Os dados são do relatório “O estado da pobreza em Espanha”, do núcleo espanhol da Rede Europeia de Luta Contra a Pobreza e a Exclusão Social (EAPN-ES), e são relativos a 2021, o primeiro ano em que é possível analisar o impacto da pandemia.

Segundo o documento, que usa métodos e indicadores da União Europeia (UE) e dados do Instituto Nacional de Estatística espanhol, no ano passado, 13,1 milhões de pessoas em Espanha, 27,8% da população, estavam em risco de pobreza e/ou exclusão social.

A pobreza aumentou em 319.000 pessoas em 2021, mas o número é inferior às estimativas feitas inicialmente, que calculavam que perto de 800.000 pessoas passariam a uma situação de pobreza severa por causa da pandemia.

As medidas públicas “de contenção”, com apoios desbloqueados pelo Governo central e pelos executivos das regiões autónomas, o “designado escudo social”, contribuíram “positivamente para paliar boa parte das consequências previstas da crise”, afirmou o coordenador do estudo, Juan Carlos Llano, na apresentação relatório, em Madrid.

O efeito dessas medidas reduziu “a taxa de pobreza em 3,2 pontos percentuais, ou seja, diminuiu em 1,5 milhões [de pessoas] a dimensão da pobreza em Espanha”, acrescentou.

No início da pandemia, havia 4,5 milhões de pessoas em pobreza severa em Espanha, segundo a Rede Europeia de Luta Contra a Pobreza e a Exclusão Social.

O estudo hoje apresentado, sublinharam os autores, mostra que se acentua um novo perfil de pobreza, que abrange cada vez mais pessoas com trabalho e com níveis médios e altos de formação escolar e académica.

“Uma em cada três pessoas pobres está empregada”, afirmou Juan Carlos Llano, que acrescentou que “o trabalho, por si só, não protege da pobreza”, embora seja “preciso ter trabalho para não ser pobre”.

A pobreza é também maior e tem maior impacto em famílias com crianças e, sobretudo, monoparentais, que são, por sua vez, esmagadoramente casos em que o progenitor é uma mulher.

A situação das mulheres é “pior em todos os indicadores”, o que indica que esta é uma questão “estrutural e não conjuntural”, sublinhou o presidente da EAPN-ES, Carlos Susías.

A natureza estrutural da pobreza em Espanha é outros dos aspetos salientados pelos investigadores e dirigentes desta organização, com os estudos a colocarem o país com a quarta taxa mais elevada dentro da UE no índice que mede o risco de pobreza, pessoas com carências materiais e sociais severas e baixa intensidade no emprego.

Atrás de Espanha neste índice estão Roménia, Bulgária e Grécia.

Já no indicador europeu que mede a desigualdade, Espanha tem a sexta pior taxa, atrás da Bulgária, Letónia, Lituânia, Roménia e Portugal.

Estes indicadores refletem a situação acumulada, não dos “últimos anos”, ou seja, a natureza estrutural do problema em Espanha, afirmou Juan Carlos Llano.

Os dados mostram ainda “a insuficiência das estratégias tradicionais” de luta contra estes fenómenos, considerou o investigador, apontando neste ponto também o acentuar dos novos perfis de pobreza, associados a pessoas com emprego e qualificações escolares.

O crescimento da economia “não garante uma redução da pobreza” porque o Produto Interno Bruto (PIB) tem de crescer vários pontos percentuais para a pobreza baixar um, ao mesmo tempo que basta uma contração de um ponto no PIB para a pobreza aumentar vários, afirmou.

O estudo mostra também uma divisão geográfica em Espanha, com a metade norte do território continental (“de Madrid para cima”, nas palavras do coordenador) a ter taxas baixas nos indicadores de pobreza e exclusão, comparáveis com os países mais ricos da UE, enquanto na metade sul se confirmam valores elevados, com destaque para duas regiões de fronteira com Portugal, Extremadura e Andaluzia.