"Quero dirigir dois apelos que me parecem importantes", começou por dizer Graça Freitas na habitual conferência da Direção-Geral da Saúde, depois de António Lacerda Sales ter apresentado os novos dados do boletim de hoje que dão conta de 10 óbitos e novos 377 casos de infeção nas últimas 24 horas.

Primeiro: "Todas as pessoas que neste momento que sabem que estão positivas para Covid, tenham ou não tenham sintomas, e todas as pessoas que são os seus contactos próximos, sem sintomas à partida, e que estão sob vigilância das autoridades de saúde e sob vigilância clínica, têm indicação para ficarem em isolamento. E quero fazer um apelo muito sério para que mantenham esse isolamento até 14 dias após a data de início dos sintomas, para os doentes, a partir da data em que souberam que estavam positivos, para aqueles com teste positivo, ou a partir da data em que souberam que estiveram em contacto com um caso positivo. O isolamento que as autoridades de saúde pedem para as pessoas manter tem a ver com o não transmitir a outros. Portanto, neste momento, que não se continue a propagar a infeção. O nosso país está à beira de, enfim, controlar a situação epidémica e, portanto, temos que fazer um esforço final para que quem está positivo, quem está em contacto com um positivo e quem está com medidas de isolamento, cumpra esse isolamento, não contagie amigos, conhecidos, colegas, familiares. Estas pessoas não devem ir trabalhar, os seus filhos não devem ir à escola sob nenhuma circunstância, nem à creche, nem a nenhum outro sítio público".

Covid-19 em Portugal

Quem suspeitar estar infetado ou tiver sintomas - que incluem febre, dores no corpo e cansaço - deve contactar a linha SNS24 através do número 808 24 24 24 para ser direcionado pelos profissionais de saúde. Não se dirija aos serviços de urgência, pede a Direção-Geral da Saúde (DGS).

A DGS e o Governo criou para o efeito vários sites onde concentra toda a informação atualizada e onde pode acompanhar a evolução da infeção em Portugal e no mundo. Pode ainda consultar as medidas de segurança recomendadas e esclarecer dúvidas sobre a doença.

O Governo também lançou um site que funciona como um guia prático para apoiar cidadãos, famílias e empresas no combate aos efeitos causados pela pandemia.

Poderá ainda acompanhar a cobertura da covid-19 no Especial Coronavírus do SAPO24.

Segundo: "Aproxima-se uma semana de feriados e a época habitual de férias dos portugueses e das pessoas que estão em Portugal mesmo que não sejam portuguesas. Este ano vamos poder fazer férias, mas de forma diferente. Temos que manter o nosso distanciamento físico em relação a outras pessoas que não sejam aquelas com quem habitualmente convivemos. O que é que eu quero dizer com isto, a nossa família, os nossos coabitantes, que estão na mesma casa que nós, que fazem parte do mesmo agregado, podem manter-se juntas. Em relação às outras pessoas, os amigos, os familiares, os conhecidos, aquelas que nos vão prestar serviços nos sítios para onde formos passar férias ou fim de semana, deve ter-se medidas de distância física, utilizar máscara quando for necessário, não partilhar objetos, não partilhar copos, não partilhar garrafas, não partilhar toalhas, não partilhar objetos de um modo geral. Manter a higiene frequente das mãos, se for necessário higienizar as superfícies. Portanto, serão férias, são fins de semana diferentes com outras regras em que nos podemos à mesma descontrair, divertir, sair do nosso sítio habitual, mas com cuidado. Manter a distância física, manter outros métodos de barreira, higienizar as mãos, etiqueta respiratória, desinfeção de superfícies e objetos. Já todos sabemos estas regras, agora é continuar a aplicar. Não descontrair demasiado, como eu disse estamos a sair ou queremos sair dessa epidemia o mais rapidamente possível e portanto vamos fazer o último esforço de contenção social e de um comportamento afetivo à mesma, divertido à mesma, mas com a regra da distância física e de tudo o que ajuda a essa distância física".

A diretora-geral da Saúde disse que estes dois pontos resumem o "grande apelo para os próximos dias, para as próximas semanas e para os próximos meses". "O vírus não desapareceu. Nós gostávamos que tivesse desaparecido, mas ainda não desapareceu e vai continuar, provavelmente, durante mais tempo entre nós", concluiu.

Questionada se os apelos estão relacionados com casos concretos de desobediência às normas das autoridades de saúde pública, Graça Freitas disse que a DGS, juntamente com a academia, tem acompanhado a "flutuação da preocupação das pessoas em relação ao contágio".

"Nesta altura da epidemia, temos alguns indicadores através de estudos que vão sendo feitos, nomeadamente pela academia, de que a perceção de um risco, do perigo, começa a ser menor, as pessoas estão mais aliviadas, estão mais descontraídas. Portanto, se essa perceção é menor, é mais normal que tendam a abandonar o estado de isolamento e confinamento ", explicou a diretora-geral.

"Já passámos por várias fases, fases com mais medo, fases com mais incerteza, fases em que havia um grande desconhecimento sobre a doença, fases em que víamos as imagens de Espanha, fases em que víamos as imagens de Itália, a perceção do risco que as pessoas têm difere ao longo da epidemia e é essa perceção do risco que determina que nós tenhamos determinados comportamentos".

O boletim

Portugal regista hoje 1.465 mortes relacionadas com a covid-19, mais 10 do que na quinta-feira, e 33.969 infetados, mais 377, segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Direção-Geral da Saúde.

Em comparação com os dados de quinta-feira, em que se registavam 1.455 mortos, hoje constatou-se um aumento de óbitos de 0,7%. Já os casos e infeção subiram 1,1%.

Na Região de Lisboa e Vale do Tejo (12.473), onde se tem registado maior número de surtos, há mais 336 casos de infeção (+2,8%).

“A situação em LVT tem sido acompanhada com muita atenção, porque de facto as outras regiões apresentaram uma tendência decrescente, até acentuada, e Lisboa uma tendência estável, mas com números de incidência relativamente elevados em relação ao restante país. Por isso é que em Lisboa temos focado a nossa atenção”, disse Graça Freitas na conferência de imprensa da DGS.

Segundo a diretora-geral da Saúde, tem sido dada “uma atenção enorme” ao serem testados “milhares de pessoas”.

Graça Freita sublinhou que esta testagem “tem o grande objetivo de identificar os casos positivos que não estejam sintomáticos” e retirá-los do convívio habitual para os isolar, evitando que “as cadeias de transmissão se continuem a verificar”.

Além da testagem, Graça Freitas destacou também a “grande intervenção” das autoridades de saúde, autarquias, segurança social e forças policiais que têm “assegurado e garantido” que as pessoas cumpram o isolamento.

A mesma responsável frisou ainda que se trata de um “esforço comunitário muito importante para conseguir que a situação em Lisboa estabilize, comece a descer e acompanhe a do resto do país”.

Na intervenção inicial da conferência de imprensa, o secretário de Estado da Saúde revelou que já foram feitas cerca de 13.500 colheitas para diagnóstico da covid-19 pelo INEM em empresas da Grande Lisboa e na Azambuja.

António Lacerda Sales avançou que na quinta-feira foram realizadas 5.000 colheitas.

A estratégia continua a ser “identificar, testar e isolar estes focos”, acrescentou.

O secretário de Estado foi questionado sobre o aumento do número de internados com covid-19 nos hospitais Beatriz Ângelo, em Loures, e Amadora-Sintra e com o facto de doentes estarem a ser transferidos destas unidades de saúde para outros hospitais devido à falta de camas nos cuidados intensivos.

“Temos uma rede de capacidade ventilação nos hospitais com suficiente expansibilidade para fazer face às necessidades que vierem a surgir”, respondeu, sublinhando que preocupação “é agora centrada na região de LVT”.

António Lacerda Sales deu ainda conta que a taxa de ocupação de camas nos hospitais portugueses é atualmente de 62%, dos quais entre 16 a 20 % é por covid-19.

Outros temas da conferência de imprensa da DGS

Período de férias leva governo a reforçar unidades de saúde algarvias

O secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, anunciou que assinou hoje um despacho a autorizar a “mobilidade temporária de médicos e enfermeiros para serviços e estabelecimentos de saúde situados na área geografia de influência da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve, de acordo com as necessidades publicitadas por aquela administração regional”.

O anúncio foi feito na conferência de imprensa, durante a qual o responsável lembrou que o novo coronavírus também aumentou a necessidade de reforçar os meios humanos naquela região do país.

Todos os anos, por esta altura, o Governo faz um reforço das equipas que estão a trabalhar nos serviços de saúde do Algarve, tendo em conta o aumento de pessoas que chegam à região devido à abertura da época balnear.

Este ano, sublinhou António Sales, acresce a necessidade de ajustamento da prestação de cuidados de saúde nos postos de praia, no âmbito do Plano Verão e no âmbito da situação epidemiológica que o país atravessa.

Os profissionais de saúde poderão ver as vagas na página da ARS e “candidatar-se por e-mail”, explicou o secretário de estado.

Regresso de público na I Liga depende do comportamento dos adeptos

“No futebol, temos que continuar a acompanhar a situação. Como se estão a portar, se o comportamento dos adeptos vai no sentido de se poder avançar para a abertura ou não [dos estádios]. O comportamento das pessoas difere de contexto para contexto. Temos sempre feito avaliação do risco e é perante isso que recomendamos medidas. Mas, ainda não sabemos se nas próximas semanas vão ser abertos os estádios”, disse Graça Freitas.

“Não sei responder se vão estar criadas condições nas próximas semanas ou não para que se mude o parecer sobre o futebol. Temos que ver. Só agora começámos. Vamos no segundo dia de jogos. Temos que esperar um bocadinho para ver se corre bem”, acrescentou.

Na quarta-feira, após quase três meses de paragem devido à covid-19, a I Liga regressou para disputar as 10 jornadas em falta até ao final do campeonato, para já com todos os jogos à porta fechada.

Rede de cuidados continuados sem registo de óbitos desde 22 de abril

António Lacerda Sales especificou que na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) ocorreram 15 óbitos, mas desde o dia 22 de abril que não se regista qualquer óbito nesta rede.

Nos restantes lares de idosos, registaram-se 529 óbitos, 273 dos quais na região Norte, 141 no Centro, 109 em Lisboa e Vale do Tejo, um no Alentejo e cinco no Algarve, acrescentou o secretário de Estado.

António Lacerda Sales disse que 13 unidades da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados registam atualmente casos positivos de covid-19, num universo de 362.

“São hoje 26 os doentes infetados com coronavírus, o que representa uma diminuição em relação aos últimos dias”, sublinhou António Sales.

Segundo o secretário de Estado, desde 09 de março que foram transferidos cerca de 4.800 doentes que estavam nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para a rede de cuidados continuados.

O governante disse ainda que, desde 09 de março, foram encontradas 490 respostas sociais, “permitindo libertar camas hospitalares”.

O boletim em detalhe

A região Norte continua a registar o maior número de infeções, totalizando 16.834, seguida pela região de Lisboa e Vale do Tejo, com 12.473, da região Centro, com 3.789, do Algarve (380) e do Alentejo (263).

Os Açores registam 140 casos de covid-19 e a Madeira contabiliza 90 casos confirmados, de acordo com o boletim hoje divulgado.

A região Norte continua também a ser a que regista o maior número de mortos (803), seguida da região de Lisboa e Vale do Tejo (387), do Centro (244), do Algarve e dos Açores (ambos com 15) e do Alentejo, que regista um óbito, adianta o relatório da situação epidemiológica, com dados atualizados até às 24:00 de quinta-feira, mantendo-se a Região Autónoma da Madeira sem registo de óbitos.

Segundo os dados da Direção-Geral da Saúde, 744 vítimas mortais são mulheres e 721 são homens.

Das mortes registadas, 989 tinham mais de 80 anos, 280 tinham entre os 70 e os 79 anos, 130 tinham entre os 60 e 69 anos, 46 entre 50 e 59, 17 entre os 40 e os 49. Há duas mortes registadas entre os 20 e os 29 anos e uma na faixa etária entre os 30 e os 39 anos.

A caracterização clínica dos casos confirmados indica que 421 doentes estão internados em hospitais, dos quais 58 em Unidades de Cuidados Intensivos.

A recuperar em casa estão 11.503 pessoas.

Os dados da DGS precisam que o concelho de Lisboa é o que regista o maior número de casos de infeção pelo novo coronavírus (2.555), seguido por Vila Nova de Gaia (1.580), Porto (1.401), Sintra (1.521), Matosinhos (1.285), Braga (1.233) e Loures (1.172).

Desde o dia 01 de janeiro, registaram-se 334.923 casos suspeitos, dos quais 1.636 aguardam resultado dos testes.

Há 299.318 casos em que o resultado dos testes foi negativo, refere a DGS, adiantando que o número de doentes recuperados subiu para 20.526 (mais 203).

A DGS regista também 28.088 contactos em vigilância pelas autoridades de saúde.

Do total de infetados, 19.402 são mulheres e 14.567 são homens.

A faixa etária mais afetada pela doença é a dos 40 aos 49 anos (5.693), seguida da faixa dos 50 aos 59 anos (5.564) e das pessoas com idades entre os 30 e os 39 anos (5.226).

Há ainda 4.626 doentes acima dos 80 anos, 4.610 com idades entre os 20 e os 29 anos, 3.658 entre os 60 e 69 anos e 2.667 entre 70 e 79 anos.

A DGS regista igualmente 755 casos de crianças até aos nove anos e 1.170 jovens com idades entre os 10 e os 19 anos.

De acordo com a DGS, 40% dos doentes positivos ao novo coronavírus apresentam como sintomas tosse, 29% febre, 21% dores musculares, 20% cefaleia, 15% fraqueza generalizada e 11% dificuldade respiratória.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 387 mil mortos e infetou mais de 6,5 milhões de pessoas em todo o mundo.

Mais de 2,8 milhões de doentes foram considerados curados pelas autoridades de saúde.

*Artigo corrigido às 18h08 com retificação do número de internamentos após atualização da DGS