De acordo com o jornal britânico The Guardian, o menino de oito anos esteve detido sobre custódia policial durante uma semana, tendo sido libertado sob fiança — a publicação sabe da identidade da criança e da sua família, mas optou por não revelá-la para salvaguardar a sua segurança.
O crime em causa terá sido perpetrado quando a criança urinou num tapete destinado à leitura na biblioteca de uma madrassa, escola religiosa de ensinamento islâmico, em Rahim Yar Khan, na província do Punjab, junto à fronteira com a Índia.
Devido a este caso, a família do menino teve de se esconder para se proteger da fúria da população local, já que faz parte da comunidade hindu, credo religioso minoritário na região. Falando de uma localização desconhecida, um membro da família da criança disse ao The Guardian que o rapaz "nem tem noção quanto a questões de blasfémia e foi falsamente implicado nestas matérias. Ele não percebe qual foi o seu crime nem porque é que esteve preso uma semana".
Acusações de blasfémia são comuns no Paquistão, especialmente contra minorias religiosas, mas não há registo de terem sido levantadas contra alguém assim tão novo, sendo que esta decisão tem provocado ondas de choque no país.
Além disso, apesar de serem raro condenar-se à morte pelo crime de blasfémia (ainda que tal pena esteja prevista), os acusados sofrem frequentemente ataques por parte de multidões.
Foi o que aconteceu desta vez. Muitos hindus tiveram de fugir das suas casas, refere o mesmo jornal, depois de uma multidão muçulmana ter atacado um templo com paus e barras de ferro em revolta à libertação da criança sob fiança.
"Nós deixámos as nossas lojas e trabalhos, toda a comunidade está assustada e tememos represálias. Não queremos voltar a esta área, não vemos ações concretas a serem tomadas quanto aos culpados ou para salvaguardar as minorias a viver aqui", disse também o membro da família do rapaz.
De acordo com um relatório de um gabinete dos EUA para a liberdade religiosa internacional publicado no ano passado, o Paquistão é o país que mais casos registou em 2020 de motins e violência por parte de multidões enfurecidas, assim como ameaças de ataques, devido a casos encarados como blasfémia.
Em dezembro do ano passado, por exemplo, um templo hindu com mais de um século foi destruído por uma turba de muçulmanos conservadores na província de Khyber Pakhtunkhwa.
Quanto a este caso em concreto, a polícia local já fez saber que está "a perseguir os atacantes e equipas estão a fazer rusgas para prender os culpados, mas ainda não houve detenções.
Já o primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, condenou o ataque, pressionou a polícia a agir e garantiu que o Governo vai financiar as obras de restauro do templo. Na Índia, o ministério dos Negócios Estrangeiros protestou formalmente o ataque e exigiu a segurança das famílias hindu a morar no Paquistão.
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