“A perceção que temos, e o que vemos, é que os doentes têm medo de ir ao hospital”, afirmou Teresa Chuva, médica nefrologista do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, em declarações à Lusa.

A médica revelou que o “medo de sair de casa” devido à pandemia da covid-19 está a levar os doentes renais crónicos daquela unidade hospitalar a adiar as consultas médicas e muitos acabam por aparecer nas urgências hospitalares “em estado gravíssimo”.

“Não só entopem o sistema de saúde em situações que eram desnecessárias, como chegam em estado muito crítico e a correr risco de vida”, disse, acrescentando que a maioria dos doentes com insuficiência renal tem outras comorbilidades, nomeadamente, diabetes, hipertensão e insuficiência cardíaca.

“Por muito que os serviços se estejam a esforçar ao máximo por tentar manter as consultas, muitos dos doentes têm medo de ir ao hospital, até para fazer análises”, salientou Teresa Chuva, que também exerce funções noutra unidade hospitalar privada da cidade do Porto.

De acordo com a médica, anualmente, são feitas 1.700 consultas no IPO do Porto a doentes insuficientes renais.

“A doença renal é uma doença silenciosa, o doente não sabe o que se está a passar e nós precisamos do estudo analítico para acompanhar. Se o doente não fizer análises, não somos capazes de acompanhar nem através das teleconsultas”, afirmou Teresa Chuva.

A par da falta de acompanhamento, a médica salientou que o "decréscimo" das referenciações de novos doentes por parte das unidades de medicina geral e familiar é "outro entrave".

“As referenciações novas não estão a acontecer”, disse, acrescentando que doentes sem acompanhamento vão "sobrecarregar os serviços de urgência”.

A médica defendeu por isso a necessidade de alertar estes doentes, lembrando-os que “devem manter o acompanhamento e que as áreas de nefrologia são zonas seguras”.

“Estamos a assustar muito as pessoas para ficarem em casa e isso depois tem o reverso da medalha, o medo faz com que as pessoas não recorram a nada e mesmo até ao serviço de urgência recorrem tarde de mais”, salientou.