolher esta informação na hora, de todo o país, processá-la, calculá-la e transmiti-la. Agora uma coisa é haver lapsos, outra coisa é a preocupação que tem de haver de informação o mais correta possível e que possa destruir rumores”, frisou.
O chefe de Estado considerou que “é natural” em situações de crise surgirem dúvidas e interrogações na cabeça das pessoas sobre a “verdade das informações” e que isso “tem de ser esclarecido permanentemente”.
Presidente da República assume-se como primeiro responsável por zelar pela verdade
Marcelo Rebelo de Sousa assinalou ainda que "tem de haver verdade", porque "para ser possível ganhar uma guerra, naturalmente, aqueles que estão a lutar nessa guerra têm de saber exatamente qual é a situação em cada momento, no que há de bom e no que há de mau".
"E eu disse isso no início e vai ter de ser assim até ao fim da guerra. Vai ter de ser. Se quiserem, eu assumo, como disse na declaração, a responsabilidade primeira de ser o primeiro responsável por estar atento a que também a verdade seja uma característica deste combate coletivo", acrescentou.
O Presidente da República advertiu para o "fator de cansaço" provocado pelo tempo que se levará a atingir o pico da curva epidémica em Portugal, referindo que poderá acontecer apenas em maio, pelo continuado crescimento do número de casos até lá e pela convivência com "um tema único".
Considerando que nestas situações é normal surgir "um conjunto de dúvidas e interrogações e o questionar a verdade das informações", reforçou: "Aquilo que eu posso garantir é que, naquilo que depende de mim e que depende de todas as autoridades com as quais eu estou em contacto perante - o senhor primeiro-ministro, a senhora ministra da Saúde, a senhora diretora-geral da Saúde - tudo certamente será feito para que aquilo que é transmitido aos portugueses seja verdadeiro".
Respondendo à dúvida sobre se "não há mais contaminados do que aqueles que são ali declarados", Marcelo Rebelo de Sousa assinalou que os casos contabilizados "são aqueles que são atestados".
"Eu não diria o que disse a senhora Merkel, que na sociedade alemã acabaria por haver 70% de contaminados. Hoje governantes britânicos disseram que metade da população britânica será contaminada. Numa epidemia, às tantas, ao fim de muito tempo, há uma percentagem da população que conviveu com o vírus, resistiu com as suas imunidades naturais, nem soube que teve esse contacto", prosseguiu.
Segundo o chefe de Estado, "há de haver a oportunidade de verificar mais tarde, com outro tipo de testes, que são testes retirando sangue, que houve muita gente que, como acontece, por exemplo, numa gripe ou noutro tipo de epidemias menos graves, conviveu com a realidade num período limitado de tempo, ficou imunizado e não mais pode contaminar ninguém".
"O país precisa e vai precisar muito do setor social"
Questionado se teme que se rompa a rede de instituições particulares de solidariedade social (IPSS) em Portugal, o chefe de Estado respondeu: "O país precisa muito do setor social. Precisou por razões muito particulares de modo intenso durante a crise económica e financeira. Vai precisar, com os efeitos económicos e sociais da crise da saúde".
"Vai precisar por duas razões. Primeiro, porque esses efeitos vão ser mais longos do que a crise da saúde. Não são penas efeitos durante alguns meses, serão mais longos. Segundo, porque essas instituições cobrem todas as gerações, vão das creches até aos lares, centros de idosos de dia", argumentou.
O Presidente da República referiu que os idosos são "o grupo mais sensível e menos protegido para esta pandemia" e "um grupo que precisa muito desta cobertura social".
"Por isso é que eu pedi para falar com os responsáveis, para me inteirar de que está a ser feito tudo o que está ao seu alcance para manter essa confiança na sociedade portuguesa, porque vai ser muito importante para o futuro, para o próximo e para o longínquo", justificou.
Marcelo Rebelo de Sousa destacou a situação dos lares e disse que lhe foi reportado que "o levantamento que fizeram a nível de país permitia de alguma maneira sossegar as pessoas que ficaram preocupadas" quanto às condições de funcionamento destes equipamentos sociais.
"Daí a preocupação com o ir acompanhando o estado de saúde do pessoal que trabalha nesses lares, daí a preocupação com o seu enquadramento familiar, daí a preocupação com a própria desinfeção dos lares, tudo isso tarefas importantes de que me falaram e que me disseram que estavam a acompanhar muito de perto", prosseguiu.
Ainda sobre este assunto, considerou: "Eu tenho de acreditar naquilo que me disseram esses responsáveis quanto ao que já tinham feito e ao que estão a fazer e ao que vão fazer para garantir que realmente se reduz até ao limite do possível um risco que sabemos que existe".
O chefe de Estado aproveitou esta ocasião para se dirigir à população mais velha: "Renovo o apelo àqueles que, como eu, têm mais de 70 anos, e não exercem cargos públicos ou políticos, para que mantendo os seus passeios higiénicos, sozinhos ou com animais de estimação, também não levem muito longe a tentação dos contactos, porque têm um grau de risco maior do que os outros estratos da população".
"Acho que o passeio higiénico significa, para alguns casos, o encontro com amigos, com companheiros de jogo nos jardins onde que se encontram, damas num caso, sueca noutro caso. Isso está interrompido, isso está suspenso. É um apelo reforçado que eu faço, porque percebo que eles se sintam muitas vezes solitários e queiram voltar aos hábitos que são os hábitos da normalidade, mas não estamos a viver um momento normal", insistiu.
(Notícia atualizada às 20:24)
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