Ao início da noite de terça-feira, dois aviões da TAP partiram de Lisboa para as ilhas cabo-verdianas do Sal e de Santiago (Praia), transportando várias dezenas de cabo-verdianos em voos de repatriamento – os únicos autorizados por Cabo Verde devido à pandemia da covid-19 – para o arquipélago.

Regressaram durante a madrugada com centenas de portugueses que já tinham bilhete na transportadora aérea nacional e que viram os voos na TAP cancelados, face à proibição de voos internacionais decretada na semana passada pelo Governo cabo-verdiano, como medida preventiva da pandemia.

Ao fim de mais de cinco horas de espera no aeroporto, Maria Chaves e o marido, turistas portugueses na Praia, desesperavam, sem lugar no avião de regresso a Lisboa.

“Estávamos na lista, depois vieram dizer que o avião tem lugares vazios, mas peso a mais. E agora ficamos aqui”, desabafou, revoltada, à Lusa. O casal fica agora sem previsão de regresso a casa, depois de verem centenas de outros entrarem para as salas de embarque.

“Tanta coisa a dizer para não irem para os aeroportos sem bilhetes, por causa dos vírus. A nós mandam-nos ir, que temos bilhetes, e depois fazem isto”, retorquiu o marido, Jorge Chaves.

Inconformado no aeroporto estava também Manuel Duarte, que, na companhia da mulher, esperou quatro horas com uma promessa de voltar a Lisboa: “Ligam-me de Portugal para ir para o aeroporto que o voo ia sair agora, que iam fechar tudo. Antes era só para o dia 27, mas chego aqui e não tenho viagem. Fico cá fora a ver a banda passar”, criticou.

A Lusa constatou no aeroporto da Praia vários casos de portugueses que, com e sem bilhete de regresso, tentaram, sem sucesso, um lugar neste voo, o único conhecido de regresso a Lisboa, exigindo explicações da companhia.

Ao início da noite de terça-feira, a TAP divulgou que realizou voos para Cabo Verde e para Angola, “missão com o objetivo de trazer de volta a casa e às suas famílias, mais de mil portugueses, e a levar carga médica e produtos alimentares para África”.

Para quarta-feira referiu que está previsto um voo semelhante para a Guiné-Bissau e no dia seguinte para São Tomé e Príncipe.

No sentindo inverso, 139 passageiros cabo-verdianos chegaram à Praia no mesmo avião, num voo de repatriamento organizado pelo Governo de Cabo Verde. À chegada, adultos e crianças foram transportados de imediato para os três hotéis providenciados pelo Governo para cumprirem o período de quarentena obrigatória, previsto no plano nacional de contingência em vigor no país.

“As pessoas estão informadas e assinam um documento em que assumem que vão cumprir a quarentena. Vão estar 15 dias sem contactar com as famílias”, explicou o Diretor Nacional de Defesa, o coronel Armindo Sá Miranda, que coordenou a operação no aeroporto da Praia.

Cabo Verde registou até ao momento três casos da covid-19, doença provocada por um novo coronavírus, todos localizados na ilha da Boa Vista, um dos quais resultou, segunda-feira, em óbito, um turista inglês de 62 anos.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 400 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram cerca de 18.000.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.