“Com o encerramento da fronteira com Espanha devido às medidas de contingência provocadas pela covid-19, se não forem tomadas medidas pelo Governo, antevemos uma verdadeira catástrofe para a economia deste concelho e para a cidade em particular”, disse à Lusa o presidente da Associação Comercial e Industrial de Miranda do Douro (ACIMD), César João.

O também empresário apontou números para a catástrofe: o concelho de Miranda do Douro tem uma capacidade hoteleira de 800 camas e o setor da restauração é capaz de servir cerca de 5.000 refeições diárias. Já o comércio local, virado para o turista espanhol, tem cerca de uma centena de lojas onde a venda de produtos de vestuário, têxtil, material desportivo e alimentação tem um grande impacto económico.

“Os números apontados não podem ser direcionados apenas para o mercado de uma cidade fronteiriça com cerca de 2.500 habitantes. Seria imperioso, para evitar uma catástrofe económica, que o Governo, dentro das medidas de segurança e higiene possíveis, fosse abrindo gradualmente a fronteira com Espanha”, indica o representante do comércio e indústria daquele concelho.

Se há 258 anos (08 de maio de 1762) os espanhóis arrasaram a cidade de Miranda do Douro, durante a “Guerra do Mirandum”, destruindo a praça-forte, onde, na sequência da explosão do paiol da pólvora da estrutura defensiva, morreram mais de 400 pessoas, são agora os mirandeses a chamar pelos espanhóis para ajudar a recuperar a economia local.

“A fronteira com Espanha em Miranda do Douro está como uma mãe para um filho, em que não podem ser separados “, concretizou à Lusa César João.

O empresário lembra que a abertura da fronteira entre Miranda do Douro e Espanha “foi uma verdadeira revolução para a economia local”, o que fez com que Miranda do Douro se tornasse “numa cidade atrativa do ponto de vista turístico e comercial e com alguma pujança económica”.

Ao percorrer as principais artérias comerciais da cidade de Miranda do Douro tais como a Rua do Mercado, Rua 25 de Abril ou Rua da Alfândega ou Centro Histórico, depressa se nota a ausência de turistas, já que as ruas estão despidas e são poucos aqueles que por ali circulam.

“Não há ninguém. O Governo tomou medidas para que o pequeno comércio abrisse portas. Mas abrir para quem? Se não há turismo e se a fronteira com Espanha está fechada, só temos despesa em manter a porta aberta”, desabafou José Mesquita, proprietário de uma casa comercial virada para a retrosaria e têxteis.

Uns metros mais abaixo, Bruno Gomes, empresário do setor da restauração, afiançou que o seu restaurante servia em média 90 refeições diárias durante a semana e ao fim de semana os números disparavam para sala cheia (140 lugares), com fila de espera.

“Recorremos ao serviço de ‘take away’. Estamos a servir uma média de seis refeições por dia. As nossas receitas eram provenientes dos turistas espanhóis “, indica o empresário.

Com os espanhóis em confinamento e com as fronteiras fechadas, só resta aos empresários de Miranda do Douro esperar por melhores tempos e que a pandemia provocada pelo novo coronavírus seja combatida.

“A preocupação não é tanto o presente, mas sim o futuro. Já passámos por datas que eram fortes para o comércio. Porém, estava tudo fechado. Sou otimista por natureza e vou esperar por melhores dias”, disse André Irulegui, um comerciante de artigos têxteis lar.

Apesar do cenário de “catástrofe” económica, apontado pelos comerciantes e empresários de Miranda do Douro, o desemprego ainda não é notório, porque o comércio e a restauração recorreram ao regime de lay off.

“Mas o lay off é uma medida que não dura para sempre. É preciso rever o processo de reabertura de pontos de fronteira que se encontram encerrados”, observou o presidente da ACIMD, César João.

Por seu lado, o presidente da câmara de Miranda do Douro, Artur Nunes, disse que está ser elaborado um plano com um pacote de medidas para apoio aos comerciantes e empresários que será apresentado a muito breve prazo.

Portugal contabiliza 1.114 mortos associados à covid-19 em 27.268 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia.

O país entrou domingo em situação de calamidade, depois de três períodos consecutivos em estado de emergência desde 19 de março.

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