Ter um filho hiperativo pode ter a sua origem na alimentação da mãe durante a gravidez. Açúcares e alimentos ricos em matéria gorda são produtos a riscar do plano de alimentação nos meses de gestação, segundo uma equipa de investigadores da King’s College London e a da Universidade de Bristol.
Duas em cada cinco crianças com problemas comportamentais têm diagnosticada hiperactividade, uma perturbação ao nível comportamental resultante do mau funcionamento de certas partes do cérebro. Mas alimentação da mãe não éo único factor de alerta. Outro estudo, avançado por investigadores das Universidades de Cardiff e do Medical Research Council de Bristol, dá conta das perigosas relações entre a toma de paracetamol e casos de hipertatividade. O popular analgésico, usado para a redução da febre e como anti-inflamatório, é referido pela segunda vez como uma causa provável da hiperatividade. "Aumenta o risco de desenvolvimento de problemas comportamentais nos bebés", pode ler-se, sendo que os investigadores alertam que este é "apenas" um dos múltiplos factores que tem influência durante a gravidez.
O SAPO24 falou com a diretora da Associação Portuguesa da Criança Hiperativa (APCH), Linda Serrão, que revelou os problemas que existem, nomeadamente no sistema de ensino, para deteção e acompanhamento destes casos: "os professores não tem formação, nem a informação suficiente sobre esta patalogia". Na opinião de Linda Serrão "as escolas deviam ter um psicólogo educacional". Diz mesmo que "a escola é leviana no facto de achar que pode fazer uma sinalização ou avaliação no momento adequado", nomeadamente, refere, porque as "avaliações na escola são tardias".
A Associação que Linda Serrão dirije ajuda os pais numa fase inicial e faz o diagnóstico da criança com o auxílo e uma equipa multidisciplinar. A presidente da APCH refere que a hiperatividade "não é uma doença, é uma patalogia", e que "é hereditária e surge, na maior parte das vezes, através da influência da parte masculina". É por esse motivo que "tem algumas dúvidas" em relação aos resultados destes estudos.
O Dr. Edward Barker, do departamento de psicologia do King's College Londre, diz aos pais com filhos hiperativos que estes "não se devem culpar a eles próprios, porque a alimentação é apenas um factor entre vários". A hiperactividade é "um complexo problema psiquiátrico com múltiplas causas". "A alimentação pode ser importante, mas não tão importante como os outros factores", refere, sendo que "uma boa alimentação é essencial para uma boa saúde mental".
O estudo do King’s College London foi feito com um grupo de crianças dos anos 90. Os investigadores compararam 83 crianças problemas comportamentais persistentes com 81 crianças com níveis baixos de problemas comportamentais de forma a avaliar como a alimentação das mães alterava o IGF2, um gene ligado ao desenvolvimento cerebral das áreas relacionadas com a hiperatividade.
O Dr. Max Davie, do Royal College of Paediatrics and Child Health, citado pelo Guardian, diz que "as mães com uma pior alimentação tendem a ser mais impulsivas por natureza, têm dificuldade em optar por opções saudáveis e essa tendência hereditária acaba por ser responsável, em parte, pela presença de sintomas de hipertividade nas suas crianças".
Quanto ao paracetamol, depois da análise de quase oito mil bebés, os investigadores dizem que nas mães que consomem o medicamento às 18 semanas existe uma maior possibilidade dos seus filhos desenvolverem problemas comportamentais. Às 32 semanas, o consumo deste analgésico provoca no bebé transtornos emocionais e aumenta a possibilidade de desenvolver sintomas de hiperactividade.
Os investigadores estudaram perto de 8 mil mães, entre 1991 e 1992 inscritas no British Avib Longitudinal Study of Parents, para além das suas crianças e companheiros. Apesar das ligações estudadas entre a hiperatividade e o consumo de paracetamol na gravidez, o diretor do American College of Obstetricians and Gynecologists, citado pelo Quartz, diz que os "os pacientes não devem ter medo dos muitos beneficios do paracetamol" e que "não devem ser alteradas as prescrições médicas até serem realizadas mais pesquisas". O outro autor da investigação, Evie Stergiakouli, em declarações à CNN, garante que o "paracetamol é seguro para ser usado durante a gravidez, deve é apenas ser usado quando é mesmo necessário".
A recomendação dos médicos é no sentido de as mães controlarem a sua alimentação, tendo atenção aos vários factores que condicionam o desenvolvimento do bebé.
A hiperatividade para Linda Serrão "nota-se mais nos rapazes do que nas raparigas". Nas raparigas esta perturbação é "como viver num presente ausente, como se estivessem na lua". Os sintomas da hiperatividade tendem a ser descobertos por volta dos cinco anos. Esta perturbação atinge cerca de 7% das crianças portuguesas em idade escolar. O tratamento do hiperatividade faz-se graças ao recurso de medicação estimulante.
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