A constante entrada e saída de pessoas e veículos no Hospital das Forças Armadas (HFA) do Porto, não faz adivinhar que nos corredores desta “reserva” do Sistema Nacional de Saúde para o tratamento de doentes covid-19 domine o silêncio.
Dentro dos grandes muros, funcionam dois hospitais distintos, sendo que é na área neoclássica do edifício, construído em 1862 na avenida da Boavista, que estão internados os doentes infetados com o novo coronavírus.
Ainda que o silêncio que se abate sobre os corredores reservados à covid-19 indique que esta será uma manhã calma, as equipas de militares e civis aguardam a chegada de novos doentes, provenientes de quase todos os hospitais do Norte.
Em breve, juntar-se-ão aos 137 que, desde o início da segunda vaga da pandemia, por aqui já passaram e ocuparão várias das 57 camas disponíveis.
“Nunca se sabe bem a que horas chegam”, dada a coordenação de transporte, mas sabe-se que “hão de chegar”, afirma à Lusa, Paula Janeira, major médica responsável pelo internamento covid-19.
A cada nova entrada de doentes, o circuito montando no Hospital Militar do Porto, como é conhecido, “reinventa-se” e a cada saída, também.
“Sempre que um doente entra ou sai temos de ajustar os circuitos”, afirma a médica, explicando que “a gestão é feita diariamente”, pois o que se ganhou em termos científicos na primeira vaga “agora complicou-se na gestão pelo elevado número de doentes”.
António Moreira, enfermeiro supervisor do departamento covid-19, descreve a movimentação de doentes infetados como “atividades logísticas complexas”.
“Cada movimento que temos de doentes implica quase envolver todo o hospital neste processo. Temos de transportar o doente, temos de o integrar. Toda esta logística tem de ser feita”, explica.
Para o tratamento da covid-19 estão reservadas três enfermarias, que outrora ou estavam fechadas, ou serviam de unidade de convalescença e reabilitação, ou de palco para montar planos de contingência.
À entrada de cada uma destas unidades, onde estão afixados avisos, espalhadas setas e amontoadas caixas com material de proteção, não se vislumbram doentes, apenas o vai e vem dos profissionais de saúde.
Também aqui, a cada entrada ou saída, médicos, enfermeiros e auxiliares operacionais vestem e despem, quase que religiosamente, os seus mais recentes fardamentos: luvas, máscaras, óculos, viseiras, toucas e batas.
A missão é só uma, assegura o enfermeiro supervisor, “cuidar com dignidade” os que por aqui passam, maioritariamente, numa fase da vida “já complicada”, uma vez que a média de idades ronda os 80 anos.
“Se aqui há heróis, os doentes também o são”, acrescenta.
Entre a primeira e segunda vaga, todo o equipamento que estava montado “manteve-se” e o hospital estava pronto a “abrir portas quando fosse necessário”, explicou à Lusa António Moura, subdiretor do hospital.
“Logo que foi dada a ordem, começámos a receber doentes”, conta o coronel, explicando que, à semelhança da primeira vaga, foi necessário reforçar o serviço com profissionais dos ramos e pessoal de suporte.
Médicos, socorristas, enfermeiros de base navais, de submarinos e de bases aéreas compõe agora a equipa, composta por 70 profissionais de saúde e 56 auxiliares operacionais, que combatem a covid-19.
“O inimigo é sempre a doença, que não distingue especialidades, nem grupos”, diz o enfermeiro, e para o combater tenta-se “ir buscar energias a sítios onde elas muitas vezes escasseiam”.
Até que se o vença, a missão “sempre honrada” dos que aqui trabalham e cuidam vai manter-se e, sobre o plano de vacinação, apenas reside a certeza de que estão “prontos para o que tiver de ser”, assegura o coronel António Moura.
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