Em entrevista à CMTV, Rui Rio voltou a criticar os apoios previstos pelo Governo à comunicação social, que passam pela compra antecipada de publicidade paga para compensar a perda de receitas publicitárias devido à pandemia de covid-19.

"As empresas de comunicação social são empresas iguais às que fabricam móveis, sapatos, têxteis. Se têm uma dificuldade, devem ter todos os apoios que existem para todas as empresas", afirmou, dizendo discordar de uma subsidiação especial.

Rio admitiu, contudo, que pode ser "mais simpático dar dinheiro à comunicação social", uma vez que o Governo precisa deste setor para "passar a sua mensagem".

"Mas isso não é um argumento de interesse nacional, é mais partidário", apontou.

Na entrevista, o líder do PSD foi ainda questionado se defende para a TAP um empréstimo ou um aumento da participação do Estado.

"É preciso aferir também a viabilidade da empresa. É uma intervenção estratégica, mas tem limites, tem de ser feito com plano de negócios e com contas, para que possamos salvar ou não a TAP, mas salvar mesmo, não é dar balão de oxigénio", afirmou, sublinhando que "a TAP é uma empresa tecnicamente falida".

Rui Rio recusou que, se o Estado aumentar a sua participação na TAP, se trate de uma nacionalização indireta.

"É uma capitalização que o privado não está capaz de acompanhar, eu espero que esteja, mas se o Estado vier a entrar com mais força agora não quer dizer que fique eternamente, pode ficar quatro ou cinco anos até aparecer algum interessado na sua participação", disse.

O Governo está a analisar a eventual concessão de apoios públicos à TAP, para assegurar a sua continuidade, segundo o relatório e contas da empresa pública Parpública, que detém 50% da companhia aérea.

Rio quer Ministério Público “muito atento” a ajustes diretos

Na mesma entrevista, Rui Rio foi questionado sobre uma notícia avançada na quinta-feira pelo jornal Correio da Manhã, segundo a qual o Ministério da Saúde está a fazer negócios milionários por ajuste direto, sem publicar ou assinar contrato escrito, com fornecedores de equipamentos de proteção individual, tais como máscaras e álcool em gel, num montante total de 79,8 milhões de euros entre de meados de março e 23 de abril

"Vejo não é mal, é muito, muito mal. Uma coisa é percebermos que o Estado e as autarquias, no auge da pandemia, têm de comprar mascaras, testes e não podemos fazer um concurso público e ficar meses à espera. Coisa diferente é quando não é um ajuste direito de milhares de euros, mas de milhões, e depois é do amigo daqui ou dali", afirmou.

O líder do PSD disse estar "muito preocupado" com esta possibilidade e considerou "inadmissível" se "alguém começa a privilegiar uns amigos ou começa a tentar ganhar dinheiro" com a doença.

"Se isso aconteceu ou vier a acontecer, acho altamente reprovável e no PSD vamos estar muito atentos - para dentro e para fora, para os do meu partido ou de outro - e o que eu espero é que o Ministério Público esteja muito atento", apelou.

Questionado sobre a situação do secretário de Estado do Desporto, João Paulo Rebelo, que confirmou ter sugerido a empresa de ex-sócio para testes à covid mas negando o favorecimento, Rui Rio disse não querer pronunciar-se sobre casos concretos.

"Não vou fazer de juiz, pode ter sido feito com má intenção ou por ser um dos poucos fornecedores que existia, não quero falar sobre nenhum caso em concreto", afirmou.

O Ministério da Saúde comprometeu-se na terça-feira a divulgar um relatório com os "procedimentos elaborados por ajuste direto" para combater a pandemia, com as respetivas razões que justificaram "a impossibilidade" de recorrer a "outro tipo de procedimento".

Na entrevista, o líder do PSD disse não estar "nada arrependido" de "ajudar o Governo a ter êxito" no combate à pandemia de covid-19, mas recusou que tenha suspendido a oposição, destacando as críticas "fortes" que fez às medidas excecionais de libertação de reclusos.

Rio reiterou que "a latitude do PSD para aprovar um Orçamento Suplementar" relacionado com a pandemia "será muito grave", mas quanto à proposta orçamental para o próximo ano recusou dar "um cheque em branco" ao executivo.

"No Orçamento para 2021, temos de compreender que a situação do país é muito difícil, não podemos ser tão rigorosos em torno dos nossos princípios como numa situação normal, mas aí não vamos passar um cheque em branco, deixe vir o orçamento e logo vemos", referiu.

O líder do PSD considerou que a austeridade já existe em Portugal, com mais pessoas no desemprego e muitas com um corte de um terço nos salários quando em situação de `lay off´, e manifestou-se mais favorável a apoios ao investimento privado, via fundos europeus, do que ao público.

Questionado sobre qual pode ser o sinal de alerta para voltar atrás no plano de abertura gradual da economia, Rio foi claro.

"Abrimos no início da semana, o vírus precisa de uma semana a duas para se manifestar, se daqui por semana e meia o número de infetados começar a subir tivemos azar, temos de andar para trás", disse, embora alertando que seria "dramático" em termos sociais voltar a fechar a economia.

Sobre a reabertura das aulas presenciais para os alunos do 11.º e 12.ºanos, Rio disse concordar que os primeiros a regressar sejam os "jovens mais velhos", que já têm noção da necessidade de distanciamento, mas não se pronunciou sobre o plano concreto do Governo, que disse desconhecer.