No Dia Internacional dos Museus, que hoje se assinala, a ministra Graça Fonseca visitou o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, que reabre hoje com o início das obras de restauro dos Painéis de São Vicente, depois de ter estado encerrado devido à pandemia de covid-19.
Hoje começa a segunda fase do desconfinamento. Na primeira abriram livrarias, bibliotecas e arquivos, e alguns espaços verdes dos museus, “para conseguir começar a trazer pessoas para dentro dos equipamentos”, hoje abrem todos os monumentos e museus do país, exceto o Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto, porque está em obras, assinalou a ministra.
Em declarações aos jornalistas, lembrou que o país vive uma crise “absolutamente inédita”, que teve um “impacto enorme no setor cultural e nos artistas” e que se vai refletir durante todo o ano.
“Vamos ter menos visitantes estrangeiros, o que significa que teremos menos receitas a nível nacional. As estimativas não estão completamente fechadas, mas haverá uma quebra muito assinalável”, afirmou Graça Fonseca.
Como exemplo, referiu monumentos como o Mosteiro dos Jerónimos ou a Torre de Belém, em Lisboa, cujos encerramentos têm um “impacto enorme nas receitas do Ministério da Cultura”.
Este vai ser “um ano atípico e o que estamos a tentar construir é um programa a nível nacional em que museus e monumentos – para alem das exposições, algumas previstas ser inauguradas nos próximos meses, para além da programação já prevista de exposições -, possam ter também uma programação cultural, onde for possível”.
“Há muitos museus e monumentos em Portugal que têm espaços verdes, espaços ao ar livre, e é possível nesses espaços programar desde música, a teatro, leitura. Vamos procurar ter este programa para os próximos meses, para o verão”, antecipou Graça Fonseca.
A ministra salientou que o importante é que as pessoas voltem aos museus com confiança, voltar progressivamente a alguma normalidade, “não tanto na perspetiva das receitas, mas mais na perspetiva de conectar com as pessoas o papel dos museus, dos monumentos e de outros locais”, fundamentalmente para trazer mais pessoas e dar algo “fundamental que é participar culturalmente em todo o pais”.
A abertura do MNAA fica marcada pelo início dos trabalhos de restauro dos Painéis de São Vicente – seis painéis atribuídos a Nuno Gonçalves, que se estima terem sido elaborados entre 1470 e 1480 e que foram descobertos no final do século XIX.
Rodeados e protegidos por uma espécie de aquário em vidro, dentro do qual os técnicos vão estar a trabalhar, vai ser possível assistir ao restauro dos painéis, com a devida distância e segurança.
Esta “casa do restauro” vai estar aberta durante pelo menos dois anos e o diretor do MNAA, Joaquim Caetano, já está a contar com críticas.
Joaquim Caetano lembra que se vive “uma situação anormal”, pelo que este tipo de regras têm de ser cumpridas, e sublinha, quanto ao facto de o trabalho estar a ser visível em permanência, que não se trata de uma obra qualquer, mas uma “obra fundamental para os povos e para a História”.
Os Painéis de São Vicente são uma das obras mais emblemáticas da História da cultura mundial, como é o caso, por exemplo, de “A Ronda da Noite”, de Rembrandt, que se encontra no Rijksmuseum, em Amesterdão, disse, referindo-se ao quadro que está também a ser alvo de uma operação de restauro de grande dimensão.
“São obras de tal forma simbólicas que congregam a ideia de povo e sentido de História, que fazem delas mais do que simples obras de arte. Além de tratar e preservar estas obras, o museu tem também obrigação de dar informação clara e permanente ao público sobre o que está a fazer com ela”, afirmou Joaquim Caetano.
O restauro dos painéis conta com o mecenato da Fundação Millennium BCP.
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