“Adolescence Free of Mobile Phones,”, em Barcelona, é um grupo com mais de 10 mil membros e os pais que o integram têm estado a fazer campanha ativa na escola e junto de outros pais, persuadindo-os a não comprar smartphones aos filhos até à idade de 16 anos.
Iniciativas como estas, e em particular os alertas sobre conteúdos de violência e pornografia que circulam entre redes de crianças e jovens, levaram a que o próprio governo espanhol tomasse medidas e tivesse determinado que no ensino básico não há telemóveis, colocando a fasquia etária para o seu uso em ambiente escolar nos 12 anos.
Também em Inglaterra, um movimento de pais que começou em Suffolk, Parents United for a Smartphone-Free Childhood, cresceu rapidamente via Whatsapp e alastrou à maior parte dos condados ingleses. Todos com o mesmo propósito: poder limitar a idade em que smartphone passa a ser utilizado por crianças e jovens
Os dados partilhados pela entidade reguladora dos media em Inglaterra, a Ofcom, mostram que 55% das crianças entre os entre os 8 e os 11 anos têm um smartphone e que os números sobem para 97% aos 12 anos, que se torna assim, na prática, uma espécie de idade “oficial” para se ter esse tipo de equipamento. Mas há mais números: uma em cada cinco crianças entre os 3 os 4 anos também tem um smartphone.
Em Espanha, o Governo estima que 25% das crianças de 12 anos ou menos tenham já estado expostos a pornografia online e esse valor sobe para 50% para jovens até aos 15 anos. O primeiro-ministro, Pedro Sánchez, chegou mesmo a considerer que o país enfrenta “uma autêntica pandemia” de pornografia dirigida a menores.
O tempo excessivo de ecrãs parece também afetar mais crianças oriundas de meios mais desfavorecidos. Um estudo a Gasol Foundation, em Espanha, mostrou que este grupo passa, em média, mais 16 dias por ano em frente a um ecrã do que crianças de famílias com maiores recursos (e têm menos 6 dias de exercício físico).
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Um dos colégios da elite inglesa, Eton, onde estudaram vários membros da família real, anunciou há poucas semanas que os novos alunos, que iniciam o ano letivo em setembro, não vão poder levar smartphones e, em alternativa, irão receber um equipamento do próprio colégio, equivalente aos telemóveis mais básicos
O problema não está a ser endereçado apenas no mundo ocidental. Na China, a Administração do Ciberespaço determinou que os menores de idade não possam aceder à internet nos telemóveis entre as 22h00 e 6h00 da manhã. Os jovens entre os 16 e os 18 anos só podem usar a internet 2 horas por dia e entre os 8 e os 15 anos, uma hora por dia. Abaixo dos 8 anos, apenas 40 minutos.
Também nos media surgem novos projetos que propõem soluções que alterem o consumo de media digital entre ciranças e jovens. É o caso, por exemplo do Sustainable Media Center, sediado em Nova Iorque e que se propõe atuar no sentido de impedir as tecnológicas de usar algoritmos que condicionam a informação distribuída e, mais do isso, podem induzir comportamentos potencialmente perigosos para os mais jovens e vulneráveis.
Há cerca de um ano, em entrevista ao SAPO24, Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (Andaep), afirmava que"a maior parte das escolas não estão a proibir o telemóvel" e não faz sentido "negar o evoluir natural da sociedade".
Ainda assim, são várias escolas e pais que também se têm envolvido nesta discussão que levou mesmo uma petição à Assembleia da Republica. Nessa altura, o então ministro da Educação, João Costa, afirmou ser mais favorável à promoção de hábitos saudáveis do que à proibição e disse que iria pedir um parecer ao Conselho das Escolas. Um ano depois, a discussão está longe de estar encerrada.
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