“Ninguém sabe bem o que podemos esperar, mas, como aconteceu com o desconfinamento, acho que a probabilidade de termos mais casos é grande. Que vamos ter mais contágios é uma certeza, agora, vai depender do nível de transmissão e isso, ninguém sabe concretamente”, disse à Lusa Didier Cabanes, diretor do centro de testagem à covid-19 criado no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), no Porto.
Ainda que o futuro seja incerto, o investigador acredita que a descontração associada às férias de verão e o “relaxamento” das medidas de higiene e distanciamento social podem vir a “aumentar o risco” de novos casos de covid-19 nos próximos meses.
“Uma coisa é quando as pessoas estão a trabalhar, em que cumprem, inevitavelmente, as normas de higiene e segurança, mas quando estão com a família ou os amigos, num contexto de férias, é diferente, há uma maior descontração”, referiu o líder do grupo Microbiologia Molecular do i3S.
Associada a esta descontração e relaxamento, acresce a chegada de turistas e de emigrantes ao país, algo que o investigador, que é também coordenador da Unidade de Infeção e Imunidade do IBMC – Instituto de Biologia Molecular e Celular, não dúvida de que “acarreta ainda mais riscos”.
“Não há dúvida nenhuma de que o risco é maior. O facto de recebermos pessoas que podem vir de qualquer país da Europa, alguns com níveis de contágio elevados, acarreta mais riscos”, afirmou, dizendo, no entanto, entender a “difícil decisão” que o Governo “tinha em mãos”.
“A decisão que foi tomada cá foi tomada por todos os países da Europa e não há dúvidas de que os países e as economias não podem parar. O Governo tem de gerir duas coisas: o risco da saúde e o risco de o país parar. O impacto já está a ser enorme, se parasse durante o verão, a dificuldade do país em recuperar ia ser ainda mais difícil”, considerou.
No entender de Didier Cabanes, a gestão de novos casos e aquilo que ditará se a transmissão será “descontrolada ou controlada" dependerá, efetivamente, de duas questões: da capacidade de as pessoas respeitarem as medidas de segurança e higiene, e da capacidade do sistema detetar os casos, testá-los e isolar os que testarem positivo.
“Se isto acontecer, se for controlado, acho que podemos passar o melhor possível o verão, sendo certo de que alguns casos, de certeza, vamos ter”, afirmou, salientando ainda que a “conjugação” entre o final de férias e regresso ao trabalho pode vir a tornar-se uma situação “complicada”.
“Além desta despreocupação, quando as pessoas regressarem ao trabalho, há a mudança da estação. O outono é o momento onde o vírus [da gripe] aparece e, ainda que tenhamos uma fase melhor durante o verão, a conjugação das duas coisas pode vir a tornar os meses de setembro e outubro complicados”, salientou.
Acrescentando, no entanto, que tudo dependerá da capacidade de cada um “de ter consciência de que a pandemia não passou, o vírus [SARS-CoV-2] ainda está a aqui e se os cuidados pararem, o risco é muito grande, sobretudo porque não há medicamento, nem vacina”.
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