Quase três mil pessoas manifestaram-se esta tarde em Lisboa, num protesto que se insere na iniciativa World Wide Demonstration. Começou, por volta das 15h, no Parque Eduardo VII e desceu a Avenida da Liberdade até terminar no Rossio, onde se concentrou a maioria das pessoas, onde se entoaram cânticos e onde foram proferidos os discursos dos representantes dos diversos movimentos envolvidos.
A maioria dos manifestantes apresentou-se sem máscara de proteção individual e não cumpriu as normas de distanciamento social, duas medidas consideradas como fundamentais para impedir os contágios. Muitos tinham bandeiras de Portugal e cartazes com mensagens de protesto, nos quais se lia: ’Covid-1984’, ‘Devolvam a liberdade’, ‘Deixem as crianças viver’, ‘O vírus são os media’, ‘Sabemos pensar e decidir’ ou ‘Costa, Marcelo e DGS: Vemo-nos em Nuremberga’.
Entre os manifestantes ouvidos pela Lusa, vários foram os motivos invocados para a presença no protesto e houve mesmo quem viesse de propósito num autocarro alugado que saiu do Porto para se fazer ouvir na capital.
José Reis, empregado fabril de 23 anos, foi um desses elementos, ao sair de Vila do Conde para reclamar pela “liberdade da sociedade” portuguesa.
“As pessoas deviam voltar a trabalhar, as crianças precisam de educação e há contas para pagar. Quem deve ter mais cuidado são as pessoas mais velhas, os novos têm um sistema imunitário mais forte”, afirmou, sem deixar de reconhecer a existência do vírus SARS-CoV-2, acrescentando: “Não digo que não haja algum medo. E não digo que não possa ficar de consciência pesada se depois contaminar um familiar”.
Sublinhando que nem todas as críticas são “teorias da conspiração”, ainda assim José Reis manifestou-se cético em relação às vacinas que foram desenvolvidas para tratar a covid-19 e considerou que afetam “o sistema imunitário natural das pessoas”.
Maria Nogueira, de 26 anos, vinha munida de vários cartazes com os seus argumentos contra a forma como a sociedade está a responder à pandemia. Da “censura à comunidade médica e científica em relação aos tratamentos disponíveis”, à suposta falta de fiabilidade dos testes PCR, passando pelo “alarmismo exagerado”, esta jovem defendeu ainda que o uso de máscaras apresenta mais malefícios do que benefícios.
“Uso máscara naquilo que tenho de usar para manter a minha vida normal e por vezes nem uso. Exerço a minha liberdade de respirar. Após a minha investigação e consulta de estudos, decidi que isto é o melhor para a minha saúde”, atirou, considerando que algumas medidas que foram tomadas estão a “destruir a Constituição”.
E mesmo tendo já perdido um familiar para a covid-19, reforçou: “Um teste PCR não é fidedigno, o que é fidedigno é um diagnóstico completo de um médico que saiba distinguir uma gripe de covid. Os testes são a base desta fraude. Há outras maneiras de fazer as coisas, a verdade tem de vir ao de cima”, vincou.
Por sua vez, Carla Ramos, empresária de 46 anos, justificou a vinda a esta manifestação sem máscara pela “confiança” no seu sistema imunitário e por estar “triste com o medo e o caminho que se está a seguir” na forma de lidar com a pandemia. “Não estamos a promover a saúde, estamos a promover a doença”, referiu.
“Ninguém está a negar o vírus, está a contestar-se o exagero das medidas sanitárias, nomeadamente o passaporte imunitário”, explicou, defendendo ainda que “os governos deviam apostar mais numa saúde preventiva”.
Ao longo de mais de três horas de ação de protesto entoaram-se ainda o hino nacional ou ‘Grândola Vila Morena’, de Zeca Afonso. Contudo, o foco foi os discursos dos diferentes oradores, que criticaram a dimensão das medidas de restrição e lembraram as vítimas não covid, que disseram ter ficado sozinhas e esquecidas nesta pandemia.
Vítor Pinto, de 40 anos, foi um dos oradores da tarde, em representação do movimento ‘Verdade Inconveniente’, e confessou que até esperava mais gente na manifestação, lembrando que “estão a ser usurpados vários direitos da Constituição” e que a principal mensagem do protesto de hoje passa pela defesa da liberdade e pela “esperança”.
“É preciso bom senso e proporcionalidade. Estamos a entrar numa ditadura”, frisou este ‘chef’ de cozinha, que disse ter perdido o emprego por causa da pandemia, mas sem deixar de garantir que o protesto não tem uma conotação política. “São grupos inorgânicos da Internet. Toda a gente é apartidária, jamais me meti em politiquices”, ressalvou.
Já Edgar Valente, músico de 29 anos que esteve entre os dinamizadores da manifestação, acentuou a importância de abertura para o “diálogo” e da rejeição de “separatismos” entre quem cumpre as medidas e quem contesta, apontando também muitas críticas ao passaporte europeu de imunidade.
“A união é o mais importante. Temos de optar pelos riscos que queremos correr. Há uma doença muito maior do que esta e essa doença é o medo, que cresce a cada momento. Sempre existiram vírus e a vida tem um crescendo destes confrontos. Como em tudo, existe morte e temos de nos conseguir articular”, disse, finalizando: “As liberdades foram excessivamente restringidas”.
A ação foi organizada a partir da Internet e contou com a vigilância de um dispositivo da Polícia de Segurança Pública, que não registou incidentes, com exceção de alguns autos levantados por consumo de álcool na via pública.
[Notícia atualizada às 19:41]
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