“Para já, existe vontade política dos Estados-membros da CPLP de, no futuro, poder haver uma representação permanente da CPLP em Bissau. Mas isso vai depender de condições financeiras que, obviamente, não estão reunidas”, afirmou Francisco Ribeiro Telles.

Além disso, “tendo em conta o que se passou este ano na Guiné-Bissau, o que a CPLP disse e comunicou em momentos decisivos e a prestação do embaixador de Angola, juntamente com o de Portugal e do Brasil, neste momento, talvez não considerasse prioritária a instalação de uma missão permanente da CPLP em Bissau”, disse o diplomata.

Durante a crise política na Guiné-Bissau, que antecedeu a realização da primeira volta das eleições presidenciais “a preocupação foi que a comunidade internacional, de certa forma, falasse a uma só voz e houvesse uma concertação permanente entre as organizações internacionais que estão na gestão do país. E isso foi conseguido (…) e foi um elemento muito importante e (…) dissuasor para eventuais aventuras”, defendeu.

O responsável da CPLP negou que a posição da comunidade internacional naquela tenha condicionado os resultados da primeira volta das presidenciais no país, considerando que se criaram “condições para que as eleições ocorressem num ambiente de normalidade e estabilidade política”.

A CPLP, através do grupo que integra em Bissau [o designado P5], e nomeadamente da liderança do embaixador de Angola, “tem feito um papel muito positivo em relação aquilo que é a doutrina da CPLP” sobre a Guiné-Bissau.

O P5 é composto pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO, União Europeia, as Nações Unidas, a União Africana e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, representada pelo embaixador de Angola.

Aliás, para o diplomata Ribeiro Telles, “desde há muito tempo que a CPLP não tinha uma presença ativa na situação da Guiné-Bissau. Mas hoje é reconhecido por todos, inclusive pelo próprio governo da Guiné-Bissau, que o papel da CPLP foi determinante, ou foi muito importante, para a estabilização da situação política” no país, na crise mais recente que atravessou.

Por isso, “estamos satisfeitos com o trabalho que realizámos até agora”, afirmou, acrescentando que a representação permanente em Bissau “é uma questão que só se virá a por quando a CPLP tiver condições financeiras para a fazer”.

Porque abrir uma representação “é sempre um envelope financeiro apreciável e que, neste momento, não estamos em condições de o realizar”, concluiu.

Por agora, a CPLP vai estar na segunda volta das presidenciais guineenses com a mesma missão de observação eleitoral com que esteve na primeira volta.

Segundo Francisco Ribeiro Telles a missão de observação eleitoral da CPLP para a segunda volta das eleições na Guiné-Bissau, que se realizam a 29 de dezembro, vai ter o mesmo formato e a mesma liderança que a da primeira volta das eleições e estará no país a partir de hoje.

Assim, tal como na primeira volta das presidenciais, que correu a 24 de novembro último, a missão da CPLP será liderada pelo ex-ministro dos Negócios Estrangeiros moçambicano Oldemiro Balói e é composta pelos mesmos 23 elementos.

A crise política na Guiné-Bissau, que já se arrastava há vários meses, agravou-se quando o Presidente do país, José Mário Vaz, a um mês da data marcada para a primeira volta das presidenciais, demitiu o Governo liderado pelo primeiro-ministro, Aristides Gomes, por decreto presidencial, na sequência de uma reunião do Conselho de Estado.

José Mário Vaz nomeou de seguida um novo primeiro-ministro que não chegou a exercer funções.

As tensões políticas subiram de tom e a comunidade internacional interveio e tentou controlar a situação de forma a assegurar a realização das eleições, que acabaram por correr na data prevista.

O ainda Presidente em funções e também candidato às eleições, saiu derrotado na primeira volta.

A segunda volta, no próximo dia 29, será disputada entre Umaro Sissoco Embaló, apoiado pelo Movimento para a Alternância Democrática (Madem-G15, líder da oposição no parlamento), e Domingos Simões Pereira, apoiado pelo PAIGC (no Governo).

A CPLP tem como estados-membros Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.