“Mais de 100 casos foram confirmados. A origem e dimensão do surto estão a ser investigados”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros, Ghebreyesus, em conferência de imprensa na sede da organização, em Genebra.

O diretor do programa de emergências sanitárias da OMS, Michael Ryan, afirmou que aquela agência das Nações Unidas tem estado em “contacto próximo” com os colegas na China e espera que o país partilhe publicamente a sequência genética do vírus detetado no surto, que marca um ressurgimento da covid-19 no país onde começou, depois de cerca de 50 dias sem novos casos não importados.

“Quando se tem 50 dias sem transmissão local significativa, este surto é uma preocupação que precisa de ser controlada e investigada e é isso que as autoridades chinesas estão a fazer”, considerou Michael Ryan, admitindo que não será a maior preocupação a nível global, quando noutros países com transmissão comunitária se continuam a registar centenas de novos casos por dia.

A questão, salientou, é que a origem do surto ainda não se conhece, o que é “sempre motivo de preocupação”, sobretudo numa cidade como Pequim, “muito grande, dinâmica e ligada” ao resto do país.

No entanto, recusou para já falar de “uma segunda vaga” da doença na China.

No princípio do mês, uma investigação jornalística da Associated Press revelou que em janeiro passado, quando a pandemia se espalhou ao resto do mundo, a OMS elogiava publicamente a China pelo seu papel e transparência, mas a nível interno queixava-se da demora de Pequim em divulgar informação que teria sido crucial para conhecer melhor o novo coronavírus e mais cedo o conter.

Hoje, quando questionado sobre a sequência genética do vírus identificado no novo surto, Ryan afirmou esperar sem reservas que Pequim a divulgue “em sites públicos”.

“Já o fizeram antes”, declarou, indicando que ainda está por saber se a estirpe responsável pelo contágio em Pequim é “a que circula de forma mais comum na Europa” e se se confirma a hipótese, mais provável, de resultar de transmissão entre seres humanos.

Michael Ryan afirmou que na delegação da OMS na China há “vários epidemiologistas que estão a trabalhar com o Centro de Controlo de Doenças chinês” e que a organização poderá “reforçar a delegação com mais peritos”.

A investigação das origens do surto está a cargo das autoridades chinesas, indicou: “são os países soberanos que investigam e respondem às epidemias nos seus próprios territórios e pedem [à OMS] ajuda à medida que precisam”.

O responsável irlandês referiu que “as autoridades chinesas aprenderam muitas lições nos últimos seis meses sobre como responder à covid-19 e desenvolveram capacidades significativas para o fazer”.

A principal responsável técnica da OMS para a resposta à pandemia, Maria Van Kerkhove, afirmou que no caso de surtos como o que se verifica em Pequim, é preciso perceber “o que juntou esses casos” e porque é que estão ligados.

“O que gostamos de ver é uma reposta imediata e um conjunto completo de medidas” como o isolamento de casos positivos, salientou Michael Ryan, acrescentando que essas ações “têm, em geral, levado à contenção de surtos” noutros países, como Coreia do Sul ou Singapura.

Tal como a China, é importante que “todos os países mantenham a prontidão” na resposta ao novo coronavírus, afirmou Michael Ryan.

Pequim voltou hoje a repor medidas de prevenção de contágio pelo novo coronavírus, com centenas de pessoas alinhadas em hospitais e outras instalações em redor da capital, enquanto as autoridades executavam milhares de testes em trabalhadores e clientes do principal mercado abastecedor de Pequim.

O novo surto parece ter começado no mercado de Xinfadi, o maior de produtos frescos em Pequim, levando a inspeções em mercados de carnes e mariscos na cidade e noutros pontos da China.

A OMS apelou hoje ainda a que não se relaxe a vigilância em torno da gripe comum, salientando que as medidas de restrição impostas pelo confinamento a que a pandemia de covid-19 obrigou levaram a que os países estejam a partilhar menos informação.

Tedros Ghebreyesus indicou que está a começar a época da gripe sazonal no hemisfério Sul e que é preciso que os países partilhem informação sobre o vírus da gripe que circula para se saber que vacinas da gripe são as certas para as cerca de 500 milhões de pessoas que anualmente são imunizadas.

A gripe comum em conjunto com o novo coronavírus podem ter "um impacto ainda pior nos sistemas de saúde" já a braços com as pessoas doentes com covid-19, alertou Ghebreyesus.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 433 mil mortos e infetou mais de 7,9 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 1.520 pessoas das 37.036 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.