No domingo, em Erbil, capital do Curdistão iraquiano e feudo do presidente Massoud Barzani, o principal promotor do referendo, as bandeiras curdas eram visíveis em toda a parte, nas ruas, nos carros e nas casas. A maioria das pessoas afirmava que pretendia votar nesta consulta histórica, mas muitos admitiam ter medo das consequências.
Numa conferência de imprensa realizada no domingo em Erbil, Massoud Barzani afirmou que a parceria com Bagdad tinha falhado e apelou na mesma ocasião à participação de todos os curdos na consulta pública.
“A parceria com Bagdad falhou e não vamos retomá-la. Estamos convictos de que a independência permitirá não repetir as tragédias do passado”, declarou o líder curdo.
“O referendo é a primeira etapa para que o Curdistão expresse a sua opinião. Depois, um longo processo irá começar”, acrescentou na mesma ocasião.
Após a consulta, Barzani realçou que os curdos pretendem iniciar um diálogo com as autoridades de Bagdad “para resolver os problemas”, diálogo esse que “pode durar um ou dois anos”.
O líder curdo sempre afirmou que não tinha outra alternativa, além do referendo, para garantir a salvaguarda dos direitos dos curdos do Iraque, que representam cerca de 20% de uma população de 37 milhões e que têm enfrentado décadas de repressão.
A região do Curdistão só adquiriu o estatuto de autonomia ‘de facto’ após a primeira Guerra do Golfo, em 1991, e a oficial após a segunda Guerra do Golfo, em 2003.
Também no domingo, e em reação às declarações de Barzani, o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, afirmou que o Iraque irá tomar “as medidas necessárias” para preservar a unidade do país.
“Tomar uma decisão unilateral que afeta a unidade do Iraque e a sua segurança, bem como a segurança da região, com um referendo de separação é contra a Constituição e a paz civil”, disse o chefe do governo iraquiano durante um discurso transmitido pela televisão.
“Tomaremos as medidas necessárias para preservar a unidade do país”, acrescentou Haider al-Abadi, sem dar mais detalhes.
Uma das primeiras medidas de retaliação veio do Irão que, 24 horas antes da realização do referendo, proibiu todos os voos com o Curdistão iraquiano a pedido de Bagdad. Forças iranianas também iniciaram manobras militares no noroeste do país, perto da fronteira com o Curdistão.
Na sexta-feira, o Conselho de Segurança Nacional da Turquia classificou o referendo curdo como uma “ameaça à segurança nacional” e alertou para eventuais consequências.
“A Turquia reserva-se todos os direitos que resultam dos acordos internacionais e bilaterais, se o referendo se realizar, apesar de todos os nossos avisos”, segundo um comunicado do órgão.
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