“Estas medidas são as adequadas e a meio da próxima semana podemos ter indicações sobre o seu impacto e sobre a necessidade de serem alteradas”, disse à agência Lusa o professor de microbiologia da Universidade Autónoma de Madrid, José António López Guerrero.
A Espanha é um dos países mais atingidos pelo novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, que já infetou mais de 250.000 pessoas em todo o mundo, das quais mais de 10.400 morreram.
Para López Guerrero, Portugal vai poder aprender com a experiência de Espanha, que tomou medidas mais cedo, mas num estágio mais avançado da propagação do vírus.
Este catedrático, que também é investigador, considera que “Espanha será o espelho onde Portugal se vai poder olhar”.
Com um território e uma população mais de quatro vezes maior do que Portugal, a Espanha teve até agora quase 20.000 infetados com o novo coronavírus, dos quais mais de 1.000 pessoas morreram.
A catedrática de Epidemiologia da Universidade Europeia de Valência Patricia Guillem, é mais crítica sobre as decisões tomadas até agora pelo Governo liderado pelo socialista Pedro Sánchez, defendendo que se deviam ter tomado medidas “mais drásticas e mais cedo”.
O executivo espanhol decidiu no último sábado instaurar o “estado de emergência” e aprovou medidas que incluem a proibição de todos os cidadãos de andarem na rua, a não ser que seja para irem trabalhar, comprar comida ou à farmácia.
“Em Espanha há demasiadas pessoas a trabalhar fora de casa o que provoca que haja maiores probabilidades de contágio com outras pessoas”, sustenta a catedrática, que preferia uma “paragem” quase total da atividade económica e o confinamento das grandes cidades e comunidades autónomas “para impedir de forma efetiva novos contágios”.
Para Patricia Guillem “é preferível parar tudo durante 20 dias do que andar com meias medidas e ter mais quatro meses de luta contra a pandemia”.
A catedrática também alertou para outros os problemas que vão aparecer com o facto de as pessoas ficarem em casa.
“Ao ficar em casa, a saúde mental das pessoas vai-se deteriorar e vão aparecer ou agravar-se outras doenças, como diabetes, hipertensão e colesterol”, afirmou.
A Lusa também falou com o microbiologista da Clínica Universidade de Navarra Gabriel Reina, que considerou as medidas tomadas pelo executivo como “necessárias”, devendo ter “um impacto 14 dias depois de terem sido tomadas”.
“Assiste-se a um aumento de casos, mas esperamos que no prazo de 14 a 21 dias a curva [de casos] comece a baixar”, disse o catedrático, que considerou “acertado” as comunidades autónomas terem tomado inicialmente medidas consoante a sua situação, para em seguida o Governo central ter tomado decisões a pensar na totalidade do país.
Quanto à situação de Portugal, que não conhece muito bem, considerou positivo o país estar a beneficiar da experiência de outros e tomar decisões quando ainda há poucos casos: “Ao tomar medidas precoces vai impedir o aumento exponencial dos casos e evitar a saturação dos hospitais”, afirmou.
“Penso que as medidas que estão a ser tomadas vão funcionar, mas mesmo quando as coisas melhorarem, é fundamental continuarmos a ser vigilantes”, concluiu Gabriel Reina.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, infetou mais de 250 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 10.400 morreram.
Das pessoas infetadas, mais de 89.000 recuperaram da doença.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se já por 182 países e territórios, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
O continente europeu é aquele onde está a surgir atualmente o maior número de casos, com a Itália a tornar-se hoje o país do mundo com maior número de vítimas mortais, com 3.405 mortos em 41.035 casos.
A Espanha regista 1.002 mortes (19.980 casos) e a França 264 mortes (9.134 casos).
A China, por sua vez, informou não ter registado novas infeções locais pelo segundo dia consecutivo, embora o número de casos importados tenha continuado a aumentar, com 39 infeções oriundas do exterior.
No total, desde o início do surto, em dezembro passado, as autoridades da China continental, que exclui Macau e Hong Kong, contabilizaram 80.967 infeções diagnosticadas, incluindo 71.150 casos que já recuperaram, enquanto o total de mortos se fixou nos 3.248.
Destaque também para o Irão, com 1.433 mortes em 19.644 casos.
Vários países adotaram medidas excecionais, incluindo o regime de quarentena e o encerramento de fronteiras.
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